a temporada SPRING 24 em PARIS | pt.2
04.10.23 | Semanas de Moda
De toda essa temporada que trouxe narrativas ligadas à delicadeza e à ideia de feminilidade clássica, Paris foi a semana de moda que mais se distanciou desses conceitos românticos tradicionais e trouxe uma vertente mais minimalista e contemporânea da ideia de manifestações do feminino. Na Courréges, a alfaiataria ganha modernidade pelos recortes e pelas dimensões amplificadas. As linhas diagonais aplicadas em saias e vestidos, as fendas, os decotes e as golas abertas em um dos ombros são alguns dos recursos usados para deixar sempre uma parte estratégica da silhueta à mostra, o que traz não só dinamismo, quanto uma dose extra de sensualidade à seriedade atrelada aos conjuntos de alfaiataria. A coleção da Givenchy já faz uma leitura mais urbana da alfaiataria através de formas mais angulares, mas a narrativa sensual ainda se faz presente pelo uso da transparência e dos decotes mais aprofundados. Aqui o fator romântico se faz um pouco mais presente, especialmente pelos tons mais suaves e das texturas e estampas mais delicadas. Até nomes que possuem uma trajetória visual mais superlativa vieram com os pés no freio nesta temporada. É o caso da Dries Van Noten, que é conhecida por sua mistura de padronagens inusitadas e que nesta temporada trouxe um visual mais comedido, porém não menos moderno – como já é esperado da marca.
Minimalismo, no entanto, não é o movimento ideal para Rick Owens. O estilista que é conhecido pelo seu design futurista e associado à estética imaginada da vida extraterrestre não saiu de seu campo costumeiro de atuação e trouxe toda a sua visão conceitual à passarela. Nesta coleção, no entanto, conseguimos alcançar um ponto aqui e ali mais comercial. Embora as estruturas de Rick sigam uma linha mais vanguardista, suas calças de cintura altíssima e suas jaquetas arquitetônicas são perfeitamente imagináveis em uma dinâmica do dia a dia. Na Acne Studios, outra marca pautada pela modernidade experimental, vimos essa estética futurista ser levada para um lugar de maior fluidez. Peças esvoaçantes recebem intervenções que trazem as criações para um terreno moderno, fazendo com que o futuro idealizado pela marca não seja assim tão distópico.
O minimalismo também passa longe das passarelas da Rabanne e da Marni. Na primeira, as malhas e as aplicações metalizadas, os drapeados intensos e os artesanais robustos trazem um exagero bem-vindo a semana de moda de Paris. Na Marni, são as formas experimentais e as cores vibrantes que imprimem uma referência artística livre à uma temporada feita de tantas discrições. Barulho, afinal, também faz parte da vida.
Na Dior, misticismo e potência feminina se encontram e se entrelaçam em uma estética que é ao mesmo tempo real e com nuances góticas. O romance repleto de sensualidade trazido por Mariz Grazia Chiuri é inspirado por figuras femininas como Joana D`arc e as mulheres que ficaram conhecidas como as Bruxas de Salém. É uma coleção profunda nas cores, na make e nos acessórios mas que também emana uma beleza delicada especialmente pelo trabalho rústico com as rendas e nos acabamentos imperfeitos.
A escultura Nice de Samotrácia exposta no museu do Louvre e que representa a deusa da vitória, da força e da velocidade na mitologia grega foi a inspiração para a última coleção de Gabriela Hearst para a Chloé. Em peças repletas de textura e movimento, a estilista evoca uma feminilidade plural. A mulher de Hearst pode ser tanto romântica quanto destemida e esse universo se manifesta no movimento dos plissados marcados, na silhueta ovalar utilizada principalmente na parte de cima das peças, que causa uma ampliação do corpo sem perder a naturalidade, nas delicadas rendas, ou na densidade do couro. Aqui vimos a força feminina se mostrar das mais variadas formas.
Olivier Rousteing não é um designer que flerta com o minimalismo e não será em uma temporada majoritariamente minimalista que isso vai mudar. O maximalismo do estilista se converte em formas, texturas e cores superlativas com inspiração principal nas flores que aqui são representadas de maneira literal em aplicações tridimensionais e estampas excêntricas, que vêm junto com modelagens estruturadas, materiais chamativos e combinações de alto contraste. Tudo ao mesmo tempo acontece na passarela da Balmain, que se mantém fiel a sua trajetória independente das tendências do momento.
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