GAL e o poder da imagem como expressão de coragem
09.11.22 | Get Inspired By moda pra pensar
Hoje tivemos a triste notícia do falecimento da cantora Gal Costa, aos 77 anos. Gal não era só uma das principais representantes da música brasileira, mas também era um expoente da arte, da cultura e da manifestação criativa livre. É por essa inteligência em saber quem é, de onde veio e em como se expressar, que a cantora manteve sua importância com o passar dos anos, sendo objeto de matérias, livros, cinema (em uma autobiografia que ainda será lançada) e toda sorte de interesse midiático que sempre foi despertado pelo incansável fascínio que gerava. Essa sensibilidade de saber seu lugar e estar desperta para o que acontece em volta – qualidades raras nos dias atuais – fez não só de suas músicas eternas, mas também a sua imagem.
Gal promovia um estilo de vida alternativo, baseado especialmente na ideia de liberdade, de coragem e da honestidade de assumir as diversas camadas que formam um ser, em um período baseado no medo, no cerceamento, na limitação, na demonização das artes – principalmente àquelas ligadas ao feminino – e na repressão de qualquer modelo que fugisse do “convencional” de uma sociedade sob a vigia da ditadura militar. As roupas curtas, os cabelos naturalmente selvagens, os seios desnudos e as escolhas extravagantes que passavam longe da modéstia imposta às mulheres, formavam um conceito de imagem que aos olhos dos ignorantes, dos conservadores, dos retraídos, dos insignificantes e dos medíocres é apenas loucura, vulgaridade, desaforo. Adjetivos que costumam ser atribuídos às mulheres que se expressam firmemente contra o papel que lhes foi imposto, contra um cenário que exige o conformismo.
Mas quem partilha da sensibilidade de estar desperto para o que acontece em volta, enxerga revolução, contestação, coragem, liberdade. Enxerga a força feminina que sabe o que acontece e que sabe o que quer. Enxerga coerência entre a arte e o artista. Enxerga representatividade. A imagem que Gal usava para se colocar contra um sistema opressor, assim como sua arte, são contemporâneas, são perpétuas, já que sempre haverá uma estrutura social para ser desafiada. E isso, no final das contas, é o lado bom de existir a contestação. A coragem de se expressar, seja através da música ou da moda, fez de Gal eterna, parte intrínseca da identidade e da cultura brasileiras. E isso ninguém pode apagar. Talvez a cantora nem tivesse intenção ou nem quisesse ser uma figura de questionamento, mas a naturalidade com que fazia isso acontecer demonstra sua conexão com o que acontecia ao redor. “É preciso estar atento e forte não temos tempo de temer a morte”.
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