SPFW N.48 | Projeto Estufa – Lucas Leão

18.10.19 | Semanas de Moda


 

 

O carioca de 27 anos Lucas Leão criou sua marca pensando em transpor as barreiras do senso comum sobre moda. O estilista faz uso de materiais que não costumam ser ligados diretamente ao setor e se vale da tecnologia para criação de estampas exclusivas que promovem efeitos visuais fantásticos em seus desfiles. Integrando o Projeto Estufa desde a edição n. 46 da SPFW, este promissor designer cresce com a intenção de nos fazer repensar sobre consumo e limites antiquados de gênero.

 



 

Em seu mais recente desfile, Lucas manipulou sua coleção a fim de nos apresentar seu ponto de vista sobre as diversas formas de censura que a cultura vem sofrendo nos últimos tempos. A apresentação começa com cores opacas e neutras, que segundo o estilista representam as tentativas de exclusão de movimentos culturais e vozes que não se encaixam em padrões conservadores. Como numa espécie de renascimento, o desfile vai ganhando cores e formas com uma profusão de estampas provocadoras e quase agressivas aos olhos, mas no bom sentido. Aqui a intenção é instigar os sentidos e sair da zona de conforto. A apresentação se encerra com conjuntos compostos de blazer de alfaiataria texturizados colocados por cima vestidos reluzentes com plissado sutil e calça de modelagem ampla. Nesse ponto as cores ganham total vivacidade e representam o sentimento de esperança de prevalecimento da liberdade artística a despeito de todas as tentativas de calá-la.

 



 
fotos: Zé Takahashi

SPFW N.48 | Projeto Estufa – Aluf

17.10.19 | Semanas de Moda


 

 

Criada em 2017 e integrante do Projeto Estufa desde a edição 46 da SPFW, a Aluf – iniciais de sua diretora criativa Ana Luisa Fernandes – nasceu com o proposito de gerar moda através da tecnologia e dos tecidos recicláveis e biodegradáveis. Ana Luiza também se inspirou na arteterapia para criar sua marca. O processo consiste em unir arte e psicologia em diversos recursos de expressão como forma de terapia e foi através dessa sessão de autoconhecimento que a designer teve o insight de fundar sua marca. A Aluf trabalha com volumes e ao mesmo tempo com sobriedade. Sua linha criativa é marcada pelo minimalismo fora do comum, com fluidez nas formas e riqueza de detalhes que interagem de maneira a incorporar o mood mais clean da marca.

 


 

 

Nesta coleção as criações misturaram ângulos e formas orgânicas de modo que se complementavam. Ao mesmo tempo que a estilista investe em peças simples e puxadas para o clássico, inova ao apostar em babados teatrais e proporções inusitadas. Branco, off-white e areia eram os tons principais da coleção, com intervenções esporádicas de um coral reluzente. Variações de xadrezes, muitas vezes usados da cabeça aos pés, apareceram e calças, jaquetas e vestidos. Texturas estofadas sem obviedade foram colocadas em alças, barras de vestidos e mangas. Os volumes foram explorados de forma concentrada, ora no quadril em calças ao estilo harém de amplitude conceitual, ora nas mangas de blusas, camisas e macacões. Ótimos conjuntos de alfaiataria volumosos na medida foram finalizados com complementos atuais, como jaquetas bomber e casacos de textura plástica. Tramas vazadas de ares futurísticos foram colocadas em macacões e vestidos superlativos.

 


 

 

 
fotos: Zé Takahashi

SPFW N.48 | Projeto Estufa – Victor Hugo Mattos

16.10.19 | Semanas de Moda


 

 

Integrando o line up do Projeto Estufa desde a edição n. 46 da SPFW, o estilista Victor Hugo Mattos pode ser considerado um verdadeiro artista em suas criações. Mattos preza pela excelência do handmade, buscando inspirações e materiais em elementos brutos da natureza, o que traz uma atmosfera fantástica ao seu trabalho, em especial nos impecáveis acessórios de cabeça. De olho na sustentabilidade, o designer ainda busca matéria-prima para suas criações em brechós e acervos, o que torna a assinatura de seu trabalho ainda mais peculiar e em consonância com as práticas atuais de reciclagem na moda.

 




 

Nesta coleção Mattos trabalhou suas intervenções criativas em muitas peças tradicionais (garimpadas em diversos lugares), como calças de alfaiataria, blazers, camisas sociais e coletes, que ganharam aplicações em pedraria, franjas, búzios e contas que remetem aos adornos tradicionais das religiões de matriz africana. Telas e redes que formavam camisetas e vestidos dos mais diversos comprimentos injetaram sensualidade à coleção, que explorou a transparência em vários níveis de ousadia. Aqui o trabalho do estilista também parece reverenciar os orixás das águas, em especial pelo adorno de cabeça que complementava um dos vestidos e que lembra bastante àqueles retratados em imagens do gênero. Produções finalizadas com peças metálicas formavam uma espécie de armadura sobre conjuntos de calça reta e camisas fluídas elevando o nível de sofisticação e conceitualismo das composições.

 

 


 

 
Fotos: Zé Takahashi e Marcelo Soubhia

SPFW N. 48 | Projeto Estufa – Korshi e ÃO

15.10.19 | Semanas de Moda


 

 

Criado no SPFW 43, o Projeto Estufa tem como objetivo encontrar e dar visibilidade para novos nomes no mercado que estão repensando conceitos estéticos, meios de produção e formas de consumo de moda. Uma das marcas que faz parte desse projeto é a Korshi, que acabou de se apresentar na SPFW. Criada em 2018, a Korshi inova pelo design inteligente, pensando em roupas que se modificam e podem ser usadas de diversas maneiras apenas com pequenos ajustes. A versatilidade proposta pela Korshi faz com que cada peça seja otimizada por funções estéticas e combinações diferentes, o que, no final das contas, se torna uma maneira eficaz de diminuição de consumo de roupas.

 




 

Tecnologia e sensibilidade para uma estética contemporânea se unem em prol da sustentabilidade – questão urgente e amplamente discutida nessa temporada. Peças tradicionais, como o trench-coat e a saia midi foram repensadas e desconstruídas de modo a transformarem suas funcionalidades comuns, sendo adicionados recortes modernos, elementos de design inusitados e amarrações inovadoras.

 

 

Foi com um conceito de roupas unissex pautadas por cores e volumes que a estilista Marina Dalgalarrondo criou, em 2017, a ÃO. Baseada em São Paulo, a marca possui uma estética moderna, orientada por design excêntrico, texturas tridimensionais e construções modificadoras da silhueta. Suas apresentações são conceituais e unem arte e moda de forma orgânica e muito bem-vinda para o circuito nacional, geralmente mais comedido e comercial. Os volumes teatrais e o styling contemporâneo lembram os trabalhos de Rei Kawakubo e Demna Gvasalia (e nessa temporada ainda tivemos uma nuance de Iris Van Herpen), mas Marina possui assinatura própria e afiada para o futuro, uma visão estética irônica, diversidade honesta e criação habilidosa.

 




 

Nesta apresentação, as criações de Marina continham atmosfera fortemente orgânica e textura ao mesmo tempo fluída e ajustada que fez referência ao efeito da água sobre nossos corpos vestidos. Muito mais do a essência líquida, a ÃO parece ter buscado captar o próprio comportamento da água, caso pudéssemos vesti-la. O efeito ao mesmo tempo belo e impactante foi conseguido através de um hábil trabalho com o látex. Nas cores, os tons terrosos naturais dividiram a passarela com azuis mais suaves e verdes elétricos que trouxeram ainda mais vida à apresentação.

 



 
imagens: Zé Takahashi