Moda pra pensar: o que está por trás do combo calça + regata branca

25.03.22 | Moda moda pra pensar Semanas de Moda


 

Sempre que assistimos aos desfiles de uma semana de moda esperamos encontrar algo novo. Seja pela reedição de movimentos passados, seja pela experimentação, fato é que ansiamos por uma representação visual que fuja da trivialidade do ato de vestir para o dia a dia. Mas a verdade é que a moda, muito mais do que oferecer a vanguarda, também é uma maneira de interpretação do presente e embora o conceitual tenha feito parte de algumas apresentações uma mistura considerada óbvia deu as caras em alguns desfiles importantes, o que nos fez pensar sobre a razão de ela estar ali. Estamos falando do combo mais básico, democrático e seguro de todos: calça + regata branca. Ver uma composição destas abrir um desfile de peso como ocorreu com na Bottega Veneta nos intrigou e nos instigou a colocar a cabeça pra funcionar, afinal, nada na moda é por acaso.

 


 

Então absorvemos o que está acontecendo hoje. Temos acesso a todo tipo de informação e de uma forma muito veloz. Basta uma simples passeada pelo feed do Instagram para sabermos das últimas novidades direcionadas para todo tipo de assunto. De design à política, passando pelos benefícios de velas aromáticas até as últimas informações sobre a guerra (seja aquela feita pelos homens, seja contra os microrganismos). Consumindo cada vez mais conteúdo, temos também as ferramentas que permitem que essa absorção seja cada vez mais dinâmica. O clique ao alcance, os áudios com velocidade dobrada, corretores de celulares com frases prontas e toda sorte de recursos que disponibilizem o acesso rápido à informação demonstram que estamos vivendo o presente com a urgência de se ter tudo à mão. E este é um look que manifesta essa urgência. Simples, de fácil acesso, inclusiva e versátil, esta é uma composição que pode ser feita às pressas já que não demanda muita ponderação. Afinal, se já temos nossos pensamentos voltados quase que inteiramente para o bombardeio diário de informações diversas que ocupam grande parte da nossa mente e do nosso raciocínio, não deveríamos nos submeter a mais uma preocupação, no caso, o ato de vestir. Além da representação desse estilo de vida baseado na urgência e na catalogação de prioridades, uma base como esta gera possibilidades amplas da criação de novos looks com pequenas mudanças, especialmente no inverno quando os itens de complementação são indispensáveis para o conforto térmico.

 

 


 

E isso é bom ou ruim? Depende. Se essa representação estética significa menos consumo (como mencionamos, é uma base democrática que amplia as possibilidades de complementação e novas manifestações visuais), menos estresse (já que é uma coisa a menos para se preocupar no dia) e uma moda mais acessível (é uma combinação que está ao alcance de todos), podemos considerar que é um movimento bom. Entretanto, se ele existe somente em função de enaltecer esse estilo de vida baseado na pressa e de nos tornar neutros frente essa descarga desenfreada de conteúdo diário (nem sempre de qualidade) o impacto é outro.

 

 

De qualquer forma é uma combinação que representa nosso atual momento, de outras prioridades, de outras urgências, de outros conflitos e essa combinação nada mais é do que uma prioridade, uma urgência e um conflito a menos em nossas vidas.

 

PFW fall 22 street style | Ir além no conteúdo e no visual

23.03.22 | moda pra pensar Semanas de Moda Street Style


 

Estamos sempre indo além. O mercado de trabalho sempre nos exigiu pensamentos e atitudes fora da caixa e as redes sociais vieram para reforçar esse comportamento. Nos deparamos com um conteúdo e logo a aba do “arrasta pra cima” já está pipocando em nossa tela, nos instigando a ir além do que foi inicialmente apresentado. A geração “swipe up” mostra que é possível ir além não apenas no conteúdo, mas também no estilo. Vimos nas ruas da semana de moda de Paris que um casaco não é só um casaco, que uma calça não é só uma calça e que, de fato, um acessório ou uma cor bem escolhidos criam uma narrativa diversa para se ir além do esperado. São detalhes enriquecedores e interferências inusitadas que tiram qualquer peça do lugar de trivialidade e transformam o visual em um verdadeiro manifesto. Pense em recortes, texturas, tons e elementos de design colocados em contextos inesperados que empurram o estilo para um nível muito mais criativo e arriscado. Observe os detalhes e se permita ir além.

 

PFW Fall 22 | Os principais contextos das apresentações parisienses

16.03.22 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

O circuito de Paris é sempre um dos mais aguardados das temporadas de moda, seja pela tradição, seja pelas apresentações de alguns dos nomes mais importantes da indústria. O que notamos, no entanto, foi uma ausência de inovação, salvo por algumas marcas que já se destacam pela experimentação. Talvez as nossas expectativas tenham sido um pouco elevadas com esses primeiros desfiles presenciais após o período de confinamento, mas a impressão geral que as apresentações nos causaram foi de prudência – voltar devagar, não mostrar todas as cartas de uma vez. Afinal, é esperado e até recomendado que a moda pise um pouco no freio para absorver todas as mudanças que os últimos acontecimentos globais causaram nos consumidores e talvez seja essa a razão do nosso sentimento de comedimento criativo. O que se viu, além das confirmações de alguns dos movimentos que observamos nos circuitos anteriores, foi principalmente o resgate de estéticas e narrativas vistas há poucas temporadas, como a bota over the knee, os maxi suéteres e a revisitação do estilo gótico. Composições que antes eram descritas como sendo de inspiração no universo da alfaiataria masculina ganham um destaque importante nas passarelas desta temporada e geram um debate acerca da roupa de gênero fluído: ainda é pertinente que digamos que esse visual é de influência masculina? Por que não dizer simplesmente que essa linguagem faz parte de um repertório de vestuário independente de gênero? Afinal, homens vestem saias e mulheres vestem calças (apenas para citar algumas peças que são rotuladas como masculinas e femininas) e dizer que um ou outro está “vestida de homem” ou “vestido de mulher” nos parece um tanto quanto ultrapassado. Por isso escolhemos dar a esse movimento o nome de “power dressing”, inspirado pela tribo dos yuppies dos anos 80 (tanto faz se homens ou mulheres) que carregavam uma imagem corporativa marcante pelas características do período. No âmbito dos movimentos que surgem de pautas contemporâneas, temos uma evolução do contexto de proteção que despontou em função da pandemia – antes caracterizado pelas roupas que escondiam e protegiam a silhueta do toque, hoje inspirado pelos esportes radicais – e também a revitalização de algumas peças do armário que ganham novo fôlego através de interpretações alternativas para sua função original, indicando uma preocupação com questões sustentáveis.

 

PFW S/S/ 22 – os conceitos dos desfiles que encerraram a semana de moda de paris | pt.2

14.10.21 | Look da Paula Moda Semanas de Moda


 

Mais uma temporada encerrada e aqui também finalizamos as análises iniciais sobre os movimentos, os conceitos e as estéticas que cercaram as apresentações de NY, Londres, Milão e Paris. Muita coisa mudou após o período turbulento que enfrentamos (e ainda estamos enfrentando)? As temporadas passadas que se deram no meio do período crítico da pandemia nos indicaram que sim, que a moda sofreria alterações significativas a fim de se tornar algo mais perto da inclusão, da ideia democrática, da sustentabilidade, da responsabilidade social e emocional e mais longe do papel elitista e opressor em diversos sentidos. Mas esta temporada nos mostrou que a moda ainda está um pouco longe de cumprir com efetividade a sua função social. No direito, o princípio da função social abrange não somente os interesses privados, mas também coletivos e garante que as relações jurídicas cumpram certas regras a fim de prevaleça o bem comum e a redução nas desigualdades sociais. Muito progresso já foi realizado, mas parece que nesta temporada voltamos algumas casas no jogo da vida. Moda também é sonho, escapismo, beleza, mas não pode ser só isso. Ao menos não no sentido estrito destes conceitos. Movimentos que enaltecem os corpos através da sensualidade pura com certeza foram os grandes destaques desta temporada, e do ponto de vista da liberdade feminina, especialmente em tempos onde a nuvem carregada do conservadorismo hipócrita paira sobre o mundo, são mais do que bem-vindos. Mas enaltecer este movimento através de um único padrão magro – esquelético em alguns casos – e previsível, como foi o caso de inúmeras marcas, ainda parece muito distante da mudança ideal que esperávamos que essa pandemia faria acontecer. Desfiles longos e com dezenas de looks também voltaram com força e certamente batem de frente com ideais sustentáveis de consumo. Afinal, precisamos de mais? É certo que a roda da economia precisa voltar a girar, mas insistir em um modelo antiquado de coleções intermináveis e silhuetas padronizadas é um meio eficaz de fazer isso acontecer? Deixamos aqui algumas reflexões sobre como poderíamos, de fato, tornar essas indústria um pouco mais relevante do ponto de vista do cumprimento da função social e abaixo você encontra outras reflexões a respeito dos movimentos propriamente ditos. Moda, afinal, também possui esse viés encantador de representar visualmente um período, de nos fazer pensar a respeito do que foi proposto por um designer através de imagens e de conceitos e de, sim, nos enriquecer culturalmente quando buscamos esses conceitos mais a fundo. A moda não é a vilã, e sim o que fazemos dela.

 

PFW S/S 22 – os conceitos dos desfiles que encerraram a semana de moda de paris | pt. 1

07.10.21 | Moda Semanas de Moda


 

A semana de moda de Paris é uma das mais ricas no sentido de criação de conteúdo. Muitos desfiles importantes de marcas consagradas e apresentações de nomes emergentes fazem deste circuito uma verdadeira fonte de captação de movimentos significativos que servirão de norte para o mercado. Sobre os desfiles que encerraram a semana de moda parisiense, dividimos nossas análises em duas partes para que o conteúdo seja absorvido com mais reflexão e também porque são nos últimos dias que marcas grandiosas costumam se apresentar, trazendo ainda mais informação para o nosso material.

 

PFW S/S 22 – os movimentos dos primeiros desfiles da semana de moda de paris

30.09.21 | Moda Semanas de Moda


 

A semana de moda de Paris começou e já nos trouxe diversas nuances dos movimentos que estão por vir. Até agora (e pelo que também observamos nos desfiles das outras cidades), os anos 80 serão uma das principais referências de estilo, junto com os Y2K e a década de 60, que deu as caras em visuais muito literais de algumas apresentações. Além disso, a sensualidade ligada à libertação do corpo após tantas constrições se consagra como um estilo a ser explorado em seu extremo, sem qualquer pudor. No mais, um sentimento coletivo de renovação através de uma imagem apocalíptica imprime a clara mensagem de que o mundo não é o mesmo e a mudança se manifesta por meio de intervenções potentes que transmitem a energia do renascimento.

 

fall 2021 COUTURE | O street style exuberante que quer enterrar o conforto dos dias de lockdown

22.07.21 | Street Style Tendências


 

Desde o ano passado estamos de olho nesse movimento. Na temporada spring 2021 apresentada no final do ano passado, peças festivas já entregavam que o visual pós-pandêmico seria superlativo. Na temporada resort, a história se repete. Cores solares, texturas brilhantes, styling exuberante e formas dramáticas confirmavam a tendência. Nesta semana de alta-costura vimos que o luxo e seus códigos clássicos foram potencialmente elevados pelos estilistas e o street style da temporada (a primeira com diversos desfiles presenciais após longos meses de confinamento e apresentações digitais) buscou enterrar de vez o conforto aplicado aos nossos looks nos dias de lockdown. Com as pessoas voltando a ocupar as ruas no hemisfério norte, um evento como a semana de alta-costura foi o momento ideal para que todas as prodigiosas ideias de styling e todas as roupas adquiridas impulsivamente durante o isolamento fossem merecidamente vistas. A modéstia e a casualidade dão lugar a uma estética mais bem construída e rica em detalhes que sugerem abundância e otimismo para o que está por vir. Para esquecer de vez o moletom no fundo do armário.

 

Temporada FALL 21 | era do gelo

23.03.21 | Semanas de Moda Tendências


 

Nós já falamos sobre alguns movimentos de moda que percebemos durante as apresentações da temporada fall 21 e muito do que vimos até agora tem relação com atitudes mais sustentáveis, através do exercício de renovar e otimizar peças já existentes, do resgate de uma atmosfera retrô, que também acena para o ato de voltar a usar algo esquecido, ou mesmo consumir de maneiras alternativas, se voltando para as trocas ou brechós, por exemplo. Também já falamos sobre o movimento da sobrevivência (para relembrar, clique aqui) que aponta para as diversas nuances a respeito do tema, seja através do conforto que remete à segurança do lar, passando pelas referências apocalípticas do cinema, dos games e da literatura, chegando ao visual composto por diversas camadas que sugere a resistência através de uma vida nômade. A exploração das nossas formas tão plurais e subjetivas de sobreviver também engloba encontrar maneiras mais sustentáveis de consumir e ambos os movimentos podem ser inseridos no conceito deste que chamamos de “A Era do Gelo”. Se observarmos o que foi apresentado nessas recentes coleções, veremos uma interpretação dramática do que a moda espera para o futuro, em especial para o inverno que, com base nos looks criados, será implacável. O exagero das camadas, o volume e o peso dos casacos, a utilização de matéria prima que remete à ancestralidade humana (pelos fake em especial) e a proteção do corpo elevada a níveis extremos propõe não só um visual glamouroso e ao mesmo tempo preparado para as temperaturas glaciais, mas também nos convida a refletir sobre a necessidade de se vestir dessa maneira. Será que com nossos hábitos atuais estaríamos caminhando para uma nova era do gelo? As passarelas aqui indicam, num primeiro olhar, o ato de sobreviver a condições extremas, mas também podem ser interpretadas como um apelo para que repensemos nossas posturas para não chegar a este ponto.

 

PFW Fall 21 | os casacos que fazem a diferença

11.03.21 | Semanas de Moda Street Style


 

Na semana passada falamos sobre o street style da semana de moda de Milão (caso tenha perdido é só clicar aqui) e em como o momento atual impactou nas produções da ocasião, antes marcada por looks extravagantes, conceituais e compostos em sua esmagadora maioria por etiquetas restritas a uma pequena parcela da população. Com as apresentações da temporada acontecendo agora em Paris, notamos que a moda das ruas tem seguido a mesma linha estética mais modesta e desafetada da cidade italiana. A simplicidade nas escolhas das frequentadoras da Paris Fashion Week é evidenciada também pela impressão do exercício de revisitação do próprio armário. O diferencial aqui fica por conta dos casacos. Este item de complementação do visual tem um importante papel de deixar todo o resultado final mais interessante e em muitas vezes se torna o ponto de riqueza, o protagonista do look. E as imagens das ruas de Paris mostram exatamente isso. Houve um resgate dos casacos mais longos que substituem as jaquetas e os modelos médios das outras temporadas. Essas peças, ainda, chegam enriquecidas ou pelas texturas marcantes de materiais robustos, como o couro, o vinil e os pelos fake ou pela distinção do corte e do caimento impecáveis. Seja para deixar o visual mais sofisticado ou impactante, um bom sobretudo, certamente, é um item que pode valer o investimento pela sua capacidade de elevar qualquer produção. Confira:

 

Monocromáticos TERROSOS

25.02.21 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Os tons terrosos já se tornaram um clássico e ao menos uma peça com essa característica pode ser encontrada nos mais diversos armários. Essa é uma família sofisticada de cores e devido a sua grande variedade de nuances seu uso é bastante versátil, já que todas elas combinam perfeitamente entre si, o que possibilita um maior aproveitamento do guarda-roupas. As apresentações da temporada fall 2021 reviveram os tons, como é de se esperar até pela própria natureza da temporada, mas de uma maneira um pouco mais moderna. Looks monocromáticos são considerados criativos e corajosos, já que dependendo do tom escolhido o visual pode ficar bem marcante. Mas uma produção monocromática feita somente com tons terrosos é capaz de manter essa diferenciação sem, no entanto, exagerar na dose de teatralidade. Muito pelo contrário. Justamente por se tratarem de cores que possuem uma essência naturalmente sofisticada, existe um equilíbrio entre a dramaticidade inerente ao look monocromático e a elegância desses tons. Outra característica que notamos nesse movimento monocromático terroso, é em relação aos materiais das peças que, em sua maioria, são mais densos. Couro, camurça, lâ, pelos, sarja e uma alfaiataria mais encorpada trazem ainda mais modernidade ao caráter tradicional dessas cores.