retrospectiva 2022 – os melhores desfiles internacionais deste ano

22.12.22 | Get Inspired By Moda


 

Com o final do ano se aproximando chega a hora de fazermos um balanço sobre os principais movimentos e apresentações que ocorreram no circuito internacional de semanas de moda. Na nossa opinião dez coleções se destacam não apenas pelo quesito inovação, mas também por marcas com identidades muito fortes terem escolhido caminhos diversos, outras por terem apostado na excelência da técnica mesmo em estéticas mais minimalistas, ou mesmo por reafirmar, a cada temporada de maneira distinta, sua herança e trajetória. Confira quais foram os desfiles que mais nos impactaram neste ano.

 


PRE-FALL 23 | early MADONNA

16.12.22 | Moda Tendências


 

As coleções intermediárias costumam ter uma pegada mais comercial, já que são peças que estarão por mais tempo à venda nas marcas. Mas mesmo com essa base menos escapista, as coleções desta temporada têm mostrado um pouco mais de atitude visual, com uma linguagem robusta e voltada para a sensualidade. Antes falamos de uma nova manifestação de feminilidade, que revisita características tradicionais do romântico para uma configuração mais potente e subversiva e é exatamente uma linguagem que também pode ser encontrada aqui. A década de 80 é constantemente revivida na moda e, portanto, uma fonte importante de exploração visual. Após um longo período de reinado dos anos 90 e do começo dos anos 2000, as coleções pre-fall indicam que o oitentismo será o norte estético da próxima temporada outono/iverno, mais especificamente um visual do começo da década, ainda muito influenciado pelo movimento punk e disseminado especialmente pela cantora Madonna em seu início de carreira. Camadas, couro, renda, vinil, elementos de design marcantes, acessorização exagerada e jogos de proporções opostas são algumas das características do visual “early eighties”.

 

PRE-FALL 23 – feminilidade subversiva

12.12.22 | Moda Tendências


 

As coleções pre-fall começaram a ser mostradas e já nos indicam algumas referências que poderemos ver na temporada fall 23 que será apresentada no começo do ano que vem. Aqui podemos notar que diversas marcas apostaram em uma configuração mais urbana e obscura de manifestação da feminilidade. Roupas e acessórios com símbolos românticos sofreram alterações significativas para descaracterizar qualquer vestígio da ingenuidade que geralmente é atrelada a este tipo de movimento. Cores profundas, intervenções drásticas, transparências e nuances fetichistas aparecem para atualizar o conceito de feminilidade para uma narrativa mais potente e sensual. Muito desse movimento tem base na estética gótica, mas a revisitação se moderniza para um visual muito mais anárquico do que histórico.

 

SPRING 23 – as tendências em bolsas que refletem nosso atual contexto

16.11.22 | acessórios Semanas de Moda Tendências


 

Os acessórios, tanto quanto as roupas, são parte importante nas nossas análises de tendências especialmente pelo mercado enorme em que estão inseridos ainda mais se levarmos em conta que são eles que de certa forma democratizam (ainda que dentro de uma bolha) o acesso às marcas de luxo. Nesse sentido fizemos um mapeamento das tendências em bolsas para a temporada primavera/verão 2023/24 que, na verdade, refletem com bastante precisão o nosso atual contexto social e indicam que os comportamentos atrelados a funcionalidade, dinamismo e produtividade, tendem a crescer no futuro, bem como a estética ligada ao universo infantil que já vem sendo observada desde as semanas de moda da temporada passada.

 


GAL e o poder da imagem como expressão de coragem

09.11.22 | Get Inspired By moda pra pensar


 

Hoje tivemos a triste notícia do falecimento da cantora Gal Costa, aos 77 anos. Gal não era só uma das principais representantes da música brasileira, mas também era um expoente da arte, da cultura e da manifestação criativa livre. É por essa inteligência em saber quem é, de onde veio e em como se expressar, que a cantora manteve sua importância com o passar dos anos, sendo objeto de matérias, livros, cinema (em uma autobiografia que ainda será lançada) e toda sorte de interesse midiático que sempre foi despertado pelo incansável fascínio que gerava. Essa sensibilidade de saber seu lugar e estar desperta para o que acontece em volta – qualidades raras nos dias atuais – fez não só de suas músicas eternas, mas também a sua imagem.

 



 

Gal promovia um estilo de vida alternativo, baseado especialmente na ideia de liberdade, de coragem e da honestidade de assumir as diversas camadas que formam um ser, em um período baseado no medo, no cerceamento, na limitação, na demonização das artes – principalmente àquelas ligadas ao feminino – e na repressão de qualquer modelo que fugisse do “convencional” de uma sociedade sob a vigia da ditadura militar. As roupas curtas, os cabelos naturalmente selvagens, os seios desnudos e as escolhas extravagantes que passavam longe da modéstia imposta às mulheres, formavam um conceito de imagem que aos olhos dos ignorantes, dos conservadores, dos retraídos, dos insignificantes e dos medíocres é apenas loucura, vulgaridade, desaforo. Adjetivos que costumam ser atribuídos às mulheres que se expressam firmemente contra o papel que lhes foi imposto, contra um cenário que exige o conformismo.

 




 

Mas quem partilha da sensibilidade de estar desperto para o que acontece em volta, enxerga revolução, contestação, coragem, liberdade. Enxerga a força feminina que sabe o que acontece e que sabe o que quer. Enxerga coerência entre a arte e o artista. Enxerga representatividade. A imagem que Gal usava para se colocar contra um sistema opressor, assim como sua arte, são contemporâneas, são perpétuas, já que sempre haverá uma estrutura social para ser desafiada. E isso, no final das contas, é o lado bom de existir a contestação. A coragem de se expressar, seja através da música ou da moda, fez de Gal eterna, parte intrínseca da identidade e da cultura brasileiras. E isso ninguém pode apagar. Talvez a cantora nem tivesse intenção ou nem quisesse ser uma figura de questionamento, mas a naturalidade com que fazia isso acontecer demonstra sua conexão com o que acontecia ao redor. “É preciso estar atento e forte não temos tempo de temer a morte”.