the HOT ones

24.04.24 | Moda moda pra pensar


 

A famosa classificação trimestral do portal Lyst foi divulgada hoje, tendo a Miu Miu como a marca mais importante do mundo, seguida pela Prada. Na verdade essa classificação não nos causa surpresa, já que ambas as marcas figuram nas primeirsa posições do ranking já há algum tempo. Afinal, Prada e Miu Miu são fenômenos que têm grande apelo comercial e digital em consumidores de todas as faixas etárias. A classificação das marcas mais importantes do mundo feita pela Lyst leva em conta o comportamento dos consumidores em sua plataforma, como buscas e compras efetivas, além de estatísticas de engajamento nas redes sociais a nível global. Assim podemos imaginar o impacto das marcas no mercado, que não fica restrita a uma performance unicamente digital ou a um público específico. Além disso, colaborações, campanhas com figuras que geram interesse, o comprometimento cultural e as diversas coleções especiais com nomes importantes ou envolvidas em pautas relevantes, como a sustentabilidade – a Miu Miu, por exemplo, lançou recentemente a coleção Miu Miu Upcycled, com peças produzidas a partir da reciclagem de descartes têxteis, para comemorar o ano-novo chinês – ajudam a colocar ambas as marcas no topo de relevância. Com um design único, peças que rapidamente se tornam virais e um toque de despretensão, a Miu Miu ocupa, novamente, o primeiro lugar do ranking da Lyst e também emplaca, pela primeira vez na história do portal, três produtos na lista dos dez itens de maior busca no período. O que explica, inclusive, uma das estreias no ranking das 20 marcas mais importantes deste primeiro trimestre.

 

 

New Balance no Radar
Estreando na décima quinta posição está a veterana New Balance. A marca fundada em Boston em 1906 tem a estética esportiva como principal narrativa de seus produtos, mas a expansão de ofertas, a exploração de novos designs e colaborações relevantes fizeram a marca debutar na lista das mais importantes do período. O programa “Reconsidered” permite que os consumidores troquem seus tênis antigos por modelos novos com consideráveis descontos, o que impulsionou as vendas da marca. Além disso, colaborações com a marca cool de street wear nova-iorquina Aime Leon Dore e o lançamento de um modelo loafer em parceria com o estilista japonês Junya Watanabe impulsionaram o interesse na marca. Mas certamente o que contou muito para a menção à New Balance foi a colaboração com a Miu Miu em um tênis que foi desfilado na temporada spring 24 de Paris e se esgotou em poucas horas quando disponibilizado para venda. Não à toa, o modelo figura no topo da lista dos 10 itens mais procurados no primeiro trimestre deste ano.

 


 

A importância dos acessórios e das celebridades
Figurando no quinto lugar do ranking está a Saint Laurent, que pela primeira vez ocupa o top 5 da lista. A ascensão da marca ocorre frente ao meteórico interesse por seus óculos do modelo Panthos (que se encontra na décima posição dos produtos mais buscados no período) e na bolsa Le 5 à 7, usada recentemente por Hailey Bieber e pela atriz Laura Harrier, mostrando que celebridades ainda têm muita relevância para gerar interesse e influência.

 

 

Outra marca que estreia na lista é a Alaïa, especialmente pelos mais recentes desfiles de coleções muito elogiadas e por dois modelos de calçados que estão constantemente esgotados, fazendo com que o desejo dos consumidores sobre estes itens seja sempre renovado: a fishnet flats e a Jewelled Ballet Flats. Os modelos são modernos, inusitados e estão em harmonia com o atual movimento que se volta para a estética do Ballet. Campanhas com a modelo Gisele Bündchen e peças usadas por celebridades do peso de Zendaya, Ariana Grande e Kaia Gerber reforçam o interesse na marca e garantem seu nome na lista das mais importantes deste primeiro trimestre.

 



 

Para acessar a lista dos completa das marcas e dos produtos mais buscados do primeiro trimestre de 2024, clique aqui

razão acima da emoção: a relação entre o ILUMINISMO e as dinâmicas visuais da temporada FALL 24

02.04.24 | moda pra pensar Semanas de Moda Tendências


 

O iluminismo é um movimento filosófico que defende a racionalidade, a ciência e a livre forma de manifestação religiosa e de expressão. Surgido na Europa no Séc. XVIII, esta corrente visava questionar os governos absolutistas e os privilégios da monarquia e se alastrou pela Europa e América do Norte vindo a influenciar a Revolução Francesa e a Revolução Americana pela independência. Para além dos desdobramentos históricos específicos e aprofundamento nas diretrizes desse movimento, aqui podemos fazer uma relação com as principais manifestações visuais da temporada fall 24, apresentada no mês passado, com a racionalização pregada pela corrente iluminista. Quando o movimento começou a ter forte influência no Séc. XVIII, também teve alcance na moda da época. Afinal, moda sempre foi sobre a materialização do espírito do tempo a após a revolução francesa e o forte embate quanto aos privilégios da coroa e da igreja, o estilo Rococó que era dominante no período não faria mais sentido. Houve a ascensão de uma estética mais igualitária, onde diferentes classes sociais se vestiam de maneira menos formal e mais simples, com predileção por tecidos naturais e modelagen fluídas, já que o que contava não era a riqueza visual, mas sim o conhecimento e a razão. Aqui não podemos ignorar que o iluminismo foi um movimento que pregava o liberalismo, o livre comércio, portanto, uma corrente burguesa que pregava menos influência do Estado nas práticas mercantis. E foi justamente o que ocorreu posteriormente, já que os burgueses comerciantes passaram e se diferenciar por vestimentas mais nobres para criar essa diferenciação da classe trabalhadora. Após a invenção da primeira máquina de fiar denominada spinning jenny, em 1764, a industrialização do tecido mudou todo o cenário dos artesãos que criavam suas peças à mão e esta, na verdade, foi uma das peças principais para o que viria a seguir: a revolução industrial.

 

 

Esse breve apanhado histórico mostra como a corrente iluminista, defensora da razão e da liberdade comercial, influenciou de forma irreversível o desenvolvimento social da época e reflete até hoje nas nossas vidas e também no que vestimos. Se a temporada spring 24 foi sobre um retorno ao romantismo, uma ode à delicadeza e aos conceitos tradicionais de feminilidade, com coleções pautadas na estética da década de 50, no conservadorismo utópico de bolhas privilegiadas e em um visual lúdico e bucólico quase escapista, as apresentações da temporada fall 24 vieram para nos colocar de volta a realidade.

 


 

Não há espaço para muitas fugas e imaginações quando o mercado de trabalho se mostra cada vez mais escasso e exigente. Não há motivo para nos inebriarmos com flores e saias volumosas quando conflitos e crises humanitárias ocorrem em todo o mundo. A estética dessa temporada enaltece o visual de performance. Roupas feitas para trabalhar, peças que engradecem a cultura laborativa, feitas para a realidade, para um dia a dia real e uma pessoal real. Ternos, camisas, blazers, xadrezes, bolsas enormes que comportam nossa vida, cores sóbrias, uniformização.

 

 

Seria essa narrativa influenciada pela razão uma proposta para o progresso, para usar o trabalho e as liberdades individuais em prol do desenvolvimento econômico e social e nível global, ou só mais uma maneira de reforçar a dinâmica do mercado baseada na produção desenfreada e compulsória de bens, de serviços, de conteúdo e de identidade que beneficiam em demasia alguns em detrimento de uma maioria? A temporada fall 24 nos deixa pouco espaço para a imaginação e propõe a era da razão.

 

 

Mas quem se beneficiará de tamanha obediência ao racional desmedido? Ou será que em uma temporada tão “pé-no-chão”, a ideia seja justamente repensarmos o consumo desenfreado? Afinal, se grande parte dos armários já possuem as peças que foram apresentadas, qual o sentido de novas compras? Essa também seria uma maneira de racionalização do consumo, pautado numa forma mais simples e sustentável de adquirir (ou não) mais bens? Fora os aprofundamentos filosóficos ou desdobramentos econômicos práticos da relação entre o iluminismo e a moda, fato é que temos pela frente uma construção visual muito mais próxima da realidade e da racionalidade, mostrando talvez que nossas prioridades possam ser outras que não as roupas que vestiremos no dia. Menos fantasia e mais unicidade, identificação e aproximação, a fim de que nosso desenvolvimento e contribuições sejam mais benéficos para o coletivo do que para o individual. A razão tem lá suas vantagens.

BERLIN fashion week – TECHNO fetish

27.07.23 | Moda moda pra pensar


 

Por aqui nós adoramos olhar as semanas de moda fora do circuito tradicional e inclusive acreditamos que boa parte dos movimentos de moda mais importantes nascem nesses locais. Menos comerciais e criativamente mais livres, fashion weeks menos badaladas nos oferecem olhares singulares e crus de representações estéticas que ainda não ganharam a atenção de grandes marcas ou de consumidores comuns ou podem ainda ser uma revisitação da atmosfera de sua cidade-base, como é o caso de Berlim. Historicamente a capital alemã é aberta para a diversidade, contribuindo para o afloramento da criatividade e manifestações de identidade, especialmente em se tratando de estilo. A cidade, que tem como um dos seus principais valores a inovação e a experimentação, possui uma rica e complexa relação com as artes, com a cultura e com a vida noturna, sendo esta última uma das características que fazem Berlim ser mundialmente reconhecida e um destino obrigatório para amantes e profissionais da música eletrônica. A cena eletrônica de Berlim é lendária e a cidade possui alguns dos principais clubes do mundo. Após a unificação da alemanha com a queda do muro de Berlim no começo dos anos 90, o clima era de festa e anarquia, o que contribuiu para o surgimento de espaços dedicados à celebração da música e liberdade de manifestações pessoais – tanto estéticas quanto sexuais. O campo fértil para o livre-arbítrio corrobora com uma atmosfera fetichista nos ambientes dedicados à música eletrônica e essa estética vem a se tornar uma das principais bases para dinâmica festiva da cidade até hoje. Nas passarelas, essa narrativa foi explorada de maneira quase literal, evocando muito mais uma homenagem a esta importante parte da identidade cultural da capital alemã. Alusões ao universo equestre, materiais densos, corpo à mostra, renda, couro, látex… todos os componentes básicos do manual de etiqueta fetichista foram colocados nestas coleções, sugerindo que nem sempre a inovação é necessária no mercado da moda quando existe um ambiente tão favorável para explorações visuais históricas.

 

LOEWE no topo

20.07.23 | Moda moda pra pensar


 

A espanhola desbanca a Prada do primeiro lugar do ranking da Lyst, que avalia a relevância de uma marca pelo tráfego de pesquisa, engajamento e vendas. Fundada em 1846 como uma marca especializada em artigos de couro, a Loewe tinha entre seus consumidores a família real espanhola e figuras ilustres do mundo das artes, como o escritor Ernest Hemingway e as atrizes Sofia Loren e Rita Hayworth. Nos anos 70 a marca cresceu ainda mais com seus perfumes e após ser adquirida pelo grupo LVMH nos anos 90 sua expansão alçou níveis internacionais. Com a entrada do estilista Narciso Rodriguez em 97, a marca passa a desfilar na semana de moda parisiense, mas foi com a chegada de Jonathan Anderson, em 2013, que a Loewe sofreu uma verdadeira evolução criativa, passando a ser um dos nomes mais fortes do mercado.

 

 

Anderson transformou a trajetória da marca fortemente ligada ao couro ao implementar sua estética conceitual através de silhuetas inusitadas e técnicas artesanais diversas que expandiram o território da Loewe para além da excelência nos acessórios. Mas a mudança da Loewe com a entrada de Anderson não foi apenas visual. O estilista diversificou o alcance da marca ao criar produtos de decoração, fragrâncias com forte apelo ao redor do mundo, colaborações com artistas e profissionais criativos, inclusive com o famoso Studio Ghibli, além de criar o prêmio Loewe Foundation Craft Prize, que dá visibilidade e suporte a artesãos contemporâneos.

 

 

Anderson sempre deixou muito clara suas intenções experimentais nas coleções da Loewe mas foi a partir da temporada spring 22 RTW que o estilista apresentou uma faceta ainda mais moderna em um dos desfiles mais expressivos e aclamados da semana de moda de Paris e talvez um dos mais importantes da marca até então. Por suas mãos, a Loewe se consagra como uma potência criativa das mais relevantes da atualidade. Com uma coleção tão significativa, veio o interesse da internet que, hoje, é uma espécie de santo graal do marketing, capaz de alçar qualquer profissional a níveis instantâneos e inimagináveis de estrelato caso seu trabalho caia no gosto do imprevisível algoritmo e no radar de consumidores com atenções cada vez mais efêmeras.

 

 

Após essa transcendência criativa, as coleções da Loewe se tornaram cada vez mais livres, progressistas e virais. Peças feitas sob medida apareceram em momentos importantes da cultura pop, como o retorno triunfal da cantora Rihanna aos palcos em seu show no Super Bowl e na aclamada Renaissance Tour de Beyoncé. Os calçados de design surreal da marca aparecem tanto nos nossos feeds quanto mais recentemente no seriado And Just Like That… As peças pixeladas da temporada spring 23 que causavam uma espécie de distorção da realidade também se tornaram uma febre. Com sua expressão criativa elevada a máxima potência, Anderson torna a Loewe tão importante pela lógica da atenção, já que seus produtos rapidamente se tornam virais, gerando uma avalanche de buscas e uma constante renovação de interesse. E isso, obviamente, se traduz em lucro efetivo.

 

 

Em uma onda de estéticas silenciosas, luxos discretos e o visual que preza a longevidade, Anderson vem na contramão e oferece opostos abissais dessas narrativas. O luxo da Loewe é se dar ao luxo de causar. Mesmo que a atemporalidade esteja longe de ser seu foco, o estilista ganha pontos pela criatividade unida à esperteza para traduzir as demandas do presente em termos de consumo. Suas criações podem saturar com o tempo (ou não), podem não ser eternas, mas são eficientes para o agora. Não à toa, a Loewe está onde está.

fall 23 COUTURE | quiet luxury na alta-costura

12.07.23 | moda pra pensar Semanas de Moda


 

Alexandre Vauthier, conhecido por seu visual carregado de sensualidade em silhuetas de referência oitentista disse na apresentação de sua nova coleção que o momento não é de opulência. Na Chanel em um desfile apresentado às margens do rio Sena, vimos conjuntos, sobretudos e vestidos que poderiam ser feitos para enquadrarem as imagens mais triviais do dia a dia parisiense. De fato, vimos modelos guiando um cão ou carregando uma cesta de flores, sugerindo que mesmo a alta-costura pode ser feita para o cotidiano (de alguém muito rico, obviamente). Na Dior, Maria Grazia já vem preenchendo essa narrativa da excelência silenciosa há algumas temporadas e nesta coleção, que teve como inspiração as silhuetas de figuras divinas dos gregos e romanos, mais uma vez a estilista mostra a potencia do ateliê da maison através da simplicidade. Afinal, quando nos deparamos com criações que não incitam de imediato uma reação eufórica que se mostra principalmente em peças mais conceituais e escapistas, somos obrigados a trabalhar o olhar e o pensamento crítico para ir além, para se ater aos detalhes, ao caimento, ao acabamento e demais elementos que formam aquele visual.

 

 

O look que abre o imponente desfile da Valentino é uma espécie de revisitação luxuosa da calça jeans de modelagem desprendida com camisa social branca oversized e que trouxe um contraste inteligente com a exuberância do castelo de Chantilly, onde a apresentação ocorreu. A calça com textura que imitava jeans é uma peça de alta-luxo feita em seda e aplicações de centenas de contas, além de uma elaborada técnica de camadas de tingimento para se chegar no azul ideal. Ainda assim devemos levar em conta o conceito por trás de um resultado visual simples, mesmo que o trabalho envolvido na produção daquela peça seja de extrema complexidade. Podemos afirmar que a alta-costura abraçou a estética do longo prazo nessa temporada. Vimos um interesse em roupas formais, que inspiram o cumprimento de tarefas que nos são familiares pela rotina – com a diferença, obviamente, de serem peças feitas sob medida com valores astronômicos. Aqui o recado é que mesmo a cliente mais abastada procura uma roupa que se encaixe na vida real e que também seja eterna não só pela técnica empregada, mas também pelo visual.

 

 

Nada é mais eterno que uma boa roupa feita sob medida. Esse eterno se duplica quando falamos de um design atemporal. Pensando em couture, podemos até argumentar sobre a falta de valor artístico, ou de conceito, ou de criatividade levada ao limite. Mas alta-costura também é posicionamento (nos falamos mais a respeito disso aqui), também é uma forma de se reafirmar como marca, um meio de reforçar a herança e a potência de um nome e, acima de tudo, também é um negócio.

BURBERRY resort 24

29.06.23 | Moda moda pra pensar Semanas de Moda


 

Em sua segunda coleção para a tradicional marca britânica, Daniel Lee demonstra maturidade e até uma certa obsessão ao lidar com os símbolos da Burberry. Afinal, uma marca que está atuante há mais de um século tem uma rica trajetória que deve ser explorada com sensibilidade e inteligência, de modo que não se perca no oceano de referências e demandas atuais. Daniel Lee mostra sua capacidade de unir os laços de passado e presente de maneira harmoniosa e orgânica desde sua atuação junto à Bottega Veneta e na Burberry seu processo de aceitação e adaptação continua se manifestando de forma tanto respeitosa quanto criativa. Nesta coleção o foco principal está na exploração do clássico xadrez Príncipe de Gales da marca. Aplicado dos pés à cabeça em variações de cores pouco vibrantes, a padronagem aparece em dimensões distintas e com uma proposta inovadora ao ser aplicada de forma tradicional na parte de cima da silhueta e sofrer uma espécie de ruído digital conforme nosso olhar desce pelas imagens. Essa distorção traz dinamismo e modernidade a uma estampa demasiadamente tradicional e reforça as intenções do estilista em trazer a marca para o presente sem afetar sua herança.

 

 

Outro símbolo muito presente na história da Burberry é o cavaleiro equestre que aqui foi usado tanto em sua forma literal estampada em maxi-bolsas quanto através de detalhes reproduzidos em estampas e acessórios – como as cabeças de cavalo em ferro chapado adornando as bolsas ou o capacete que se transformou em estamparia de looks completos. A coleção ganha maior dose de delicadeza ao apresentar os florais, movimento que também foi bastante explorado por Lee em sua temporada de estreia. Aqui eles são usados em peças mais fluídas, de materiais finos e que instigam a vida ao ar livre, que é um dos principais pilares da Burberry.

 


 

Muito mais do que o utilitarimo como estética vazia, a coleção é sobre espaços abertos. Chuva, campo, caminhadas, ventanias, fauna e flora. É sobre se integrar com o ambiente sem modifica-lo por completo – uma interessante analogia sobre o próprio trabalho de Lee nas narrativas da Burberry.

 

resort 24 – o visual que sugere PRODUTIVIDADE mostra uma nova abordagem das coleções intermediárias

15.06.23 | Moda moda pra pensar Semanas de Moda


 

As coleções cruise e resort têm um padrão visual muito estabelecido de serem mais escapistas, já que historicamente são roupas que começaram a ser feitas para clientes que fugiam do frio no hemisfério norte para destinos turísticos mais quentes, além de terem um viés comercial forte para permanecerem mais tempo nas lojas. Semana passada analisamos o movimento brutalista que parece ter sido usado como base para diversas marcas, o que se desdobra também nesta dinâmica que vamos analisar agora. Essas coleções feitas originalmente para destinos de férias estão mostrando uma configuração alternativa nesta temporada, sugerindo um visual altamente urbano e minimalista que indica um non-stop da produtividade. É preciso correr atrás do prejuízo pós-pandêmico e se ajustar para incertezas financeiras em um cenário econômico pouco favorável para grandes gastos. Em suma, ninguém viaja! As roupas dessa temporada resort são feitas para um contexto urbano dinâmico, produtivo e funcional, com o office look pontuado pela alfaiataria rigorosa e tradicional, sapatos de bico fino, tons mais profundos etc.

 

resort 24 – o BRUTALISMO como referência estética

06.06.23 | moda pra pensar Semanas de Moda


 

O movimento brutalista na arquitetura surgiu como uma reação aos valores românticos e nostálgicos que não mais faziam sentido em uma Europa devastada pela guerra. Como forma de economia, o contexto estético ficou em segundo plano e cedeu lugar a construções de formas frias, estruturadas e puramente funcionais, afinal, reerguer cidades demandam outras prioridades do que simplesmente um visual agradável. Surgia, assim, um novo estilo arquitetônico que se disseminou pelas maiores cidades da Europa e inspirou diversas construções entre o mundo (entre elas o nosso MASP, de Lina Bo Bardi). Moda e arquitetura têm uma colaboração ampla e de longo prazo e pudemos notar que o brutalismo parece ter inspirado o design e até algumas campanhas nesta temporada resort 24. E isso nos fez imaginar se essa narrativa seria o próximo passo do movimento quiet luxury (a gente não aguenta mais esse termo). Se o luxo modesto é pontuado pela estética do longo do prazo, pelos clássicos atemporais e pelo visual avesso aos excessos, o brutalismo também se encaixa nessas características, mas com a diferença de que aqui entra em cena a funcionalidade. Linhas retas, formas puras e rigorosas, cortes geométricos, unicidade de cor, material, textura e proposta, roupas que cumprem seu exato papel em uma rotina dinâmica, altamente produtiva e com pouco espaço para extravagâncias. Também o momento em que o movimento brutalista surgiu parece se encaixar com o nosso atual contexto social que não nos dá muita segurança para grandes investimentos ou muitas experimentações visuais. As coleções resort, que podem ser uma prévia do que virá na próxima temporada spring em setembro, nos mostram qual será nossos próximos passos não só em termos estéticos, mas também comportamentais e que podem ser traduzidos em segurança, familiaridade e a possibilidade de alta performance adicionada a esta equação.

 

the next big thing: HIKING

28.04.23 | Get Inspired By Lifestyle moda pra pensar


 

Segundo a lista das maiores buscas relacionadas à moda no mês de abril disponibilizada pelo site trendhunter, artigos voltados para o hiking aparecem em ao menos 21 vezes das 100 colocações. Os produtos variam de tênis, palmilhas, relógios, mochilas, casacos e linhas especiais de roupas dedicadas ao outwear. Com a mudança de estações no hemisfério norte é claro que os consumidores querem experiências ao ar livre, mas o fato das buscas serem tão direcionadas ao hiking nos chamou a atenção.

 

 

Buscas repetidas sobre um mesmo assunto demonstram um interesse coletivo sobre um movimento que pode vir a inspirar diversos setores no futuro, como moda, decoração, beleza, acessórios etc. Quando isso acontece as interpretações de um produto ou serviço sobre um tema específico podem ser literais ou servirem como um guia de referência para desenvolvimento de um negócio ou de um conteúdo. O que a elevação do interesse pelo hiking nos diz é que talvez estamos caminhando para uma desconexão virtual e dando lugar a uma conexão real, no caso, com você mesmo, com o ambiente ao seu redor e com as pessoas que te acompanham. Afinal ao caminhar por longas distâncias a consciência sobre o seu corpo e sobre o que acontece a sua volta é tão necessária quanto o que você veste para uma ocasião como essa (que deve trazer conforto térmico, liberdade de movimentos, ser funcional, impermeável etc.). E se este é um movimento que vem crescendo, como isso pode impactar o mercado da moda, da beleza, da decoração e da tecnologia futuramente?

 

 

O fato da caminhada ao ar livre poder se tornar uma macrotendência indica que os consumidores podem estar buscando uma reconexão com o mundo real após tantos anos do virtual que impactou de maneira significativa nossos comportamentos como sociedade. Priorizar a saúde mental é outro indicativo de um começo de desligamento parcial das redes, que também nos trazem angústia, comparação, ansiedade e falta de foco. E como essa narrativa chega na moda? Se nessa temporada vimos coleções acenando para a tecnologia que cada vez mais toma conta do nosso tempo (vide as apresentações da Courréges e Coperni, por exemplo) e discussões acaloradas sobre o impacto das inteligências artificiais em nosso dia a dia, na próxima talvez um utilitarismo realmente funcional direcionado para um estilo de vida mais conectado com o ambiente que nos cerca com um consequente afastamento saudável dos meios virtuais seja um contexto possível. Vamos acompanhar os próximos capítulos.

a PRADA é o momento (e a gente explica por que)

27.04.23 | Get Inspired By moda pra pensar


 

Pela segunda vez consecutiva a italiana Prada encabeça a lista das marcas mais importantes do mundo segundo a Lyst. O crescimento comercial milionário, os números relativos às buscas e o engajamento nas redes sociais só corroboram com esse fato. Miuccia é o momento. Mas porque a Prada é tão hot? Desde que Miuccia assumiu a marca nos anos 70, a Prada se tornou referência de um luxo inquieto. A estética da marca é reconhecida por transformar itens considerados clássicos e dentro dos clichês antiquados de elegância em algo que soa quase estranho aos olhos. O tradicional pelas mãos de Miuccia se envereda por um caminho visual um pouco mais disruptivo, mas não tão dramático. A marca, afinal, não é reconhecida por escapismos mirabolantes, tampouco por seguir uma cartilha de tendências, mas sim pela personalidade. O chic da Prada é torto, cheio de singularidades e de expressão subjetiva.

 

 

A subversão estética da Prada não é tão evidente quanto a que vemos em marcas mais contemporâneas, como Acne Studios ou Vaquera, por exemplo. Aqui o statement é dado silenciosamente, mas é impossível ignorá-lo. Se está na passarela da Prada, melhor prestar atenção. A revolução visual da marca vem muito mais como um estado de espírito do que em formatos preestabelecidos de se fazer um circo pegar fogo. Conformismo não faz parte de sua natureza e é assim que sua moda se torna inquieta. Nos anos 80, no auge do movimento yuppie quando as mulheres no mercado de trabalho se vestiam de uma maneira muito formal e seus acessórios acompanhavam essa narrativa, Miuccia criou uma mochila feita em nylon (material até então estranho às marcas de luxo) que ia na contramão de todo esse visual mais clássico e engessado que a essência de Miuccia repudia com veemência. O mesmo material passou a ser usado em roupas nas coleções dos anos 90 e a Prada decretou um novo conceito de luxo que, segundo Miuccia, poderia ser abstrato. As estampas que fogem da obviedade, as cores que ninguém quer usar, os materiais que são impensáveis para uma marca de luxo. Tudo isso contribuiu para a formação do universo “ugly chic” constituído por Miuccia e que se entrelaça muito bem com as expressões de estilo que vemos hoje em gerações mais novas.

 

 

Singularidade em prol da criatividade, clássicos modernos, o twist que vem dos detalhes. No mercado de moda que acompanha esses movimentos comportamentais e visuais, a Prada tem o que é necessário para liderar. A marca se destaca por se distanciar. Enquanto o sexy lidera os contextos visuais de diversas coleções desde a temporada spring 22, a Prada traça o caminho inverso com seus comprimentos midi, suas regatas minimalistas, sua alfaiataria rigorosa e com várias outras distinções que não seguem qualquer relatório de tendência. E isso ocorre desde os primórdios do reinado de Miuccia. Ao gerenciar de maneira tão inteligente os paradoxos do que é considerado bom-gosto, ou do que é feio, transportando essas ideias para um lugar de subjetividade, a Prada constinua sendo relevante por sempre conseguir incitar a novidade, seja em um design, seja em um styling, seja em um ideal.

 

 

Mas não é só a estética que interage com movimentos sociais contemporâneos que fazem a Prada ser o que é. Ações de marketing direcionadas e inteligentes, coleções especiais, o flerte com as artes e parcerias certeiras colocam a marca cada vez mais em evidência:

– desde 2015 estabelecida em um antigo complexo industrial, a Fondazione Prada promove exposições de arte contemporânea e é uma das maiores instituições de arte privadas do mundo;

– a criação de 36 lojas pop-up em 2018 alavancou as vendas do grupo e colocou a marca de volta ao radar dos consumidores;

– coleções especiais são direcionadas a um público e a um momento específico, como a “Memories of Beauty” lançada no começo de 2023 e que celebra o ano-novo chinês e a “Parallel Harmonies” dedicada ao Ramadan, período do calendário islâmico onde os muçulmanos praticam uma purificação intensa através do jejum;

– no primeiro desfile pós-pandêmico que ocorreu na temporada spring 22, a marca realizou uma apresentação simultânea em Milão e Shangai representando um senso de comunidade e união, além, obviamente, de focar no exponencial crescimento do mercado de luxo na China que renasceu sobremaneira conforme as politicas de isolamento social foram sendo afrouxadas;

– sem ignorar o fenômeno mundial que é o K-pop, a Prada se associa a nomes influentes do gênero que mobilizam um engajamento de números astronômicos à marca.

 

 

Patrizio Bertelli, diretor executivo da marca e marido de Miuccia, fez uma declaração no passado que pode explicar o sucesso da Prada atualmente: “Estamos sempre empenhados em adequar o grupo à rápida evolução da sociedade e para interpretar o espírito das novas gerações sem perder de vista as nossas raízes”. E é justamente essa construção de futuro com pilares do passado que torna a Prada a maior marca da atualidade.