Após quase dois anos, a semana de moda de São Paulo retorna em formato quase 100% presencial e com mudanças significativas no que diz respeito ao incentivo de novos talentos, diversidade e produção de uma moda cada vez mais autoral. O caminho é longo, porém irreversível. Vamos aos principais movimentos observados na SPFW 52:
Nesta temporada diversas marcas criaram uma imagem de sofisticação autoral e repleta de brasilidade. Ao mesmo tempo que a estética se mostra polida, o resultado final demonstra um borogodó que só as brasileiras possuem. A linguagem de um estilo clássico traduzido pela alfaiataria, pelas cores tradicionais e pelas modelagens retas ganha audácia por meio de recortes inusitados, pelo jogo de proporções e comprimentos, pelos detalhes artesanais que imprimem uma certa rusticidade ao visual, pelos acessórios despojados e pela atitude despretensiosa que o styling sugere.
Através de movimentos alternativos, como o projeto Sankofa, permitimos que a moda alcance talentos fora do círculo tradicional (e branco) de poder. Nesta SPFW nos deparamos com olhares que vão muito além da estética Rio/São Paulo burguesa e testemunhamos uma (ainda) pequena fração da riqueza cultural que até pouco tempo não fazia parte da bolha da semana de moda paulistana. A diversidade de corpos e raças, a linguagem visual periférica tão marginalizada, as referências orgulhosas nortistas e nordestinas trazidas por estilistas destas regiões (e não simplesmente usurpadas por profissionais do sudeste que insistem em referenciar sem de fato creditar ou utilizar meios propícios de redirecionamento de lucro sob a desculpa da “homenagem”), as inspirações na música negra e periférica, a influência das crenças e religiões de matriz africana, a história de figuras da militância afro. É a moda usada como instrumento político de resistência e ascensão de narrativas por tanto tempo apagadas e ignoradas.
Nesta temporada as dinâmicas visuais ligadas à performance e à funcionalidade ganham vibrações sensuais através do corpo à mostra como tema central do movimento. É a união entre a robustez do utilitarismo e a confiança atrelada à imodéstia.
Peças classificadas como tradicionais, a exemplo de camisas, trench-coats, calças de alfaiataria, tricôs, saias de comprimento midi etc., são revisitadas pelas mãos de estilistas que buscam visões alternativas para a transformação do clássico. Assim, blazers ganham detalhes utilitários, conjuntos de alfaiataria são confeccionados em tons mais vibrantes e recebem ousadia no acabamento ou nos acessórios e itens mais austeros são finalizados com calçados urbanos modernos, tops e peças de complementação volumosas.
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