as cores da VALENTINO

01.02.24 | Get Inspired By Moda Semanas de Moda


 

A gente sabe que a semana de alta-costura não é sobre tendência, pois aqui é o momento das marcas mostrarem conceito, singularidade, criatividade e valor artístico a níveis mais elevados, que fogem da captação dos movimentos de moda como ocorre das semanas ready to wear. Mesmo assim, a temporada couture nos fornece material de inspiração, não só para o visual de ocasiões especiais, mas também para o dia a dia. Truques de styling, formas, volumes e, claro, combinação de cores podem ser absorvidas das criações de alta-costura, que se tornou mais democrática em termos de incluir mais estilos e mais peças que há alguns anos não entrariam nesse tipo de apresentação. E em termos de referência de cores, um desfile em específico pode ser considerado um dos melhores da temporada. Na passarela da Valentino, além do design e do conceito impecáveis apresentados pelo estilista Pierpaolo Piccioli, temos a mais bela e impactante paleta da semana de alta-costura, não só em looks monocromáticos mas especialmente nas combinações. Certamente são imagens para guardar e que servirão de norte para a montagem de um visual fora do conceito de alta-costura.

 




spring 24 COUTURE | pt. III

30.01.24 | Moda Semanas de Moda


 

 

Mesmo com uma trajetória de 30 anos marcante e reconhecida, o duo holandês encara a moda e principalmente a alta-costura como uma oportunidade de manifestar irreverência e muita atitude. Justamente por não se levarem tão a sério é que a dupla tem um dos repertórios mais importantes na linha do tempo da alta-costura e que se renova e emociona a cada temporada. Nesta coleção Viktor e Rolf se voltam para a beleza da imperfeição, uma de suas principais assinaturas. O inacabado, o rústico, o deteriorado, o defeito proposital em silhuetas produzidas de forma imaculada – um sopro de espontaneidade em uma temporada de moda historicamente mais rígida. Se o momento para a alta-costura é de materializar sonhos, as tesouras de Viktor e Rolf agiram com destreza para dar uma certa dose de realidade e de crueza em vestidos e casacos perfeitamente formados em sua modelagem inicial e que ganham novas camadas de materiais dramaticamente recortados, mostrando que absolutamente nada é dotado integralmente de perfeição.

 

 

 

A cada temporada fica claro que o olhar de Jean Paul Gaultier e de sua equipe para a escolha dos estilistas para suas coleções colaborativas de alta-costura é extremamente apurado. As parcerias não são nada óbvias e possuem uma sintonia muito potente, que manifesta tanto a trajetória de Gaultier quanto a identidade do profissional convidado. Dessa vez a colaboração foi feita com a estilista Simone Rocha. Quem conhece o trabalho de Rocha sabe que suas criações possuem símbolos muito bem estabelecidos, pautados por um romantismo anárquico, uma sensualidade com nuances de inocência e uma atitude punk delicada que formam uma linha criativa facilmente reconhecível. Esses elementos tão sólidos puderam ser notados nesta coleção que trouxe os laços, os toques bucólicos e a estética lúdica tão presentes no trabalho da estilista com os principais códigos de Gaultier, como as narrativas fetichistas, os detalhes de inspiração navy e o foco teatral nos bustos. Uma coleção que une a feminilidade contemporânea e por vezes obscura de Rocha com a subversão sem modéstia de Gaultier.

 

 

 

Para esta temporada o estilista se voltou para a civilização fenícia, que ocupou o território entre o mar mediterrâneo e o norte da Palestina até em meados de 300 a.C. Como uma sociedade que se desenvolveu muito antes da expansão do cristianismo, os fenícios eram politeístas e cultuavam diversos deuses o que inspirou Murad a criar vestidos de referência greco-romana com ombros marcados, cortes retos e modelagem estruturada, adornados de forma elaborada e extremamente rica, como é costumeiro no trabalho do estilista. As texturas metalizadas unidas a franjas finas, drapeados e amarrações evocam uma estética de divindade que substitui o visual de princesa de outras coleções.

 

 

 

Depois de apresentações majestosas, o estilista Pierpaolo Piccioli optou por um desfile mais intimista que demonstrasse o “processo sagrado da alta-costura”, conforme suas próprias palavras. Apresentações intimistas de peças feitas sob medida para clientes especiais são o berço da couture nos anos 50 e 60 e o estilista quis reviver esses tempos através de um desfile carregado de tradicionalismo em sua configuração – as modelos desciam as escadas do salão e desfilavam entre os convidados alocados em ambientes diferentes – mas com a essência contemporânea que moderniza a estética da alta-costura. Com a melhor paleta de cores da temporada, Piccioli faz o processo sagrado da alta-costura aparecer em todas as suas criações: nas calças com cintura alta e modelagem fluída, nos casacos impecáveis, nas saias de comprimento médio de corte aberto, nos blazers, nas camisas transparentes e, claro, nos vestidos que carregam estruturas elaboradas, intervenções de alto valor artístico e tons hipnotizantes.

 

 

 

Kim Jones trouxe sua visão do futuro para a alta-costura. Além de trabalhar o tema de forma extremamente sofisticada através de vestidos de linha reta, texturas que provocam experiências sensoriais, peças que são incomuns nas coleções couture, como tops bem curtos e vestidos com decotes e intervenções de formas orgânicas em materail canelado, o futuro idealizado por Jones também chega nas técnicas da marca. A Fendi, afinal, é tradicionalmente reconhecida por suas peças feitas em pele e com os movimentos atuais voltados para a sustentabilidade e proteção dos animais, práticas assim são, além de desnecessárias e obsoletas, extremamente mal vistas. Jones trouxe casacos exuberantes com texturas que imitam pele de maneira tão similar que causa dúvida. Mas é a tecnologia têxtil que renova os métodos de produzir luxo e torna a moda mais próxima de agendas urgentes como as causas climáticas e a de direitos dos animais. O futuro que o estilista materializa nesta temporada vai muito além da estética e chega num contexto otimista de que processos mais éticos na moda ainda serão uma realidade.

 

 

 

Tudo que poderia ter sido falado sobre esse desfile histórico já foi dito. Todos os adjetivos mais nobres não são capazes de alcançar o que significa essa coleção, que emociona não só pela experiência, pelo design, pela vanguarda, por fazer nos lembrar do porque amamos a moda, mas também pelo saudosismo dos tempos áureos de John Galliano. O homem é um gênio. Quanto a isso não existe dúvida. Galliano trouxe os elementos teatrais que são tão presentes em seu trabalho com um desfile-performance que tornou tudo ainda mais emocionante. Suspiros, arrepios, lágrimas, a arte que ganha contornos de vida através de corpos que se manifestam de maneira livre e apenas usam a moda como extensão de suas próprias personalidades estranhas, sombrias e repletas de uma sensibilidade poética. Com inspiração nas imagens do fotógrafo húngaro Brassaï, Galliano nos transporta para uma Paris obscura, secreta e subversiva, com personagens igualmente expressivos e que usam suas criações como parte de quem são. São nossos diversos personagens intrínsecos refletidos na forma como nos vestimos, mas de maneira honesta e crua. Certamente uma coleção para ficar registrada na linha do tempo da moda.

 

spring 24 COUTURE | pt. II

24.01.24 | Semanas de Moda


 

 

Se esta temporada de alta-costura celebra a feminilidade, ninguém melhor do que o estilista para reforçar o coro. Inspirado pelas possibilidades da personalidade feminina que podem ser moldadas e mostradas de diferentes maneiras em nosso visual através de roupas, acessórios e maquiagens, Mabille traz uma cartela de cores sóbria e sofisticada que não lhe é tão habitual e foca no design potente dos vestidos que usam ternos, camisas e trench-coats como referência, blazers de corte preciso e casaquetos estruturados combinados com o romantismo das pedrarias delicadas, das rendas finas, dos laços e babados agigantados e das modelagens fluídas.

 

 

 

Para o estilista francês, a alta-costura é sinônimo de técnica, tradição e transmissão. Isso significa que apesar da manufatura precisa, das inúmeras regras a serem seguidas e do design singular, as criações desse nicho devem também seguir os movimentos atuais, seja da moda propriamente dita ou do que ocorre ao redor. Nessa temporada Rolland refletiu sobre um novo mundo, mais sereno e unido. Tons desérticos aliados a volumes dramáticos formam a coleção, que traz vestidos esculturais com intervenções de alto valor artístico e em formas orgânicas.

 

 

 

Sendo um dos estilistas preferidos nos tapetes vermelhos das principais premiações, Armani apresentou sua coleção de alta-costura no dia em que foram divulgados os nomes que irão concorrer ao Oscar desse ano. Certamente o que foi visto na passarela também será visto no evento, já que as peças apresentadas possuem uma beleza clássica e ao mesmo tempo entusiasmada que dificilmente passará despercebida. Sem uma referência óbvia, Armani se atém aos seus próprios códigos e brinca com as possibilidades de sua trajetória. Dessa vez o estilista trouxe uma vibração mais alegre à alta-costura em peças de tons mais vibrantes pontuadas por bordados precisos e aplicações elaboradas unidas à delicadeza de shapes soltos, rendas finas, plissados leves e camadas de tecidos em cortes geométricos.

 

 

 

Para o aniversário de 10 anos de sua marca, o estilista só teve uma direção em mente: a sustentabilidade. Práticas sustentáveis pautam o trabalho de van der Kemp desde sempre e suas criações de valor artístico indiscutível mostram que é possível fazer o luxo de formas alternativas. O estilista nesta coleção reutiliza materiais das mais diversas origens que se transformam em peças únicas, que transmitem ao mesmo tempo ares aristocráticos e rusticidade. O cru e o elaborado se unem em um design experimental que reflete a energia caótica em que nos encontramos como sociedade, aliado a reflexões sobre crises climáticas e a influência cada vez mais presente da inteligência artificial em nossas vidas. Essa mistura que serviu de base para o estilista se materializou, segundo o próprio, em uma coleção intuitiva e sensível ao presente.

 

 

 

A riqueza dos bordados e intervenções preciosas são uma marca do estilista, mas nessa temporada sua proposta se envereda por um caminho mais teatral. As estruturas metálicas usadas em vestidos de modelagem lânguida e esvoaçante atuam quase como uma armadura nas peças e trazem um ar mais rústico e potente para a coleção. Com uma atmosfera que remete ao universo estético marroquino, os vestidos-coluna são adornados com capas e possuem cintura marcada, fendas acentuadas e decotes profundos para reforçar a inspiração. Os detalhes em malhas metálicas, tranças, contas, pedras e toda sorte de adornos em formas geométricas, além da paleta solar e dos recortes típicos das padronagens decorativas encontradas na região, remetem à arquitetura marroquina e ao estilo de vida desértico.

 

spring 24 COUTURE | pt.I

23.01.24 | Semanas de Moda


 

 

Ao usar como referência as memórias e inspirações da fundadora da maison, Elsa Schiaparelli, o estilista Daniel Roseberry transforma suas coleções em algo visualmente magnífico e conceitualmente mágico, já que sua base no passado é manifestada com um olhar tão futurístico e inovador quanto repleto de beleza. Memórias moldam o trabalho de Roseberry e suas próprias recordações também formam o universo surreal da Schiaparelli. Nesta coleção podemos ao mesmo tempo ter um vislumbre do passado através das inspirações cinematográficas e do uso de apetrechos tecnológicos ultrapassados como adornos e do futuro, com o design contemporâneo e a técnica inquestionável do estilista. Roseberry viaja entre o tempo e o espaço de maneira sublime, sendo capaz de compor uma narrativa com diversos passados – recentes ou nem tanto – mas que se mostram de uma forma muito vanguardista.

 

 

 

A sobriedade destacada pela técnica irrepreensível se tornou um símbolo da alta-costura de Maria Grazia Chiuri. Simples, mas jamais simplória, a coleção foca em uma estética voltada para a feminilidade de referência cinquentista, quase conservadora, mas pontuada por nuances de força encontrada especialmente na paleta mais adulta, nos toques discretos de utilitarismo e na alfaiataria contemporânea que traz uma sofisticação atualizada e potente ao universo delicado e discreto montado pela estilista. Jaquetas acinturadas e estruturadas que fazem alusão aos primeiros modelos desenhados por Christian Dior vêm com a região do busto marcada o que denota a intenção de adicionar sensualidade à coleção, percebida também pelas blusas e vestidos transparentes e pelos decotes acentuados. A densidade necessária para o romantismo predominante da coleção é encontrada nos materiais mais robustos, nos tons profundos, na rica texturização delicadamente ondular de plissados e nervuras e nos bordados tão precisos como arrebatadores aplicados em vestidos imponentes, saias de shape aberto e blusas de manga longa.

 

 

 

O estilista que costuma levar suas referências para um caminho literal e totalmente fantástico em suas criações dessa vez adentra no mundo dos insetos. Mishra reflete sobre a importância desses seres, o fato de que eles habitam a terra há muito mais tempo do que nós e sobre nossa tendência em desprezar ou temer essas criaturas. Libélulas, abelhas, borboletas e besouros são representados de maneira superlativa nas criações do estilista, que ainda usa suas raízes indianas nas formas fluídas de vestidos longos, nos conjuntos de calça e túnica igualmente ricos, nos bordados opulentes e nos turbantes.

 

 

 

Conhecido por seu romance descomedido através de muitas flores e muito tule, o estilista abordou uma proposta um pouco mais madura e densa nessa temporada. No lugar dos tules, o volume característico do seu trabalho foi explorado na seda e os tons vívidos deram lugar à profundidade do preto e à sofisticação dos brancos opacos. Até seus familiares padrões florais vieram com fundo escurecido e a texturização intensa de plumas, pedrarias e intervenções tridimensionais de representações literais de flores e estruturas rígidas trouxeram uma bem-vinda densidade ao repertório do estilista.

 

 

 

Os conhecidos símbolos da maison ganham toques de delicadeza através dos detalhes. Bordados sutis, nervuras precisas, acabamentos em tule e padronagens florais adicionam romantismo à estética majoritariamente urbana enaltecida por Virginie Viard. Os bordados complexos feitos em camadas distintas de tecido formam pequenas flores que estendem visualmente as dimensões de casacos, saias e vestidos e trazem ao mesmo tempo riqueza estrutural e movimentos graciosos. A meia-calça branca usada em todos os looks injeta uma inocência inusitada nas criações mais obscuras, mas também reforça o romantismo das propostas mais femininas. Batizada de “The Button”, a coleção mostra o poder dos detalhes e a atenção especial que a maison aplica nesses pormenores ao longo de sua história.

 

Analisando a relevância da ALTA-COSTURA

15.07.22 | moda pra pensar Semanas de Moda

Fato: uma marca não se sustenta somente com a alta-costura. Na verdade existem mais gastos do que lucro efetivo em uma coleção dessa natureza. São processos artesanais intermináveis, mão de obra especializada, matéria-prima cara e apenas duas apresentações anuais alguns dos fatores que tornam a alta-costura, por si só, insustentável. A própria nomenclatura alta-costura é legalmente protegida e somente após diversos processos de verificação e cumprimentos de regras determinadas é que uma marca ganha autorização para usar o termo Haute Couture, detido pela Fédération de la Haute Couture et de la Mode (FHCM). Mas se é um processo tão complicado e caro, por que ainda existe? Podemos citar alguns elementos que contribuem para que a HC se mantenha relevante com o passar dos anos e que garantem sua sobrevivência no futuro.

 

 

Segundo Pascal Morand, presidente executivo da FHCM, “couture implica em um alto nível de criatividade, em um alto nível técnico e também um nível absoluto de individualização” (em entrevista para o NY Times de 27/01/2017). Ou seja, basicamente nós transformamos nossa percepção a respeito de uma marca através da alta-costura. O lucro de grandes nomes do setor vem majoritariamente de seu departamento de acessórios e beleza, sendo a HC, portanto, um aceno definitivo para o luxo em um mercado onde a diferenciação é essencial para o destaque e a sobrevivência. A alta-costura, assim, oferece essa oportunidade de evidência adicional. É na alta-costura que uma marca cria emoção, apelo, sonho e gera o desejo muito mais focado em seu “peso” e significado do que pelo que cria propriamente. Couture, portanto, é arte. Mas muito mais do que arte, também é estratégia de posicionamento. Segundo o professor Jean-Noel Kapferer, uma autoridade no setor de luxo e autor de diversos livros sobre o segmento, “a ousadia e a criatividade da alta-costura beneficiarão o setor do ready to wear, pois permite que as marcas estabeleçam preços elevados e assim aumentem sua autoridade simbólica no mercado”. E isso ocorre por causa do efeito “trickle down”, ou efeito de gotejamento. Desde que os seres humanos se vestem além da função de se protegerem e desde que a sociedade se estruturou em um sistema de hierarquia de classes, esse efeito de gotejamento existe na moda. Ele funciona como um mecanismo natural de criação do desejo através da hierarquização das classes sociais. Resumindo: se os mais ricos usam e gostam, eventualmente a massa também vai ser influenciada. Percebe o poder da alta-costura mesmo que ela seja feita para uma clientela tão restrita? O impacto gerado pela HC é refletido em todos os setores de uma marca que, por sua vez, se posiciona, se valoriza no mercado e tem aval para praticar os preços e a estética que bem entende. Outro ponto relevante é o nicho. A HC conversa com indivíduos específicos e privilegiados (muito privilegiados) e é uma ferramenta para que esses mesmos indivíduos se diferenciem. Isso cria uma relação a longo prazo com essa clientela cujo capital não fica restrito somente às criações feitas sob medida. E o crescimento do número de bilionários no mundo em especial nos mercados emergentes amplia a atuação da HC, ao mesmo tempo que ela ainda permanece restrita a um grupo específico.

 

 

E como ela se atualiza? Principalmente com a flexibilização de algumas regras e com a busca de singularidade. Ou seja, mesmo que haja um número obrigatório de looks a serem desfilados para que uma marca consiga ser convidada para a semana de alta-costura de Paris, essa regra pode ser revista caso o estilista tenha relevância, singularidade, apelo e flerte com a inovação, como acontece com a holandesa Iris Van Herpen, que além de poder desfilar menos looks do que a regra da FHCM estabelece, ainda usa a impressão 3-D para produção de suas peças (o que iria contra as regras da federação que exige que as roupas sejam feitas à mão).

 

 

A entrada de marcas mais arrojadas no calendário também contribui para que a curiosidade e a importância na HC se mantenham, como é o caso da Balenciaga, do duo holandês Viktor & Rolf e da belga Maison Martin Margiela comandada por John Galliano.



Algumas marcas que se apresentam nessa temporada também podem chamar a atenção para problemas sérios da atualidade, como no caso da Dior que fez uma coleção inteira dedicada ao folclore ucraniano em colaboração com a artista Olesia Trofymenko ou nas coleções sustentáveis de Ronald van der Kemp que desde sempre atua da maneira a causar menos impacto ambiental possível com suas criações, ao mesmo tempo que entrega um trabalho de alto valor artístico.



 

A HC acompanha o presente e se flexibiliza sem, no entanto, perder seu caráter de exclusividade e acenar para a banalização, o que faria cair por terra toda a estratégia de posicionamento e autoridade das marcas. Hoje, portanto, muito mais do que regras engessadas e expectativas de looks magistrais e impossíveis, a HC é sobre singularidade. É todo um universo a parte que independe de tendências e movimentos sazonais e é justamente por sua sagacidade na adaptação ao presente que a alta-costura continuará sendo relevante no futuro. O relaxamento estratégico de seus códigos e a entrada de novos membros traz dinamismo e renova o interesse pela HC, ainda que o ingresso nesse clube continue sendo muito restrito.

fall 21 COUTURE | o luxo clássico e a relevância da semana de alta-costura

15.07.21 | Lifestyle Moda Semanas de Moda


 

Em um período tão desafiador é normal e esperado que nos questionemos sobre prioridades, relevâncias e o papel das coisas em nossas vidas, seja no âmbito subjetivo ou para a coletividade. Nesse sentido a semana de alta-costura – super exclusiva e feita para uma parcela ínfima da população – pode parecer deslocada da realidade, ainda mais da nossa realidade atual, mas a gente pode fazer um exercício e pensar um pouco além disso. Para nós é óbvio mencionar o papel escapista que a moda performa e que é de extrema importância para períodos em que um alívio mental é necessário. Ainda mais quando tratamos de alta-costura, onde a função imaginativa da moda é ainda mais potente, nossa condução para um lugar de escapismo através da observação e da admiração, tanto em relação à técnica quanto à beleza das criações, é inevitável. Nesse contexto ainda temos o desenvolvimento criativo dos próprios estilistas. A temporada de alta-costura é o ambiente fértil para a inovação, para o vanguardismo e até para a piração. É aqui que os designers exercem suas expertises técnicas aliadas aos projetos imaginativos livres de limitações. Fato é que o mundo aos poucos está voltando ao normal (especialmente no hemisfério norte) e com uma profusão de discussões a respeito do papel da moda daqui pra frente junto com uma realidade em que diversas marcas têm buscado mudar seu direcionamento estético para algo que acreditamos ser mais condizente com a realidade (leia-se criações modestas, confortáveis, que priorizam a performance e com pouca margem para um estilo diferenciado), é esperado que um caminho totalmente diferente seja tomado quando o clima é propício para tanto. E nessa temporada de alta-costura, foi justamente o que aconteceu. Nesse lugar onde a inovação e a generosidade não têm um limite orçamentário, o luxo imperou. Mas não estamos falando de qualquer variação contemporânea a respeito da definição de luxo. Aqui o luxo é o que é e ponto. Sem desculpas. Todos aqueles códigos que atravessam a história e que formaram a concepção clássica do que é luxuoso podem ser encontrados aqui. Volume, brilho, exuberância, pele (fake, obviamente, já que até o luxo mais tradicional é passível de adaptação), joias, luvas, chapéus, scarpins de bico fino. O luxo pelo luxo na sua representação mais clássica teve uma retomada significativa nessa temporada que visa, além do escapismo, a clara mensagem de que ninguém aguenta mais a escassez – financeira, de escolhas, de autonomia sobre as mais simples decisões, de respirar… – é a abundância mostrada através de códigos de riqueza e por mais que não nos seja sequer alcançável o produto da alta-costura, sua mensagem é democrática e nos atinge em cheio. Que venham os tempos abastados!

 

Temporada fall 2020 COUTURE | Referências oitentistas

08.07.20 | Moda Semanas de Moda


 

Cores intensas, drapeados dramáticos, volumes superlativos, texturas refletivas, luvas, laços, corte mullet, maquiagem marcada, cabelos rebeldes… todos que sabem minimamente sobre moda e lifestyle conhecem as características principais que representam a década de 80 (e caso você queira aprender mais, semana passada fizemos um post com 25 filmes da época que você pode acessar clicando aqui). E nessa temporada de alta-costura, os anos 80 parecem ser uma grande referência para as criações de diversas marcas. Estamos em um período de exceção e as coleções estão sendo apresentadas à distância. Talvez por conta desse isolamento coletivo e do momento de maiores contenções e incertezas em relação ao que pode acontecer, as inspirações oitentistas se mostram importantes para representar a esperança de um futuro de abundância, alegria e extravagância. Aqui a ideia é clara: quando todos puderem retornar às ruas e à rotina de forma plena, o tempo será de festa!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Couture fashion week – As principais tendências da semana de alta-costura | parte II

24.01.20 | Moda Semanas de Moda


 

Na segunda parte das tendências da semana de alta-costura percebemos o resgate de silhuetas e formas tradicionais das peças de luxo, como o shape sereia e a modelagem peplum, bem como intervenções mais dramáticas nas roupas que unem modernidade e tradição – vide as golas e decotes volumosos que formam uma espécie de casulo e as franjas metalizadas, que remetem às vestimentas da década de 20. Na parte mais contemporânea dos movimentos, estampas que geralmente são associadas à peças casuais, como o xadrez e as listras, entram no universo da alta-costura e imprimem jovialidade às coleções.