FALL 21 RTW | A coleção da LACOSTE e o que esperamos do visual do FUTURO

27.05.21 | Lifestyle Moda moda pra pensar


 

No fim deste mês a Lacoste apresentou sua coleção fall 2021 e deu continuidade à estética esportiva ousada que Louise Trotter, sua diretora criativa desde 2019, vem empregando para ressignificar a rica herança da marca. O visual utilitário comumente associado à Lacoste foi elevado a outro patamar com a chegada de Trotter, que emprega muito de sua própria imagem pessoal para definir essa nova atmosfera da marca, muito mais condizente com os dias atuais. Mas muito além da imagem mais arrojada, a Lacoste vem mostrando criações consistentes e coesas, fornecendo um verdadeiro storytelling aos consumidores e amantes da moda e se adequando ao que esperamos que seja o visual do futuro. Para esta temporada, Trotter refletiu sobre como podemos encaixar uma vida ativa com os compromissos do dia a dia, como trabalho, lazer, estudos, vida doméstica etc. Muito mais do que performance, no entanto, a coleção da Lacoste oferece acolhimento através das formas amplas e dos comprimentos abundantes que sugerem a proteção do corpo através do ato de escondê-lo. Além disso, vem a questão do conforto associado ao desejo do visual montado, com informação, notabilidade, riqueza de detalhes e beleza. É a diferenciação do que nos é seguro e familiar através da descontração de algumas experimentações. Um trench coat opulente ali, uma sobreposição inusitada aqui, um chinelo combinado com meias acolá. É através do traquejo e de um olhar alternativo sobre o armário que se cria o “novo conforto”. O visual proposto por Trotter ainda se diferencia por ser totalmente agênero e sustentável, já que muitas das peças foram produzidas a partir de outros itens e materiais de coleções passadas, o que pesa ainda mais para tornar o ato de se vestir muito mais sobre experiência do que simplesmente uma composição visual.

 

Temporada FALL 21 | era do gelo

23.03.21 | Semanas de Moda Tendências


 

Nós já falamos sobre alguns movimentos de moda que percebemos durante as apresentações da temporada fall 21 e muito do que vimos até agora tem relação com atitudes mais sustentáveis, através do exercício de renovar e otimizar peças já existentes, do resgate de uma atmosfera retrô, que também acena para o ato de voltar a usar algo esquecido, ou mesmo consumir de maneiras alternativas, se voltando para as trocas ou brechós, por exemplo. Também já falamos sobre o movimento da sobrevivência (para relembrar, clique aqui) que aponta para as diversas nuances a respeito do tema, seja através do conforto que remete à segurança do lar, passando pelas referências apocalípticas do cinema, dos games e da literatura, chegando ao visual composto por diversas camadas que sugere a resistência através de uma vida nômade. A exploração das nossas formas tão plurais e subjetivas de sobreviver também engloba encontrar maneiras mais sustentáveis de consumir e ambos os movimentos podem ser inseridos no conceito deste que chamamos de “A Era do Gelo”. Se observarmos o que foi apresentado nessas recentes coleções, veremos uma interpretação dramática do que a moda espera para o futuro, em especial para o inverno que, com base nos looks criados, será implacável. O exagero das camadas, o volume e o peso dos casacos, a utilização de matéria prima que remete à ancestralidade humana (pelos fake em especial) e a proteção do corpo elevada a níveis extremos propõe não só um visual glamouroso e ao mesmo tempo preparado para as temperaturas glaciais, mas também nos convida a refletir sobre a necessidade de se vestir dessa maneira. Será que com nossos hábitos atuais estaríamos caminhando para uma nova era do gelo? As passarelas aqui indicam, num primeiro olhar, o ato de sobreviver a condições extremas, mas também podem ser interpretadas como um apelo para que repensemos nossas posturas para não chegar a este ponto.

 

Monocromáticos TERROSOS

25.02.21 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Os tons terrosos já se tornaram um clássico e ao menos uma peça com essa característica pode ser encontrada nos mais diversos armários. Essa é uma família sofisticada de cores e devido a sua grande variedade de nuances seu uso é bastante versátil, já que todas elas combinam perfeitamente entre si, o que possibilita um maior aproveitamento do guarda-roupas. As apresentações da temporada fall 2021 reviveram os tons, como é de se esperar até pela própria natureza da temporada, mas de uma maneira um pouco mais moderna. Looks monocromáticos são considerados criativos e corajosos, já que dependendo do tom escolhido o visual pode ficar bem marcante. Mas uma produção monocromática feita somente com tons terrosos é capaz de manter essa diferenciação sem, no entanto, exagerar na dose de teatralidade. Muito pelo contrário. Justamente por se tratarem de cores que possuem uma essência naturalmente sofisticada, existe um equilíbrio entre a dramaticidade inerente ao look monocromático e a elegância desses tons. Outra característica que notamos nesse movimento monocromático terroso, é em relação aos materiais das peças que, em sua maioria, são mais densos. Couro, camurça, lâ, pelos, sarja e uma alfaiataria mais encorpada trazem ainda mais modernidade ao caráter tradicional dessas cores.

 

Decorativismo 70’s

18.02.21 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Como você viu na semana passada, nós aqui do escritório já estamos de olho nos movimentos da temporada fall 2021 (caso tenha perdido a primeira análise, clique aqui) e conforme as apresentações vão acontecendo, nós conseguimos captar diversas referências para geramos nossos conteúdos. Dessa vez, com a NYFW acontecendo (mesmo que em grande parte remotamente), percebemos um movimento que enaltece a estética da decoração dos anos 70. Pense nos papéis de parede, na tapeçaria, nos estofados, nas cores e nos materiais que eram utilizados na época para o decor das casas e veja nosso moodboard abaixo que você notará as semelhanças, que também remetem ao próprio design das roupas setentistas. São tons terrosos mais opacos, florais, xadrezes e paisley nas padronagens e texturas mais densas e marcantes, como o jacquard, o veludo, a lã, o jeans e o lamê, aplicados em calças com barras mais amplas, vestidos de comprimento midi, macacões e peças com golas mais fechadas. O visual aqui não faz só uma alusão ao período, mas se mostra quase literal e tem essa atmosfera vintage que se relaciona também com as peças encontradas em brechós.

 


fall 2021 RTW | Sobrevivência

11.02.21 | Moda moda pra pensar Semanas de Moda


 

As apresentações da temporada fall 2021 RTW começaram e já conseguimos perceber um movimento importante que permeou a essência da maioria das coleções até este momento. Sabemos que estamos em um período delicado em diversos setores da sociedade a nível mundial. Questões ambientais sérias, ascensão de um conservadorismo nocivo e limitante, a iminência de conflitos relevantes, instabilidade econômica, violência e, obviamente, uma pandemia. São diversos cenários pouco otimistas que contribuem, também, para que a moda se ajuste a este visual que sugere a sobrevivência nos mais diversos níveis. Ao que tudo indica, o clima otimista que inúmeros designers propuseram na temporada spring 2021 apresentada no final do ano passado foi colocado em modo de espera, ao menos nessas primeiras apresentações. O visual é pós-apocalíptico. Construções e sobreposições extremas indicam a ideia de se usar tudo o que for preciso e de uma vez. A mensagem inicial pode ser de uma vida nômade, onde é necessário carregar consigo o que for essencial para sobreviver, mas se analisarmos a fundo, a ideia é de segurança – usar o que nos remete a um lugar de conforto para manter a sensação de pertencimento onde quer que você esteja. Para captar esse mood, veja as coleções da Lameire, Y/Project e Wooyoungmi. A sobrevivência explorada aqui também faz alusão aos games, como é o caso da Balenciaga, que inclusive lançou um jogo junto com a coleção. A ideia de um mundo dominado pela tecnologia que pode a qualquer momento controlar os passos da humanidade já foi explorada à exaustão pelo cinema e pela literatura e o cenário catastrófico de Matrix, Exterminador do Futuro, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451 e tantos outros também parece ter servido de referência para as coleções da Vetements, Eytys e Rhude. Já na Myar, o conceito é de ressignificação. Os casacos e os calçados que parecem ter sido feitos de última hora apenas com materiais que estavam ao alcance dão um clima pré-histórico ao visual, mas também levantam questões ambientais – reciclagem, upcycling, otimização para um consumo menor, segunda mão etc. Sobreviver também pode ser interpretado como se resguardar. O conforto das roupas típicas da permanência no lar entra neste movimento e pode ser visto nos shootings da Thakoon e da The Row, de clima seguro, familiar e intimista. De maneira concisa, essa atmosfera engloba roupas com características utilitárias, estampas camufladas, styling que cobre o corpo e sugere proteção, tecidos tecnológicos, mensagens fortes que desafiam ideais retrógrados, estética de gênero fluído e peças “para ficar em casa”. Obviamente a ideia de sobrevivência deste movimento é muito mais abstrata (assim esperamos). Esta concepção representa nossas batalhas e nossos modos de resistir de maneira subjetiva – seja enfrentando, seja se retraindo, não existe certo ou errado quando tratamos de sobrevivência.