01.07.21 | Moda
A estética esportiva já vem atuando nos movimentos de moda há algum tempo e de temporada em temporada ela sofre algumas reformulações que a atualizam e garantem que a tendência ainda permaneça em nossos radares. Nesta edição da SPFW essa atmosfera esportiva ganhou elementos que a deixaram com uma vibração futurista. Acessórios estruturados, recortes inusitados, texturas tridimensionais e a exploração de matéria-prima tecnológica imprimem esse clima de evolução do movimento.
As técnicas artesanais vinham sendo bastante utilizadas nas semanas de moda internacionais, portanto seria de se esperar que elas aparecessem com mais força por aqui também, especialmente porque o Brasil tem uma cultura artesanal riquíssima. Além de promover uma naturalidade nas criações, o que tem sido um movimento importante justamente por conta do nosso momento atual, essas técnicas geralmente enaltecem o trabalho de pequenos produtores com o consequente redirecionamento econômico para quem atua de maneira tão significativa e autoral no setor. Nesta edição da spfw, o crochê se mostrou uma das principais técnicas deste movimento e diversas marcas exploraram maneiras criativas de utilizá-lo e que fogem do clichê boho que geralmente associamos a esta trama.
Em um País colonizado, é comum que achemos o que vem de fora mais interessante. Mas não na semana de moda paulistana. Em um momento onde o Brasil está sendo tão negligenciado, incluindo o setor cultural, enaltecer as brasilidades que fazem o nosso País tão único e rico foi o caminho escolhido por diversos nomes desta temporada, principalmente por marcas menores. Nossa ancestralidade, nossas crenças, nossa natureza, nossas cores, nossos costumes e até nossa malícia serviram de referência para essas criações que se mostram verdadeiros atos de resistência. Da vida a partir do olhar dos caminhoneiros explorada pela Misci, passando pelos trajes que lembram as festas infantis feitas no quintal de nossas casas que podem ser notados nas criações lúdicas de Juliana Jabour, chegando na influência das religiões de matriz africana até os rituais indígenas e superstições nordestinas. O Brasil é grande e resiste.
Optar por cores sóbrias, composições discretas e marcas de conduta slow é um começo para aderir a um visual minimalista, mas nesta edição da spfw as criações com essa estética ganharam um nível mais condizente com o nosso momento, onde o conforto aliado à performance são características quase imprescindíveis para atravessar esse período desafiador. O visual minimalista desenvolvido por diversos nomes encontrou um dinamismo bem-vindo através dos recortes assimétricos, de intervenções que trazem mais riqueza e tridimensionalidade ao resultado final, como drapeados e plissados, das formas mais desprendidas e das construções singulares da silhueta.
24.06.21 | Moda Tendências
22.06.21 | Moda Tendências
Na última temporada de desfiles vimos que diversos designers optaram por um visual superlativo que sugere escapismo, celebração e otimismo em relação ao futuro. Na contramão do visual exuberante da temporada fall 2021, as apresentações do resort 2022 exploram uma estética muito mais natural, composta de itens tradicionais, styling discreto, peças artesanais e cores que manifestam elegância e calmaria. O visual, apesar de modesto, não abre mão da sofisticação. As linhas retas, as formas desprendidas e a matéria-prima natural comunicam uma polidez acessível, muito mais condizente com o nosso momento atual do que o luxo que nos classifica e, por consequência, nos distancia.
17.06.21 | Moda Tendências
Quando pensamos em uniformes escolares ou mesmo nas roupas que geralmente são associadas com este ambiente logo nos lembramos dos brasões, das saias de prega, das bermudas e calças de alfaiataria de cores clássicas, dos cardigãs e coletes típicos dos colégios mais tradicionais, mas também podemos fazer essa associação com conjuntos esportivos, jaquetas bomber, bordados com letras e números de estética escolar, peças utilitárias etc. Essa narrativa visual característica dos colégios foi explorada por diversas marcas nesta temporada resort e algumas, como no caso da italiana Philosophy, deram continuidade a este tema que já vinha sendo utilizado na temporada anterior.
E assim como o romantismo que falamos na parte I tem tudo a ver com o momento atual e com o que se espera do futuro em termos estéticos, o movimento que propõe esse visual de perfume escolar também sugere um resgate da normalidade. É a vida voltando ao seu curso rotineiro após tanto tempo sob o isolamento e as restrições sociais. A ideia de retorno às aulas vai muito além do seu conceito original e aqui tem muito mais a ver com a retomada da interação humana, do convívio social, da troca de experiências e do crescimento individual quando existe relacionamento com outras pessoas.
15.06.21 | Moda Tendências
Neste mês diversas marcas começaram a apresentar suas coleções resort, que são aquelas que ocorrem entre a temporada fall e spring e que ficam por mais tempos nas lojas. Nós já começamos a analisar essas coleções e nossas observações vão ser divididas em quatro partes que serão publicadas aqui no blog. Para a primeira parte, notamos um movimento importante de resgate de uma feminilidade extrema. Mas é extrema mesmo! Todas as características de um estilo pessoal que chamamos de feminino são encontradas aqui, mas de uma forma muito mais superlativa, exagerada e quase caricata. Essa revisitação de uma delicadeza exagerada nos fez refletir sobre a carência de afeto, de toque e de cuidado mútuo que estamos vivendo atualmente. É certo que a vida aos poucos vai voltando ao normal e que daqui pra frente, falando em termos de moda, os movimentos serão voltados para as demandas de um recomeço. Portanto, é normal que após mais de um ano isolados, busquemos o contato, o afeto e o cuidado com familiares, amigos, amores…
Quando estudamos a teoria da consultoria de imagem e entramos no capítulo dos estilos pessoais, a parte do que chamamos de “estilo feminino” tem exatamente essa narrativa – delicadeza, afetuosidade, alegria, ingenuidade, segurança, familiaridade etc. Então quando observamos essa atmosfera sendo aplicada de maneira tão literal nas propostas de diversas marcas (note que até alguns ensaios promovem imagens que podem ser associadas a sentimentos melancólicos e nostálgicos ligados ao romance), a associação com a necessidade de delicadeza (e de tantas outras atitudes que essa estética sugere) daqui pra frente é inevitável.
01.06.21 | Get Inspired By Street Style Styling
Em um primeiro momento o estilo da atriz Jessica Alba pode parecer bem casual, mas ao olharmos mais atentamente para as suas imagens que foram capturadas durante a pandemia podemos perceber que Alba se diferencia pelos detalhes e sua casualidade é muito mais contemporânea do que simplesmente básica. A começar pela priorização do conforto. Materiais que permitem maior liberdade de movimentos como os moletons, formas amplificadas e os pés no chão são algumas das características associadas ao conforto que a atriz aplica em sua imagem, mas é justamente a maneira como ela junta tais características que faz o resultado final se destacar. A atriz lança mão de produções monocromáticas, que mesmo em cores tradicionais acabam por chamar mais a atenção, prioriza dimensões maiores em suas peças e brinca com proporções de forma mais inusitada – nada é muito ajustado nem demasiadamente oversized, mas os volumes são suficientemente notáveis para realçar uma informação de moda. É aquela comunicação de imagem que parece justamente não querer comunicar nada, mas ao final das contas entrega uma presença marcante de senso estético e de ambientação.
27.05.21 | Lifestyle Moda moda pra pensar
No fim deste mês a Lacoste apresentou sua coleção fall 2021 e deu continuidade à estética esportiva ousada que Louise Trotter, sua diretora criativa desde 2019, vem empregando para ressignificar a rica herança da marca. O visual utilitário comumente associado à Lacoste foi elevado a outro patamar com a chegada de Trotter, que emprega muito de sua própria imagem pessoal para definir essa nova atmosfera da marca, muito mais condizente com os dias atuais. Mas muito além da imagem mais arrojada, a Lacoste vem mostrando criações consistentes e coesas, fornecendo um verdadeiro storytelling aos consumidores e amantes da moda e se adequando ao que esperamos que seja o visual do futuro. Para esta temporada, Trotter refletiu sobre como podemos encaixar uma vida ativa com os compromissos do dia a dia, como trabalho, lazer, estudos, vida doméstica etc. Muito mais do que performance, no entanto, a coleção da Lacoste oferece acolhimento através das formas amplas e dos comprimentos abundantes que sugerem a proteção do corpo através do ato de escondê-lo. Além disso, vem a questão do conforto associado ao desejo do visual montado, com informação, notabilidade, riqueza de detalhes e beleza. É a diferenciação do que nos é seguro e familiar através da descontração de algumas experimentações. Um trench coat opulente ali, uma sobreposição inusitada aqui, um chinelo combinado com meias acolá. É através do traquejo e de um olhar alternativo sobre o armário que se cria o “novo conforto”. O visual proposto por Trotter ainda se diferencia por ser totalmente agênero e sustentável, já que muitas das peças foram produzidas a partir de outros itens e materiais de coleções passadas, o que pesa ainda mais para tornar o ato de se vestir muito mais sobre experiência do que simplesmente uma composição visual.
20.05.21 | Get Inspired By Lifestyle Styling
Quando se trata de estilo, a atriz Cate Blanchett geralmente costuma ser lembrada pelas suas produções mostradas nos red carpets dos maiores eventos do cinema. Mas na vida fora dos holofotes, Blanchett também faz bonito com a sua imagem. Com uma mistura contemporânea dos universos masculino e feminino, Cate já coloca em xeque as questões retrógradas sobre o visual dividido por gênero há bastante tempo. Adepta dos ternos bem cortados, dos macacões utilitários e do conforto nos pés, a atriz sempre mostrou que elegância nada tem a ver com ostentação, muito pelo contrário. E é justamente esse tipo de elegância sem esforço que a atriz propaga que faz com que seu estilo pessoal seja uma inspiração cirúrgica não só para a vida, mas especialmente para o presente. Com os recentes acontecimentos e com a vida aos poucos voltando ao normal, a estética para sair de casa, segundo os movimentos que analisamos, se volta para a manutenção do conforto e da sensação de abrigo que certas roupas nos proporcionam, com a sofisticação, mesmo que simples, que alguns compromissos fora do âmbito do lar exigem. E a atriz consegue materializar esse mood.
Basta olharmos para as produções usadas durante esse período pandêmico para conseguirmos entender o que esse movimento quer dizer. O conforto que falamos aqui se transfigura na imagem da atriz através dos sapatos, dos saltos mais grossos, da facilidade da peça única ou da base mais simples que possibilita a ousadia nas peças de complementação e nos acessórios, na liberdade de repetição dos itens que para alguns ainda parece um crime, nas modelagens menos ajustadas, nos cabelos com efeito natural etc. Conforto aqui vai muito além do moletom, perceba. A elegância sem esforço fica a cargo do conjunto da obra, do resultado final. Você olha para a imagem e absorve a elegância. Claro que alguns detalhes contam para que esse efeito seja percebido, como os blazers que fecham os looks mais básicos, a alfaiataria ampla, as cores clássicas, a cintura levemente marcada, o brilho discreto em algum ponto específico da produção. Cate consegue entregar uma imagem sofisticada sem parecer distante e isso é fundamental nas relações entre pessoas, sobretudo nos dias atuais onde nunca fomos tão distantes uns dos outros.
13.05.21 | Moda moda pra pensar
Quando uma situação grave surge e causa impactos a nível mundial – como conflitos, mudanças climáticas extremas, insegurança econômica ou uma pandemia – a moda capta o momento e se adapta de modo que seja relevante e sensível ao presente, mas ainda assim consiga projetar o futuro. Futuro, aliás, é um tema recorrente na moda e já foi interpretado das mais diversas maneiras, mas sempre com uma narrativa que se conecta com o presente. Temos como o exemplo o futuro retratado nos anos 60, que refletia a tecnologia e a corrida espacial através de formas vanguarditas e texturas metalizadas dentre outras características. Já no início do Séc. XXI a profusão de roupas em prata, os strass aplicados à exaustão, os óculos de lentes grandes e coloridas e a atmosfera esportiva e futurista de inúmeros vídeos e eventos da MTV representavam a euforia tecnológica que vinha com a virada do milênio (e também o receio da pane generalizada que os computadores supostamente sofreriam com a chegada do ano 00, o tal do bug do milênio). Em 2021, com um cenário pandêmico grave, a ideia de futurismo vem através do que imaginamos ser uma estética alienígena e isso pode estar relacionado com o fato de muitas vezes buscarmos respostas para situações mais difíceis em assuntos que acreditamos estarem além da nossa compreensão mundana e material, como a astrologia, a religião, a magia e na concepção de vidas fora do nosso planeta. Tudo o que sabemos sobre o tema, outrossim, está ligado a evolução. Tecnologia avançada, estruturas sociais elaboradas, melhorias inimagináveis em diversos campos e desenvolvimento pessoal florescido são apenas algumas das características do que idealizamos a respeito de uma manifestação de vida extraterrestre.
A representação imagética de um indivíduo infinitamente mais evoluído do que nós, meros terráqueos, pode ser vista na temporada de apresentações das coleções spring 2021 realizadas no final do ano passado. O movimento, portanto, sugere esperança em relação ao futuro, seja através de uma vida melhorada pela tecnologia em diversos aspetos ou mesmo por comportamentos e atitudes evoluídos em razão de tudo que passamos. Outra ideia que o tema alienígena levanta é um pouco menos otimista, mas que também pode se encaixar no nosso atual período: o da extinção em massa. Claro que isso não deve ser interpretado de maneira literal, mas como uma metáfora para nosso renascimento, seja como sociedade ou a nível pessoal. Temáticas apocalípticas e de sobrevivência vêm sendo exploradas pela moda nos últimos tempos já que as circunstâncias econômicas, climáticas, sanitárias e diplomáticas se mostraram um campo fértil para o afloramento de representações estéticas que se harmonizam com um clima global mais inseguro. Aqui, no entanto, o contexto do movimento se dirige muito mais para uma nova maneira de pensarmos e agirmos quando tudo o que estamos passando ficar na história – é a representação da nova humanidade, renascida e renovada através de uma grave crise.
07.05.21 | Moda Tendências
Apesar do nome, o bordado inglês não vem da Inglaterra. Existem relatos que a técnica surgiu na Ilha da Madeira, em Portugal, ou na República Tcheca no Séc. XVI, mas a verdade é que o bordado caracterizado pelas padronagens feitas a partir cortes arredondados e depois costurados em tecidos, se popularizou na Inglaterra no Séc. XIX durante a era vitoriana, especialmente em roupas íntimas e infantis. Com o passar do tempo, o bordado inglês foi ganhando mais abrangência, principalmente por conta da modernização de sua produção que passou a ser feita por máquinas a partir de 1870. Já nos anos 50, a técnica novamente teve seu auge sobretudo depois que a atriz Brigitte Bardot usou um vestido com esses detalhes em seu segundo casamento, em 1959. Desde então, o bordado inglês deixou de ser utilizado apenas em detalhes, roupas íntimas ou enxovais e passou a fazer parte de peças completas o que foi muito bem vindo para o gosto das latino-americanas por conta do nosso clima mais quente. Geralmente associado a um estilo mais feminino e delicado, nessa temporada de apresentações das coleções primavera/verão 2021/22 o bordado foi aplicado em peças de cunho urbano, como camisas, calças e macacões e também ganhou espaçamentos maiores, tornando os orifícios mais visíveis e dramáticos. O movimento de se voltar para técnicas tradicionais de manufatura é algo que acontece na moda há algum tempo, mas que parece ter ganhado força com o advento da pandemia principalmente porque temos o desejo, por vezes inconsciente, de olharmos para algo que nos seja familiar em tempos de incertezas. O processo artesanal causa essa sensação de bem-estar e familiaridade sobretudo por nos remeter à ideia de pequenos trabalhadores, produção familiar, campo, natureza, simplicidade, acolhimento, calma etc. e nós já falamos por aqui sobre como o movimento de reconexão do homem com a natureza vem ganhando força em razão dos tempos atuais (para ver clique aqui). Veja como o bordado inglês será aplicado no próximo verão de acordo com as coleções apresentadas no final do ano passado e se inspire para achar suas peças em locais alternativos, pequenos produtores etc. o que tona a história das suas vestes muito mais rica.
deixe seu comentário