NYFW spring 23 – os principais MOVIMENTOS da semana de moda nova-iorquina

14.09.22 | Semanas de Moda Tendências



 

A temporada spring 23 começou por Nova York e muito mais do que falar sobre peças em específico, nós preferimos mapear a atmosfera dos movimentos de uma semana de moda. Em NY, as tendências giram em torno de um resgate da feminilidade, mas de uma maneira potente – seja pela sensualidade, pela construção mais elaborada de um visual ou mesmo com referências quase literais a uma postura mais combativa. Mesmo as inspirações mais românticas, como as padronagens florais que foram muito exploradas nessa temporada, são trazidas para um lugar de maior dramaticidade ao serem representadas de maneira tridimensional. As saias encurtam (ainda mais), características esportivas ganham refinamento e a sustentabilidade entra em pauta através de criações que invocam a customização e styling que preza pela afetividade.

 

 

MÉXICO spring 23 | a história trazida para o presente

26.08.22 | Semanas de Moda


 

Quem nos acompanha há algum tempo sabe da importância de se olhar para as semanas de moda de lugares que fogem do circuito tradicional. A fashion week do México é um desses eventos que ficamos de olho para entender a moda local e como ela se aplica e se alinha com o mercado global. Embora muito menor, a semana de moda mexicana nos mostra como é possível revisitar a tradição por meio de um olhar contemporâneo e fazer com que a história se junte ao presente. Túnicas, camisas e blusas típicas da estética mexicana se reconfiguram para uma roupagem moderna, menos festiva e mais próxima das demandas de vestimentas atuais que buscam unir conforto e informação de moda. Os vestidos bordados, a padronagem em listras típicas dos sarapes e os ponchos também são revisitados de uma forma mais sóbria, minimalista e global. Até os trajes charro dos vaqueiros e mariachis mexicanos são adaptados para os dias atuais e ganham a cara dos sofisticados conjuntos de alfaiataria feminina. Os babados tão associados à imagem da região vêm mais dramáticos, em formas amplas e desabadas que proporcionam movimento e volume sem perder o tom de romantismo.

 

CFW spring 23 | os movimentos das ruas na semana de moda dinamarquesa

23.08.22 | Semanas de Moda Street Style


 

Geralmente mais sóbria e pautada pelos volumes dramáticos, a imagem do street style da semana de moda dinamarquesa ganhou outras formas nesta temporada. Além da estética tradicional da região, notamos que houve uma experimentação visual maior, pontuada principalmente pelas misturas arrojadas, pelas cores mais vivas e pela forte influência dos movimentos dos anos 2000 e do utilitarismo de viés teatral. Veja quais foram as principais tendências do street style da Copenhagen Fashion Week.

 

Copenhagen SPRING 23 – alfaiataria RECONFIGURADA

19.08.22 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Dando seguimento às nossas análises dos movimentos de moda da temporada dinamarquesa notamos uma narrativa que já é muito exploradas pelos designers escandinavos que é a de propor novas configurações para os conjuntos femininos de alfaiataria. As fashion weeks nórdicas têm essa linguagem criativa de conceder olhares inéditos sobre o que consideramos itens tradicionais. Com a alfaiataria, claro, não é diferente. Nessa temporada, além das modelagens volumosas que já são familiares às coleções escandinavas, temos os recortes extremos, as intervenções que integram técnicas artesanais mais rústicas com a polidez inerente à alfaitaria, acabamentos menos elaborados, vibrações esportivas e linhas diagonais que dão maior dinamismo às peças. Além disso, vimos que o tradicional colete masculino usado em ternos e fraques foi revisitado para integrar o armário feminino quase que em sua configuração original, o que deixa os conjuntos de alfaiataria menos óbvios e mais cool. Bermudas e vestidos também se agregam a essa alfaiataria moderna e contribuem com maior frescor e jovialidade para as peças com essa característica.

 

Copenhagen SPRING 23 – utilitarismo com AFETO

15.08.22 | Semanas de Moda Tendências


 

A semana de moda dinamarquesa começou e já pudemos mapear uma estética muito presente nos desfiles e que representa mais uma atmosfera, uma narrativa, do que uma tendência propriamente dita. O utilitarismo que costuma ser bem explorado pelos designers escandinavos ganhou contornos afetivos na fashion week de Copenhagen através da mistura com técnicas artesanais, ao mesmo tempo que exala modernidade em função das intervenções extremas aplicadas nas criações – como recortes e drapeados bem chamativos. É a tecnologia têxtil se alinhando ao artesanal para criar looks que nos acompanham sem nos privar – seja de movimento, de conforto, de estilo etc. O jogo de opostos trabalhado aqui garante que o visual esteja adequado para qualquer função. Densidade e leveza, tecnologia e manufatura, dormir e sair. É como se encontrássemos o esporte e o lazer, o descanso e o trabalho em um só look. Aqui o artesanal é elevado a um patamar contemporâneo e a tecnologia acena para a sensibilidade criando uma equação visual moderna de afeto + performance. Afinal, somos seres que produzem, mas não somos despidos de emoção; necessitamos do trabalho, mas também queremos diversão; precisamos de agilidade e movimento, mas o descanso é primordial. Essa estética imprime essas necessidades extrínsecas (trabalho, lazer, esporte etc.) e orgânicas (descanso, movimento) em um só look.

 

Analisando a relevância da ALTA-COSTURA

15.07.22 | moda pra pensar Semanas de Moda

Fato: uma marca não se sustenta somente com a alta-costura. Na verdade existem mais gastos do que lucro efetivo em uma coleção dessa natureza. São processos artesanais intermináveis, mão de obra especializada, matéria-prima cara e apenas duas apresentações anuais alguns dos fatores que tornam a alta-costura, por si só, insustentável. A própria nomenclatura alta-costura é legalmente protegida e somente após diversos processos de verificação e cumprimentos de regras determinadas é que uma marca ganha autorização para usar o termo Haute Couture, detido pela Fédération de la Haute Couture et de la Mode (FHCM). Mas se é um processo tão complicado e caro, por que ainda existe? Podemos citar alguns elementos que contribuem para que a HC se mantenha relevante com o passar dos anos e que garantem sua sobrevivência no futuro.

 

 

Segundo Pascal Morand, presidente executivo da FHCM, “couture implica em um alto nível de criatividade, em um alto nível técnico e também um nível absoluto de individualização” (em entrevista para o NY Times de 27/01/2017). Ou seja, basicamente nós transformamos nossa percepção a respeito de uma marca através da alta-costura. O lucro de grandes nomes do setor vem majoritariamente de seu departamento de acessórios e beleza, sendo a HC, portanto, um aceno definitivo para o luxo em um mercado onde a diferenciação é essencial para o destaque e a sobrevivência. A alta-costura, assim, oferece essa oportunidade de evidência adicional. É na alta-costura que uma marca cria emoção, apelo, sonho e gera o desejo muito mais focado em seu “peso” e significado do que pelo que cria propriamente. Couture, portanto, é arte. Mas muito mais do que arte, também é estratégia de posicionamento. Segundo o professor Jean-Noel Kapferer, uma autoridade no setor de luxo e autor de diversos livros sobre o segmento, “a ousadia e a criatividade da alta-costura beneficiarão o setor do ready to wear, pois permite que as marcas estabeleçam preços elevados e assim aumentem sua autoridade simbólica no mercado”. E isso ocorre por causa do efeito “trickle down”, ou efeito de gotejamento. Desde que os seres humanos se vestem além da função de se protegerem e desde que a sociedade se estruturou em um sistema de hierarquia de classes, esse efeito de gotejamento existe na moda. Ele funciona como um mecanismo natural de criação do desejo através da hierarquização das classes sociais. Resumindo: se os mais ricos usam e gostam, eventualmente a massa também vai ser influenciada. Percebe o poder da alta-costura mesmo que ela seja feita para uma clientela tão restrita? O impacto gerado pela HC é refletido em todos os setores de uma marca que, por sua vez, se posiciona, se valoriza no mercado e tem aval para praticar os preços e a estética que bem entende. Outro ponto relevante é o nicho. A HC conversa com indivíduos específicos e privilegiados (muito privilegiados) e é uma ferramenta para que esses mesmos indivíduos se diferenciem. Isso cria uma relação a longo prazo com essa clientela cujo capital não fica restrito somente às criações feitas sob medida. E o crescimento do número de bilionários no mundo em especial nos mercados emergentes amplia a atuação da HC, ao mesmo tempo que ela ainda permanece restrita a um grupo específico.

 

 

E como ela se atualiza? Principalmente com a flexibilização de algumas regras e com a busca de singularidade. Ou seja, mesmo que haja um número obrigatório de looks a serem desfilados para que uma marca consiga ser convidada para a semana de alta-costura de Paris, essa regra pode ser revista caso o estilista tenha relevância, singularidade, apelo e flerte com a inovação, como acontece com a holandesa Iris Van Herpen, que além de poder desfilar menos looks do que a regra da FHCM estabelece, ainda usa a impressão 3-D para produção de suas peças (o que iria contra as regras da federação que exige que as roupas sejam feitas à mão).

 

 

A entrada de marcas mais arrojadas no calendário também contribui para que a curiosidade e a importância na HC se mantenham, como é o caso da Balenciaga, do duo holandês Viktor & Rolf e da belga Maison Martin Margiela comandada por John Galliano.



Algumas marcas que se apresentam nessa temporada também podem chamar a atenção para problemas sérios da atualidade, como no caso da Dior que fez uma coleção inteira dedicada ao folclore ucraniano em colaboração com a artista Olesia Trofymenko ou nas coleções sustentáveis de Ronald van der Kemp que desde sempre atua da maneira a causar menos impacto ambiental possível com suas criações, ao mesmo tempo que entrega um trabalho de alto valor artístico.



 

A HC acompanha o presente e se flexibiliza sem, no entanto, perder seu caráter de exclusividade e acenar para a banalização, o que faria cair por terra toda a estratégia de posicionamento e autoridade das marcas. Hoje, portanto, muito mais do que regras engessadas e expectativas de looks magistrais e impossíveis, a HC é sobre singularidade. É todo um universo a parte que independe de tendências e movimentos sazonais e é justamente por sua sagacidade na adaptação ao presente que a alta-costura continuará sendo relevante no futuro. O relaxamento estratégico de seus códigos e a entrada de novos membros traz dinamismo e renova o interesse pela HC, ainda que o ingresso nesse clube continue sendo muito restrito.

Verão 23 | Dinamismo metálico

08.06.22 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Muito tem se falado no retorno das narrativas estéticas dos anos 2000 e o movimento sobre o qual vamos falar agora é um reflexo muito marcante da época. As malhas fluídas e de efeito metalizado são bem características do período, especialmente em saias e vestidos de comprimento médio, conjuntos esportivos, peças com decote de efeito drapeado e calças de comprimento encurtado – itens que basicamente marcaram o início do Séc. XXI em termos de estilo. As padronagens metálicas aqui se diferenciam pelo dinamismo. São malhas com efeitos espelhado, brilhante e molhado (seja por materiais refletivos, como o lamê e demais tecidos acetinados, pelos fios de lurex ou pelos paetês) que têm a maleabilidade como atributo indispensável para se enquadrar nessa nova proposta de uso dos metalizados. Essa fluidez vem justamente para democratizar e facilitar o uso de materiais brilhantes em contextos menos formais, desmistificando a ideia de que o brilho é desconfortável ou mais apropriado para eventos noturnos. Nos desfiles, podemos ver como o metalizado foi inserido em diferentes conceitos para comprovar sua versatilidade, como no estilo mais sensual visto nas passarelas de Tom Ford e Versace, no romantismo proposto na Dior, na casualidade esportiva de Brunello Cucinelli e Blumarine ou mesmo nas composições mais criativas sugeridas por Isabel Marant e Brandon Maxwell.

 

Verão 22/23 – Sobriedade que destaca

27.05.22 | Moda moda pra pensar Semanas de Moda


 

Num primeiro momento pós-pandêmico presenciamos um fenômeno estético que já esperávamos devido ao tempo em que passamos confinados por conta ao isolamento social: o look escapista. Em que pese o conforto ter se tornado uma característica primordial para as nossas escolhas de vestuário conforme a vida voltava ao “normal”, vimos que muitas coleções e muitos consumidores se voltaram para o movimento do exagero visual, da ousadia, da experimentação e estabeleceram novos laços com seus armários no sentido de ampliar suas possibilidades sobretudo por dois motivos: saudade do vestir para sair e incertezas sobre o futuro. Desse contexto, vimos surgir outra forma de manifestação visual tão relevante, grandiosa e esteticamente marcante quando a primeira: a linguagem sensual pura. Os códigos sensuais tão excluídos pela moda e colocados em um lugar de vulgaridade se tornaram uma representação de liberdade do corpo por muito tempo escondido devido ao receio do toque, da contaminação, da exposição. E é claro que com movimentos tão acentuados pelo exagero é de se esperar que caminhos opostos sejam tomados para que os mecanismos de criação do desejo da indústria da moda continuem alcançando o maior número possível de consumidores. Aqui, o que destaca é a sobriedade. Mas não estamos falando de um visual clássico pontuado pelos conceitos básicos de discrição. Esse movimento se configura pela modéstia não óbvia, pela impressão de discrição ao primeiro olhar que se esvai quando lançamos uma observação mais profunda aos detalhes que enobrecem o visual. São looks sobretudo monocromáticos ou compostos de tons tradicionais e que sugerem sofisticação, mas que formam uma elegância não engessada. “Easy chic” é o que expressa essa narrativa. É a simplicidade que se sobressai em um feed repleto de produções ultra chamativas e que gera impacto pela nobreza dos materiais misturados com a naturalidade das peças artesanais, pelos volumes que promovem a liberdade de movimentos e se comportam como uma extensão da nossa silhueta e pela sofisticação despretensiosa que torna inevitável não parar para observar mais a fundo. Simples, porém não trivial. Sofisticado, mas sem soberba. Rico, mas longe de ser elitista ou ostentoso. Em tempos de saturação visual, vibrações mais tranquilas são indispensáveis para o nosso equilíbrio e os pés no chão.

 

Moda pra pensar: o que está por trás do combo calça + regata branca

25.03.22 | Moda moda pra pensar Semanas de Moda


 

Sempre que assistimos aos desfiles de uma semana de moda esperamos encontrar algo novo. Seja pela reedição de movimentos passados, seja pela experimentação, fato é que ansiamos por uma representação visual que fuja da trivialidade do ato de vestir para o dia a dia. Mas a verdade é que a moda, muito mais do que oferecer a vanguarda, também é uma maneira de interpretação do presente e embora o conceitual tenha feito parte de algumas apresentações uma mistura considerada óbvia deu as caras em alguns desfiles importantes, o que nos fez pensar sobre a razão de ela estar ali. Estamos falando do combo mais básico, democrático e seguro de todos: calça + regata branca. Ver uma composição destas abrir um desfile de peso como ocorreu com na Bottega Veneta nos intrigou e nos instigou a colocar a cabeça pra funcionar, afinal, nada na moda é por acaso.

 


 

Então absorvemos o que está acontecendo hoje. Temos acesso a todo tipo de informação e de uma forma muito veloz. Basta uma simples passeada pelo feed do Instagram para sabermos das últimas novidades direcionadas para todo tipo de assunto. De design à política, passando pelos benefícios de velas aromáticas até as últimas informações sobre a guerra (seja aquela feita pelos homens, seja contra os microrganismos). Consumindo cada vez mais conteúdo, temos também as ferramentas que permitem que essa absorção seja cada vez mais dinâmica. O clique ao alcance, os áudios com velocidade dobrada, corretores de celulares com frases prontas e toda sorte de recursos que disponibilizem o acesso rápido à informação demonstram que estamos vivendo o presente com a urgência de se ter tudo à mão. E este é um look que manifesta essa urgência. Simples, de fácil acesso, inclusiva e versátil, esta é uma composição que pode ser feita às pressas já que não demanda muita ponderação. Afinal, se já temos nossos pensamentos voltados quase que inteiramente para o bombardeio diário de informações diversas que ocupam grande parte da nossa mente e do nosso raciocínio, não deveríamos nos submeter a mais uma preocupação, no caso, o ato de vestir. Além da representação desse estilo de vida baseado na urgência e na catalogação de prioridades, uma base como esta gera possibilidades amplas da criação de novos looks com pequenas mudanças, especialmente no inverno quando os itens de complementação são indispensáveis para o conforto térmico.

 

 


 

E isso é bom ou ruim? Depende. Se essa representação estética significa menos consumo (como mencionamos, é uma base democrática que amplia as possibilidades de complementação e novas manifestações visuais), menos estresse (já que é uma coisa a menos para se preocupar no dia) e uma moda mais acessível (é uma combinação que está ao alcance de todos), podemos considerar que é um movimento bom. Entretanto, se ele existe somente em função de enaltecer esse estilo de vida baseado na pressa e de nos tornar neutros frente essa descarga desenfreada de conteúdo diário (nem sempre de qualidade) o impacto é outro.

 

 

De qualquer forma é uma combinação que representa nosso atual momento, de outras prioridades, de outras urgências, de outros conflitos e essa combinação nada mais é do que uma prioridade, uma urgência e um conflito a menos em nossas vidas.

 

PFW fall 22 street style | Ir além no conteúdo e no visual

23.03.22 | moda pra pensar Semanas de Moda Street Style


 

Estamos sempre indo além. O mercado de trabalho sempre nos exigiu pensamentos e atitudes fora da caixa e as redes sociais vieram para reforçar esse comportamento. Nos deparamos com um conteúdo e logo a aba do “arrasta pra cima” já está pipocando em nossa tela, nos instigando a ir além do que foi inicialmente apresentado. A geração “swipe up” mostra que é possível ir além não apenas no conteúdo, mas também no estilo. Vimos nas ruas da semana de moda de Paris que um casaco não é só um casaco, que uma calça não é só uma calça e que, de fato, um acessório ou uma cor bem escolhidos criam uma narrativa diversa para se ir além do esperado. São detalhes enriquecedores e interferências inusitadas que tiram qualquer peça do lugar de trivialidade e transformam o visual em um verdadeiro manifesto. Pense em recortes, texturas, tons e elementos de design colocados em contextos inesperados que empurram o estilo para um nível muito mais criativo e arriscado. Observe os detalhes e se permita ir além.