SPRING/SUMMER 2022 | Contato de 3º grau

13.05.21 | Moda moda pra pensar


 

Quando uma situação grave surge e causa impactos a nível mundial – como conflitos, mudanças climáticas extremas, insegurança econômica ou uma pandemia – a moda capta o momento e se adapta de modo que seja relevante e sensível ao presente, mas ainda assim consiga projetar o futuro. Futuro, aliás, é um tema recorrente na moda e já foi interpretado das mais diversas maneiras, mas sempre com uma narrativa que se conecta com o presente. Temos como o exemplo o futuro retratado nos anos 60, que refletia a tecnologia e a corrida espacial através de formas vanguarditas e texturas metalizadas dentre outras características. Já no início do Séc. XXI a profusão de roupas em prata, os strass aplicados à exaustão, os óculos de lentes grandes e coloridas e a atmosfera esportiva e futurista de inúmeros vídeos e eventos da MTV representavam a euforia tecnológica que vinha com a virada do milênio (e também o receio da pane generalizada que os computadores supostamente sofreriam com a chegada do ano 00, o tal do bug do milênio). Em 2021, com um cenário pandêmico grave, a ideia de futurismo vem através do que imaginamos ser uma estética alienígena e isso pode estar relacionado com o fato de muitas vezes buscarmos respostas para situações mais difíceis em assuntos que acreditamos estarem além da nossa compreensão mundana e material, como a astrologia, a religião, a magia e na concepção de vidas fora do nosso planeta. Tudo o que sabemos sobre o tema, outrossim, está ligado a evolução. Tecnologia avançada, estruturas sociais elaboradas, melhorias inimagináveis em diversos campos e desenvolvimento pessoal florescido são apenas algumas das características do que idealizamos a respeito de uma manifestação de vida extraterrestre.

 

 

A representação imagética de um indivíduo infinitamente mais evoluído do que nós, meros terráqueos, pode ser vista na temporada de apresentações das coleções spring 2021 realizadas no final do ano passado. O movimento, portanto, sugere esperança em relação ao futuro, seja através de uma vida melhorada pela tecnologia em diversos aspetos ou mesmo por comportamentos e atitudes evoluídos em razão de tudo que passamos. Outra ideia que o tema alienígena levanta é um pouco menos otimista, mas que também pode se encaixar no nosso atual período: o da extinção em massa. Claro que isso não deve ser interpretado de maneira literal, mas como uma metáfora para nosso renascimento, seja como sociedade ou a nível pessoal. Temáticas apocalípticas e de sobrevivência vêm sendo exploradas pela moda nos últimos tempos já que as circunstâncias econômicas, climáticas, sanitárias e diplomáticas se mostraram um campo fértil para o afloramento de representações estéticas que se harmonizam com um clima global mais inseguro. Aqui, no entanto, o contexto do movimento se dirige muito mais para uma nova maneira de pensarmos e agirmos quando tudo o que estamos passando ficar na história – é a representação da nova humanidade, renascida e renovada através de uma grave crise.

 

 

SPRING/SUMMER 2022 | Bordado Inglês

07.05.21 | Moda Tendências


 

Apesar do nome, o bordado inglês não vem da Inglaterra. Existem relatos que a técnica surgiu na Ilha da Madeira, em Portugal, ou na República Tcheca no Séc. XVI, mas a verdade é que o bordado caracterizado pelas padronagens feitas a partir cortes arredondados e depois costurados em tecidos, se popularizou na Inglaterra no Séc. XIX durante a era vitoriana, especialmente em roupas íntimas e infantis. Com o passar do tempo, o bordado inglês foi ganhando mais abrangência, principalmente por conta da modernização de sua produção que passou a ser feita por máquinas a partir de 1870. Já nos anos 50, a técnica novamente teve seu auge sobretudo depois que a atriz Brigitte Bardot usou um vestido com esses detalhes em seu segundo casamento, em 1959. Desde então, o bordado inglês deixou de ser utilizado apenas em detalhes, roupas íntimas ou enxovais e passou a fazer parte de peças completas o que foi muito bem vindo para o gosto das latino-americanas por conta do nosso clima mais quente. Geralmente associado a um estilo mais feminino e delicado, nessa temporada de apresentações das coleções primavera/verão 2021/22 o bordado foi aplicado em peças de cunho urbano, como camisas, calças e macacões e também ganhou espaçamentos maiores, tornando os orifícios mais visíveis e dramáticos. O movimento de se voltar para técnicas tradicionais de manufatura é algo que acontece na moda há algum tempo, mas que parece ter ganhado força com o advento da pandemia principalmente porque temos o desejo, por vezes inconsciente, de olharmos para algo que nos seja familiar em tempos de incertezas. O processo artesanal causa essa sensação de bem-estar e familiaridade sobretudo por nos remeter à ideia de pequenos trabalhadores, produção familiar, campo, natureza, simplicidade, acolhimento, calma etc. e nós já falamos por aqui sobre como o movimento de reconexão do homem com a natureza vem ganhando força em razão dos tempos atuais (para ver clique aqui). Veja como o bordado inglês será aplicado no próximo verão de acordo com as coleções apresentadas no final do ano passado e se inspire para achar suas peças em locais alternativos, pequenos produtores etc. o que tona a história das suas vestes muito mais rica.

 

 

S/S 2021 VII – Naked Look

30.10.20 | Look da Paula


 

Em alguns de nossos relatórios feitos no período de isolamento social, percebemos que as peças que sugerem a proteção do corpo ganharão cada vez mais espaço no mercado. Durante esta temporada, no entanto, notamos que essa necessidade de proteção ainda persiste, mas pode ser alcançada mesmo com a exibição deste corpo através, principalmente, da transparência. Vestidos longos, mangas compridas, golas altas, sobreposições e demais características que servem neste movimento de proteção corporal são misturadas com matérias-primas leves e cristalinas que permitem a revelação de uma boa parte da silhueta. Abrigada, porém à mostra, é a diretriz do movimento. Vamos pensar o quanto já andamos cobertos. Nossos rostos escondidos por máscaras, nossos corpos protegidos das baixas temperaturas e do contato físico em tempos de risco de contaminação, para as mulheres, a ideia do abrigo que as roupas mais modestas proporcionam contra um eventual cenário de assédio etc. Estas são apenas algumas situações que demandam uma silhueta mais protegida e é absolutamente normal que queiramos contorna-las, na medida do possível, seja em razão de temperaturas mais altas, de ocasiões que nos tentam a um estilo mais sensual, ou apenas para desafiar comportamentos machistas e ocupar espaços com nossos corpos à mostra. O movimento propõe driblar a proteção incondicional da silhueta através da transparência. Olhar o próximo e permitir ser olhado.

 

S/S 2021 VI – Phone Case

29.10.20 | Look da Paula


 

Nós falamos na semana passada a respeito do movimento das bolsas gigantescas, que sugere o alcance de tudo que for necessário para tocar a vida profissional e pessoal que andam cada vez mais juntas (caso tenha perdido, clique aqui). Em contrapartida, temos este movimento das bolsas que lembram as capas dos celulares. Seu tamanho diminuto e sua forma estruturada insinuam justamente o oposto: carregar somente o imprescindível. O próprio design da bolsa indica que o aparelho celular é um destes objetos imprescindíveis para o dia a dia. Tudo, afinal, pode ser revolvido através destes objetos e, mais uma vez, vida pessoal e profissional se aproximam ao limite de se fundirem. Perceba que, independente de você ser do time das bolsas giga ou daquelas que se assemelham à capa do celular, o resultado final será sempre o mesmo: ter ao alcance o que torna sua rotina mais coesa e organizada – seja através de uma troca de roupas com direito a mudança de maquiagem, ou apenas de um simples aparelho celular.

 

S/S 2021 V – Alfaiataria ampla

28.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Que o conforto foi uma das características de vestuário que mais ganhou protagonismo nos últimos tempos não há dúvidas. Com o período de confinamento e a vida profissional acontecendo de casa, não faria sentido que ao menos uma parte da composição visual não prezasse pelo conforto. A rotina, no entanto, está se normalizando aos poucos e o conforto ainda será um atributo essencial para a edição visual de muita gente, mas de uma forma alinhada com o que se espera de uma produção de atmosfera profissional, por mais informal que seja o ambiente de trabalho. Unindo o aconchego dos tecidos leves e dos volumes amplificados com a sofisticação inerente à alfaiataria, este movimento se enquadra perfeitamente no equilíbrio entre o desejo de liberdade de movimentos e a polidez contemporânea dos conjuntos femininos. As nuances de modernidade ficam por conta dos detalhes: cores delicadas, que sugerem calma e positividade e que geralmente não são usadas na alfaiataria, truques de styling marcantes, materiais nobres de textura reluzente, assimetria etc.

 

S/S 2021 IV – Bright Yellow

27.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

O amarelo é uma cor que muita gente ainda evita em peças de composição principal do look, ainda preferindo apostar em acessórios, bolsas e sapatos no tom. Mas a cor vem sendo vista em diversas variações já há algumas temporadas. Durante as estações mais amenas, o mostarda costuma aparecer mais e na temporada de calor, os tons mais claros do amarelo é que ganham protagonismo, a exemplo da variação que chamamos de butter e se trata de um movimento para o verão 2020/21. Mas para a próxima temporada primavera/verão (aqui no hemisfério sul, em 2022) tons mais vibrantes do amarelo aparecerão não apenas nos detalhes do look, mas nele todo. Seja em peças únicas, como vestidos e macacões, ou conjuntos inteiros e compostos por mais de três peças, o amarelo mais brilhante chega para sugerir otimismo, esperança e energia para seguir em frente – mensagens mais do que bem-vindas para o nosso período.

 

S/S 2021 report III – Engajamento

26.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Um dos principais papeis da moda é refletir o espírito de seu tempo. Portanto, é muito difícil que uma marca que leve essas funções sociais da moda a sério não adeque sua coleção à atmosfera dos acontecimentos. No hemisfério norte temos alguns eventos políticos (a exemplo das eleições dos Estados Unidos) que definirão muitas coisas importantes dependendo do resultado. Convidar o consumidor a refletir sobre o futuro politico de seu País e do mundo, por consequência, é apenas uma das formas de engajamento que encontramos nos desfiles e apresentações recentes, que se valeram de frases ou palavras de efeito para cumprir o papel. Além da conscientização política, palavras de otimismo também são importantes para o momento de inseguranças que vivemos, afinal, moda também é escapismo e inspiração pelo belo.

 

S/S 2021 report II – A vida à tiracolo

23.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Cada vez mais a nossa vida precisa estar conectada. Com a tecnologia fica quase impossível dissociar a vida pessoal da profissional e com as flexibilizações em relação aos locais de trabalho, horários, dress code etc., essa relação fica cada vez mais estreita. Talvez esse seja um dos motivos para que as bolsas da temporada spring 2021 aparecessem em suas formas mais superlativas. Mudanças climáticas, compromissos surpresa e a possibilidade de emendar o trabalho com o lazer são algumas das situações que pedem maior atenção com o que levamos na bolsa, requerendo, portanto, um modelo que se adapte a essa rotina mais agitada, especialmente quando tivermos total liberdade de sair de casa.

 

S/S 2021 report I – Branco Utilitário

22.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Quem nos acompanha há algum tempo já sabe que um dos trabalhos do escritório é elaborar relatórios antecipando os movimentos da moda para as próximas estações. É um serviço complexo, que requer bom olhar, sensibilidade, conhecimento de moda e informação sobre assuntos gerais, até para que possamos detectar o movimento e entender porque ele está acontecendo. Durante essa semana e a próxima nós vamos dar uma amostra de como funciona esse trabalho aqui no escritório e vamos fornecer um pequeno dossiê das microtendências que observamos durante esta última semana de moda. Vamos começar com o movimento BRANCO UTILITÁRIO. Quando pensamos em um visual composto apenas de peças brancas geralmente lembramos da alfaiataria de qualidade dos ternos femininos, do caimento impecável que sempre é requerido nos manuais mais antigos de como usar branco dos pés à cabeça e dos looks infalíveis e sofisticados de verão com peças amplas e fluídas. Quando tratamos de itens ligados ao movimento do utilitarismo – que anda tão em alta já há algum tempo mas principalmente agora neste momento pandêmico – é normal que nos venha a cabeça os tons ligados a estas roupas e acessórios que têm esse mood, como os cáquis, verde-oliva, terrosos, mostarda, acinzentados etc. Mas o que vimos nesta última temporada de desfiles é que o utilitário, geralmente de atmosfera mais densa por conta dos detalhes, ganha suavidade e uma dose minimalista com o branco. As roupas versáteis e que podem sofrer modificações através de bolsos, zíperes, botões, fitas, fivelas e que possuem essa aura aventureira e por vezes militarizada avançam alguns degraus na sofisticação com a adição do branco. Já falamos por diversas vezes aqui que as peças que promovem uma junção de performance e conforto ganharão cada vez mais atenção das marcas e dos consumidores por conta do nosso momento atual, portanto, esse movimento se mostra pertinente pelo design e essência, mas também bem-vindo pela beleza e pelo refinamento que o branco proporciona.