LFW fall 24 trend report
13.03.24 | Semanas de Moda Tendências
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A semana de moda londrina aconteceu poucos dias depois do falecimento da Rainha Elizabeth II e o momento histórico foi lembrado pela maioria dos estilistas que atualizaram suas coleções a fim de incluir o sentimento deste luto em termos visuais. Em outros contextos, as apresentações parecem ter sido pautadas em oferecer perspectivas alternativas sobre uma peça ou um estilo, nos fazendo imaginar novas formas de construir um visual – a versatilidade não óbvia do jeans, uma outra maneira de se enxergar a narrativa romântica ou mesmo exercer novos olhares sobre aquelas peças que pensamos ser feitas para alguma situação específica. Confira os movimentos de moda que mapeamos nesta temporada londrina.
Sempre que assistimos aos desfiles de uma semana de moda esperamos encontrar algo novo. Seja pela reedição de movimentos passados, seja pela experimentação, fato é que ansiamos por uma representação visual que fuja da trivialidade do ato de vestir para o dia a dia. Mas a verdade é que a moda, muito mais do que oferecer a vanguarda, também é uma maneira de interpretação do presente e embora o conceitual tenha feito parte de algumas apresentações uma mistura considerada óbvia deu as caras em alguns desfiles importantes, o que nos fez pensar sobre a razão de ela estar ali. Estamos falando do combo mais básico, democrático e seguro de todos: calça + regata branca. Ver uma composição destas abrir um desfile de peso como ocorreu com na Bottega Veneta nos intrigou e nos instigou a colocar a cabeça pra funcionar, afinal, nada na moda é por acaso.
Então absorvemos o que está acontecendo hoje. Temos acesso a todo tipo de informação e de uma forma muito veloz. Basta uma simples passeada pelo feed do Instagram para sabermos das últimas novidades direcionadas para todo tipo de assunto. De design à política, passando pelos benefícios de velas aromáticas até as últimas informações sobre a guerra (seja aquela feita pelos homens, seja contra os microrganismos). Consumindo cada vez mais conteúdo, temos também as ferramentas que permitem que essa absorção seja cada vez mais dinâmica. O clique ao alcance, os áudios com velocidade dobrada, corretores de celulares com frases prontas e toda sorte de recursos que disponibilizem o acesso rápido à informação demonstram que estamos vivendo o presente com a urgência de se ter tudo à mão. E este é um look que manifesta essa urgência. Simples, de fácil acesso, inclusiva e versátil, esta é uma composição que pode ser feita às pressas já que não demanda muita ponderação. Afinal, se já temos nossos pensamentos voltados quase que inteiramente para o bombardeio diário de informações diversas que ocupam grande parte da nossa mente e do nosso raciocínio, não deveríamos nos submeter a mais uma preocupação, no caso, o ato de vestir. Além da representação desse estilo de vida baseado na urgência e na catalogação de prioridades, uma base como esta gera possibilidades amplas da criação de novos looks com pequenas mudanças, especialmente no inverno quando os itens de complementação são indispensáveis para o conforto térmico.
E isso é bom ou ruim? Depende. Se essa representação estética significa menos consumo (como mencionamos, é uma base democrática que amplia as possibilidades de complementação e novas manifestações visuais), menos estresse (já que é uma coisa a menos para se preocupar no dia) e uma moda mais acessível (é uma combinação que está ao alcance de todos), podemos considerar que é um movimento bom. Entretanto, se ele existe somente em função de enaltecer esse estilo de vida baseado na pressa e de nos tornar neutros frente essa descarga desenfreada de conteúdo diário (nem sempre de qualidade) o impacto é outro.
De qualquer forma é uma combinação que representa nosso atual momento, de outras prioridades, de outras urgências, de outros conflitos e essa combinação nada mais é do que uma prioridade, uma urgência e um conflito a menos em nossas vidas.
Muito mais do que um visual montado com base no absurdo para chamar a atenção de fotógrafos, as produções vistas em Londres dizem respeito à individualidade. É sobre tirar do armário aquela peça especial, guardada para uma ocasião específica que nunca chega. Os eventos recentes nos fizeram, também, repensar a nossa relação com o ato de vestir. Não é sobre por que usar, mas sim, por que não? Itens carregados de valor sentimental passam a fazer parte da comunicação visual do dia a dia por meio de uma manifestação singular de estilo. Unir peças statement com outras mais básicas ou casuais deixa de ser um simples truque hi-low e hoje se mostra como um exercício alternativo e sustentável de lidar com o nosso armário e, consequentemente, com o nossa imagem. É a criatividade usada com emoção. Roupas e acessórios que contam histórias, de origem familiar ou de meios alternativos de consumo, que possuem o peso e a beleza do tempo ou simplesmente são queridos pela sua forma única ao olhar de quem possui aquele item. É a expressão estética por meio do simples fato de usar tudo o que se tem vontade e como quiser. Liberdade da manifestação de estilo é um dos principais movimentos dessa geração e diz muito sobre as adaptações que a indústria precisa fazer para que seu mecanismo de criação do desejo não se torne obsoleto, já que muito além das tendências, a ideia é usar a moda como instrumento de exploração e vivência do hoje, do agora, sob um repertório totalmente subjetivo.
O circuito londrino costuma trazer aspectos alternativos de construções estéticas, até pelo conceito histórico da moda britânica, que costuma ser o berço de movimentos importantes e decisivos em termos culturais. A sensualidade continua em alta mas dessa vez ganha uma roupagem mais confortável, conseguida através de peças que se ajustam e se comportam como a silhueta. Essa linguagem sedutora também pode ser observada pela retratação de um visual mais obscuro, o que já vinha sendo notado antes das apresentações desta temporada. Desde a mais recente semana de moda de São Paulo até os desfiles alta-costura, o terror tem dado as caras e se consagrado como um grande movimento estético e em Londres esse contexto ganha ares fetichistas e glamourosos. No campo do romantismo, em Londres a tendência se mostra com características subversivas, bem ao estilo britânico de ser. Estampas que causam a ilusão de movimento e o utilitarismo elevado a níveis mais teatrais fecham nossas análises do circuito londrino que nos fornece um repertório interessante em termos de novidades e de novos olhares sobre manifestações de moda que já vinham ocorrendo.
A semana de moda de Londres terminou há pouco e nos forneceu movimentos interessantes para a próxima temporada primavera/verão. Os designers que se apresentaram neste circuito foram categóricos na mensagem do resgate da sensualidade em suas mais variadas vertentes. O estilo foi explorado através do toque sedutor das plumas, da eletricidade do pink, das texturas metalizadas, das referências de subcultura, na estética esportiva e também de maneira dramática, com todas suas principais características colocadas em uma única composição. Outra narrativa bastante utilizada foi a da revisitação do começo dos anos 2000 – o que já vinha sendo observado como uma das buscas mais crescentes nas redes sociais se concretiza para dominar o varejo.
Os tons terrosos já se tornaram um clássico e ao menos uma peça com essa característica pode ser encontrada nos mais diversos armários. Essa é uma família sofisticada de cores e devido a sua grande variedade de nuances seu uso é bastante versátil, já que todas elas combinam perfeitamente entre si, o que possibilita um maior aproveitamento do guarda-roupas. As apresentações da temporada fall 2021 reviveram os tons, como é de se esperar até pela própria natureza da temporada, mas de uma maneira um pouco mais moderna. Looks monocromáticos são considerados criativos e corajosos, já que dependendo do tom escolhido o visual pode ficar bem marcante. Mas uma produção monocromática feita somente com tons terrosos é capaz de manter essa diferenciação sem, no entanto, exagerar na dose de teatralidade. Muito pelo contrário. Justamente por se tratarem de cores que possuem uma essência naturalmente sofisticada, existe um equilíbrio entre a dramaticidade inerente ao look monocromático e a elegância desses tons. Outra característica que notamos nesse movimento monocromático terroso, é em relação aos materiais das peças que, em sua maioria, são mais densos. Couro, camurça, lâ, pelos, sarja e uma alfaiataria mais encorpada trazem ainda mais modernidade ao caráter tradicional dessas cores.
Em alguns de nossos relatórios feitos no período de isolamento social, percebemos que as peças que sugerem a proteção do corpo ganharão cada vez mais espaço no mercado. Durante esta temporada, no entanto, notamos que essa necessidade de proteção ainda persiste, mas pode ser alcançada mesmo com a exibição deste corpo através, principalmente, da transparência. Vestidos longos, mangas compridas, golas altas, sobreposições e demais características que servem neste movimento de proteção corporal são misturadas com matérias-primas leves e cristalinas que permitem a revelação de uma boa parte da silhueta. Abrigada, porém à mostra, é a diretriz do movimento. Vamos pensar o quanto já andamos cobertos. Nossos rostos escondidos por máscaras, nossos corpos protegidos das baixas temperaturas e do contato físico em tempos de risco de contaminação, para as mulheres, a ideia do abrigo que as roupas mais modestas proporcionam contra um eventual cenário de assédio etc. Estas são apenas algumas situações que demandam uma silhueta mais protegida e é absolutamente normal que queiramos contorna-las, na medida do possível, seja em razão de temperaturas mais altas, de ocasiões que nos tentam a um estilo mais sensual, ou apenas para desafiar comportamentos machistas e ocupar espaços com nossos corpos à mostra. O movimento propõe driblar a proteção incondicional da silhueta através da transparência. Olhar o próximo e permitir ser olhado.
Nós falamos na semana passada a respeito do movimento das bolsas gigantescas, que sugere o alcance de tudo que for necessário para tocar a vida profissional e pessoal que andam cada vez mais juntas (caso tenha perdido, clique aqui). Em contrapartida, temos este movimento das bolsas que lembram as capas dos celulares. Seu tamanho diminuto e sua forma estruturada insinuam justamente o oposto: carregar somente o imprescindível. O próprio design da bolsa indica que o aparelho celular é um destes objetos imprescindíveis para o dia a dia. Tudo, afinal, pode ser revolvido através destes objetos e, mais uma vez, vida pessoal e profissional se aproximam ao limite de se fundirem. Perceba que, independente de você ser do time das bolsas giga ou daquelas que se assemelham à capa do celular, o resultado final será sempre o mesmo: ter ao alcance o que torna sua rotina mais coesa e organizada – seja através de uma troca de roupas com direito a mudança de maquiagem, ou apenas de um simples aparelho celular.
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