Verão 22/23 – Sobriedade que destaca
27.05.22 | Moda moda pra pensar Semanas de Moda
Num primeiro momento pós-pandêmico presenciamos um fenômeno estético que já esperávamos devido ao tempo em que passamos confinados por conta ao isolamento social: o look escapista. Em que pese o conforto ter se tornado uma característica primordial para as nossas escolhas de vestuário conforme a vida voltava ao “normal”, vimos que muitas coleções e muitos consumidores se voltaram para o movimento do exagero visual, da ousadia, da experimentação e estabeleceram novos laços com seus armários no sentido de ampliar suas possibilidades sobretudo por dois motivos: saudade do vestir para sair e incertezas sobre o futuro. Desse contexto, vimos surgir outra forma de manifestação visual tão relevante, grandiosa e esteticamente marcante quando a primeira: a linguagem sensual pura. Os códigos sensuais tão excluídos pela moda e colocados em um lugar de vulgaridade se tornaram uma representação de liberdade do corpo por muito tempo escondido devido ao receio do toque, da contaminação, da exposição. E é claro que com movimentos tão acentuados pelo exagero é de se esperar que caminhos opostos sejam tomados para que os mecanismos de criação do desejo da indústria da moda continuem alcançando o maior número possível de consumidores. Aqui, o que destaca é a sobriedade. Mas não estamos falando de um visual clássico pontuado pelos conceitos básicos de discrição. Esse movimento se configura pela modéstia não óbvia, pela impressão de discrição ao primeiro olhar que se esvai quando lançamos uma observação mais profunda aos detalhes que enobrecem o visual. São looks sobretudo monocromáticos ou compostos de tons tradicionais e que sugerem sofisticação, mas que formam uma elegância não engessada. “Easy chic” é o que expressa essa narrativa. É a simplicidade que se sobressai em um feed repleto de produções ultra chamativas e que gera impacto pela nobreza dos materiais misturados com a naturalidade das peças artesanais, pelos volumes que promovem a liberdade de movimentos e se comportam como uma extensão da nossa silhueta e pela sofisticação despretensiosa que torna inevitável não parar para observar mais a fundo. Simples, porém não trivial. Sofisticado, mas sem soberba. Rico, mas longe de ser elitista ou ostentoso. Em tempos de saturação visual, vibrações mais tranquilas são indispensáveis para o nosso equilíbrio e os pés no chão.
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