SPFW 55 | pt.1
25.05.23 | Semanas de Moda
Sempre que uma temporada de moda acaba nós começamos a dissecar todas as camadas que envolvem o mapeamento de tendências e é claro que uma importante fração desse trabalho está na análise das principais cores utilizadas. A paleta, afinal é um dos principais nortes da atmosfera de uma coleção e deve ser pensada para além do show, já que as cores podem ser um fator determinante para o sucesso comercial daquelas criações. Nesta temporada observamos uma presença forte dos terrosos, do bubble gun pink , do vermelho, do lima e dos sempre importantes preto e branco, mas um tom em especial ganhou um verdadeiro protagonismo nas apresentações: o cinza. A presença do cinza em uma temporada repleta de coleções que se voltaram para o mood da atemporalidade, da elegância clássica e da criação sem muitos vieses escapistas é natural até pela impressão de neutralidade que a cor emite e que se harmoniza com as principais narrativas que observamos nessas apresentações.
Mas muito mais do que reafirmar a sofisticação e o eterno, o cinza teve outro papel importante: o de equilibrar a excentricidade de designs experimentais. Vimos a cor ser aplicada (dos pés à cabeça) tanto em conjuntos clássicos de alfaiataria como em peças mais conceituais e também nos stylings mais alternativos e elaborados, trabalhados em camadas complexas, texturas distintas e proporções opostas. O cinza carrega esse histórico de tradicionalismo e muitas vezes leva fama de ser sem-graça. Mas o seu aparecimento repetido nas passarelas indica que mesmo as estéticas mais extravagantes tendem a ser neutralizadas e adaptadas para o principal movimento que vimos nessa temporada, que é o de se voltar para o eterno, para as roupas que nos trazem a sensação de familiaridade, que nos levam para um lugar de segurança. E qual o tom (além do preto e do branco, obviamente) que cumpre de maneira eficaz o papel de reafirmar esses códigos visuais “pé-no-chão”?
Nós sabemos que as coleções de alta-costura não são sobre tendências, mas sim sobre singularidade, sobre arte, sobre escapismo e sobretudo, posicionamento. Mas alguns detalhes não passam despercebidos pelos nossos radares e nesta temporada notamos que diversas marcas prestaram uma atenção especial nas golas das peças que produziram. Se um visual para ser considerado luxuoso e digno da semana de alta-costura precisa entregar detalhes impecáveis além do resultado final propriamente dito, é claro que golas, mangas, decotes, botões, etc. também precisam fazer parte deste universo. As golas, afinal, são um elemento importante do look, já que ficam próximas ao rosto. Portanto, golas elaboradas como foram apresentadas nas passarelas da Dior, Elie Saab, valentino e Armani Privé (que baseou sua coleção na figura teatral das arlequinas venezianas, portanto, o foco nas golas é muito bem-vindo) e outras versões mais estruturadas e discretas, porém não menos imponentes que puderam ser vistas nas coleções da Chanel e de Alexis Mabille, trazem essa riqueza ao resultado final de qualquer peça, seja ela couture ou não. Ter contato direto com essas peças é uma ideia muito longínqua para a esmagadora maioria da população, mas a inspiração é que vale. Prestar atenção nestes detalhes na hora de compor uma produção pode ser o diferencial entre um look mediano e outro com mais informação e, portanto, muito mais interessante.
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