Aconteceu ontem em Roma o desfile da coleção cruise 2020 da Gucci. Quem acompanha o trabalho de Alessandro Michele, designer da marca desde 2015, sabe que sua paixão por outras épocas e que a influência das artes em suas manifestações criativas são os pilares que fizeram da Gucci uma das marcas mais valiosas e influentes da atualidade. A escolha de uma das cidades mais antigas do mundo para a apresentação da noite passada, portanto, não foi à toa. Passado, presente e futuro coexistem em Roma de forma que se completam sem perder a importância individual que carregam, assim como as criações de Michele. Além das bases já conhecidas dos desfiles da Gucci, pautas atuais e necessárias foram levantadas pelo estilista, que fez desta coleção uma verdadeira consagração às liberdades de ser, fazer, poder e principalmente, de escolher. O indivíduo como ser supremo de suas direções, a essência externalizada através da imagem, a fluidez dos gêneros e o enaltecimento da singularidade, tudo aquilo que nos faz únicos e belos foi explorado no desfile da Gucci, que veio diversificado e contemporâneo como sua proposta original. A genialidade de Michele está em cada detalhe das suas criações. Aflito com as notícias recentes sobre a restrição da liberdade reprodutiva de mulheres em diversas cidades dos Estados Unidos, o estilista alterou e adicionou novas peças ao desfile, que nos faziam pensar e trazer à tona discussões urgentes sobre nossa liberdade de escolha. Na onda populista e conservadora que tristemente vem avançando sobre o mundo, Michele nos convida à inquietude de seus próprios pensamentos e ao mesmo tempo nos conforta quando enaltece a beleza de se reconhecer em suas singularidades e de se sentir em casa na própria pele.

A mensagem aqui é clara: sigamos únicos e acolhidos em nós mesmos, mas alarmados ao menor sinal de qualquer ato que negue ou mesmo encolha nossa liberdade.