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23.01.24 | Semanas de Moda


 

 

Ao usar como referência as memórias e inspirações da fundadora da maison, Elsa Schiaparelli, o estilista Daniel Roseberry transforma suas coleções em algo visualmente magnífico e conceitualmente mágico, já que sua base no passado é manifestada com um olhar tão futurístico e inovador quanto repleto de beleza. Memórias moldam o trabalho de Roseberry e suas próprias recordações também formam o universo surreal da Schiaparelli. Nesta coleção podemos ao mesmo tempo ter um vislumbre do passado através das inspirações cinematográficas e do uso de apetrechos tecnológicos ultrapassados como adornos e do futuro, com o design contemporâneo e a técnica inquestionável do estilista. Roseberry viaja entre o tempo e o espaço de maneira sublime, sendo capaz de compor uma narrativa com diversos passados – recentes ou nem tanto – mas que se mostram de uma forma muito vanguardista.

 

 

 

A sobriedade destacada pela técnica irrepreensível se tornou um símbolo da alta-costura de Maria Grazia Chiuri. Simples, mas jamais simplória, a coleção foca em uma estética voltada para a feminilidade de referência cinquentista, quase conservadora, mas pontuada por nuances de força encontrada especialmente na paleta mais adulta, nos toques discretos de utilitarismo e na alfaiataria contemporânea que traz uma sofisticação atualizada e potente ao universo delicado e discreto montado pela estilista. Jaquetas acinturadas e estruturadas que fazem alusão aos primeiros modelos desenhados por Christian Dior vêm com a região do busto marcada o que denota a intenção de adicionar sensualidade à coleção, percebida também pelas blusas e vestidos transparentes e pelos decotes acentuados. A densidade necessária para o romantismo predominante da coleção é encontrada nos materiais mais robustos, nos tons profundos, na rica texturização delicadamente ondular de plissados e nervuras e nos bordados tão precisos como arrebatadores aplicados em vestidos imponentes, saias de shape aberto e blusas de manga longa.

 

 

 

O estilista que costuma levar suas referências para um caminho literal e totalmente fantástico em suas criações dessa vez adentra no mundo dos insetos. Mishra reflete sobre a importância desses seres, o fato de que eles habitam a terra há muito mais tempo do que nós e sobre nossa tendência em desprezar ou temer essas criaturas. Libélulas, abelhas, borboletas e besouros são representados de maneira superlativa nas criações do estilista, que ainda usa suas raízes indianas nas formas fluídas de vestidos longos, nos conjuntos de calça e túnica igualmente ricos, nos bordados opulentes e nos turbantes.

 

 

 

Conhecido por seu romance descomedido através de muitas flores e muito tule, o estilista abordou uma proposta um pouco mais madura e densa nessa temporada. No lugar dos tules, o volume característico do seu trabalho foi explorado na seda e os tons vívidos deram lugar à profundidade do preto e à sofisticação dos brancos opacos. Até seus familiares padrões florais vieram com fundo escurecido e a texturização intensa de plumas, pedrarias e intervenções tridimensionais de representações literais de flores e estruturas rígidas trouxeram uma bem-vinda densidade ao repertório do estilista.

 

 

 

Os conhecidos símbolos da maison ganham toques de delicadeza através dos detalhes. Bordados sutis, nervuras precisas, acabamentos em tule e padronagens florais adicionam romantismo à estética majoritariamente urbana enaltecida por Virginie Viard. Os bordados complexos feitos em camadas distintas de tecido formam pequenas flores que estendem visualmente as dimensões de casacos, saias e vestidos e trazem ao mesmo tempo riqueza estrutural e movimentos graciosos. A meia-calça branca usada em todos os looks injeta uma inocência inusitada nas criações mais obscuras, mas também reforça o romantismo das propostas mais femininas. Batizada de “The Button”, a coleção mostra o poder dos detalhes e a atenção especial que a maison aplica nesses pormenores ao longo de sua história.

 

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