SPFW N.48 | Cavalera
17.10.19 | Semanas de ModaAlberto Hiar veio do cenário musical efervescente da década de 90 e com o propósito de criar uma marca que vendesse muito mais um manifesto do que apenas roupas, fundou, em 1995, junto com Igor (então baterista do Sepultura) a Cavalera. Desde então, a marca é uma das mais aguardadas da semana de moda de São Paulo e já promoveu desfiles memoráveis durante o evento. De lá para cá, a Cavalera já passou por diversas mudanças, mas sempre se mantém atualizada e capta questões sociais importantes de cada período, o que faz com que suas roupas não sejam simplesmente roupas, mas uma maneira de contestação.
Batizada de “skate, punk, Jamaica no País do futebol”, a coleção trouxe casting de gêneros, corpos e orientações diversificados e composto em sua maioria por modelos negros. O desfile tem início com Seu Jorge falando sobre as estatísticas de morte da população negra por arma de fogo. Em seguida, dançarinos adentram à passarela e, após uma breve apresentação, se colocam sentados em frente à primeira fila, mostrando de quem realmente é o desfile – jovens, em sua maioria negros e periféricos, estigmatizados pela sociedade de padrão branco e com poucos ou nenhum privilégio. Emerson Timba e Leo Bronks são stylists desses mesmos jovens que encontraram no funk uma esperança de respeito ascensão social. E são eles que assinam essa coleção da Cavaleira, cheia de ironia, questionamento e inclusão. O futebol foi escolhido como uma das referências da coleção justamente porque a sociedade pré-julga que este é o único instrumento de mudança para um jovem negro. Não é. E a Cavalera chega com esse desfile para arremessar as mudanças sociais em nosso peito, ou seja, elas estão acontecendo e vão continuar a ganhar força, quer você queira ou não. Muito mais do que moda, a Cavalera vende um estilo de vida que conversa com as novas gerações (livres de rótulos, empática e questionadora) e que protesta frente aos aspectos dos tempos anuviados em que vivemos.
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