O efeito BOTTEGA

21.01.21 | Get Inspired By Lifestyle Moda moda pra pensar



 

A tradicional casa italiana foi fundada nos anos 60 e quase que instantaneamente se tornou um sucesso de vendas com seus artigos em couro, especialmente por conta da técnica exclusiva de entrelaçamento do material denominada intrecciato. Verdade seja dita, a parte de acessórios sempre foi o carro-chefe da marca. As bolsas e calçados da Bottega são um dos artigos de luxo mais desejados do mundo e, sim, valem cada centavo. As técnicas de manufatura da casa, o primor do material e o design atemporal são alguns dos elementos que alçaram a marca a um patamar ocupado por poucos. Mas por mais que um nome esteja consolidado no mercado, especialmente como autoridade em um determinado produto ou matéria-prima, a necessidade de renovação mais cedo ou mais tarde bate à porta. A reinvenção da Bottega veio com a chegada do estilista britânico Daniel Lee. Com apenas 32 anos, o designer já passou por marcas como Balenciaga, Maison Margiela e sua mais recente atuação foi na Céline da era Phoebe Philo. Com uma bagagem tão importante, foi criada uma expectativa enorme em torno do seu trabalho, que veio acompanhada de um receio justificável de suas criações serem apenas extensões das marcas pelas quais o estilista passou. Mas o que se viu em sua coleção de estreia foi justamente uma identidade própria, pautada por uma elegância silenciosa e um design contemporâneo que surpreendentemente têm total relação com o legado da Bottega.

 


 

Da coleção fall 2018 para a temporada fall 2019, quando houve a estreia de Lee, a diferença é notável. Percebe-se a essência da Bottega, mas também notamos a mão do estilista. Essa harmonia entre a criação e a herança de uma marca não é tão fácil de acontecer e temos visto diversos nomes tradicionais do mercado se perdendo completamente em suas modernizações ou ficando sem um sentido nas suas novas abordagens. Lee trouxe uma narrativa consistente para a Bottega. Abriu a porta de novos tempos para a marca, mas com deferência a sua história. Suas criações têm grande apelo no mercado e passaram a ser expressivamente vistas no street style, além dos desfiles da Bottega hoje serem um dos mais aguardados do circuito. Claro que com o sucesso, vem o infame inspired. As criações de Lee, especialmente os calçados e as bolsas, servem (descaradamente, diga-se de passagem) de “inspiração” para inúmeras marcas ao redor do globo e se tornou fácil encontrar, por exemplo, as sandálias de tiras trançadas e almofadadas, os scarpins de tramas vazadas e os mules com uma imitação desafortunada do famoso intrecciato da marca. Independente disso, é um prazer assistir aos desfiles da Bottega sob o comando de Daniel Lee e perceber que o tradicional pode se juntar ao futuro com dignidade quando diversos fatores são observados. Entre os principais, está o respeito ao trabalho e à identidade criativa do estilista, concedendo liberdade para sua atuação e o entendimento do patrimônio imaterial de uma marca do porte da Bottega.

 

S/S 2021 VII – Naked Look

30.10.20 | Look da Paula


 

Em alguns de nossos relatórios feitos no período de isolamento social, percebemos que as peças que sugerem a proteção do corpo ganharão cada vez mais espaço no mercado. Durante esta temporada, no entanto, notamos que essa necessidade de proteção ainda persiste, mas pode ser alcançada mesmo com a exibição deste corpo através, principalmente, da transparência. Vestidos longos, mangas compridas, golas altas, sobreposições e demais características que servem neste movimento de proteção corporal são misturadas com matérias-primas leves e cristalinas que permitem a revelação de uma boa parte da silhueta. Abrigada, porém à mostra, é a diretriz do movimento. Vamos pensar o quanto já andamos cobertos. Nossos rostos escondidos por máscaras, nossos corpos protegidos das baixas temperaturas e do contato físico em tempos de risco de contaminação, para as mulheres, a ideia do abrigo que as roupas mais modestas proporcionam contra um eventual cenário de assédio etc. Estas são apenas algumas situações que demandam uma silhueta mais protegida e é absolutamente normal que queiramos contorna-las, na medida do possível, seja em razão de temperaturas mais altas, de ocasiões que nos tentam a um estilo mais sensual, ou apenas para desafiar comportamentos machistas e ocupar espaços com nossos corpos à mostra. O movimento propõe driblar a proteção incondicional da silhueta através da transparência. Olhar o próximo e permitir ser olhado.

 

S/S 2021 VI – Phone Case

29.10.20 | Look da Paula


 

Nós falamos na semana passada a respeito do movimento das bolsas gigantescas, que sugere o alcance de tudo que for necessário para tocar a vida profissional e pessoal que andam cada vez mais juntas (caso tenha perdido, clique aqui). Em contrapartida, temos este movimento das bolsas que lembram as capas dos celulares. Seu tamanho diminuto e sua forma estruturada insinuam justamente o oposto: carregar somente o imprescindível. O próprio design da bolsa indica que o aparelho celular é um destes objetos imprescindíveis para o dia a dia. Tudo, afinal, pode ser revolvido através destes objetos e, mais uma vez, vida pessoal e profissional se aproximam ao limite de se fundirem. Perceba que, independente de você ser do time das bolsas giga ou daquelas que se assemelham à capa do celular, o resultado final será sempre o mesmo: ter ao alcance o que torna sua rotina mais coesa e organizada – seja através de uma troca de roupas com direito a mudança de maquiagem, ou apenas de um simples aparelho celular.

 

S/S 2021 V – Alfaiataria ampla

28.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Que o conforto foi uma das características de vestuário que mais ganhou protagonismo nos últimos tempos não há dúvidas. Com o período de confinamento e a vida profissional acontecendo de casa, não faria sentido que ao menos uma parte da composição visual não prezasse pelo conforto. A rotina, no entanto, está se normalizando aos poucos e o conforto ainda será um atributo essencial para a edição visual de muita gente, mas de uma forma alinhada com o que se espera de uma produção de atmosfera profissional, por mais informal que seja o ambiente de trabalho. Unindo o aconchego dos tecidos leves e dos volumes amplificados com a sofisticação inerente à alfaiataria, este movimento se enquadra perfeitamente no equilíbrio entre o desejo de liberdade de movimentos e a polidez contemporânea dos conjuntos femininos. As nuances de modernidade ficam por conta dos detalhes: cores delicadas, que sugerem calma e positividade e que geralmente não são usadas na alfaiataria, truques de styling marcantes, materiais nobres de textura reluzente, assimetria etc.

 

S/S 2021 IV – Bright Yellow

27.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

O amarelo é uma cor que muita gente ainda evita em peças de composição principal do look, ainda preferindo apostar em acessórios, bolsas e sapatos no tom. Mas a cor vem sendo vista em diversas variações já há algumas temporadas. Durante as estações mais amenas, o mostarda costuma aparecer mais e na temporada de calor, os tons mais claros do amarelo é que ganham protagonismo, a exemplo da variação que chamamos de butter e se trata de um movimento para o verão 2020/21. Mas para a próxima temporada primavera/verão (aqui no hemisfério sul, em 2022) tons mais vibrantes do amarelo aparecerão não apenas nos detalhes do look, mas nele todo. Seja em peças únicas, como vestidos e macacões, ou conjuntos inteiros e compostos por mais de três peças, o amarelo mais brilhante chega para sugerir otimismo, esperança e energia para seguir em frente – mensagens mais do que bem-vindas para o nosso período.

 

S/S 2021 report III – Engajamento

26.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Um dos principais papeis da moda é refletir o espírito de seu tempo. Portanto, é muito difícil que uma marca que leve essas funções sociais da moda a sério não adeque sua coleção à atmosfera dos acontecimentos. No hemisfério norte temos alguns eventos políticos (a exemplo das eleições dos Estados Unidos) que definirão muitas coisas importantes dependendo do resultado. Convidar o consumidor a refletir sobre o futuro politico de seu País e do mundo, por consequência, é apenas uma das formas de engajamento que encontramos nos desfiles e apresentações recentes, que se valeram de frases ou palavras de efeito para cumprir o papel. Além da conscientização política, palavras de otimismo também são importantes para o momento de inseguranças que vivemos, afinal, moda também é escapismo e inspiração pelo belo.

 

S/S 2021 report II – A vida à tiracolo

23.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Cada vez mais a nossa vida precisa estar conectada. Com a tecnologia fica quase impossível dissociar a vida pessoal da profissional e com as flexibilizações em relação aos locais de trabalho, horários, dress code etc., essa relação fica cada vez mais estreita. Talvez esse seja um dos motivos para que as bolsas da temporada spring 2021 aparecessem em suas formas mais superlativas. Mudanças climáticas, compromissos surpresa e a possibilidade de emendar o trabalho com o lazer são algumas das situações que pedem maior atenção com o que levamos na bolsa, requerendo, portanto, um modelo que se adapte a essa rotina mais agitada, especialmente quando tivermos total liberdade de sair de casa.

 

S/S 2021 report I – Branco Utilitário

22.10.20 | Moda Semanas de Moda Tendências


 

Quem nos acompanha há algum tempo já sabe que um dos trabalhos do escritório é elaborar relatórios antecipando os movimentos da moda para as próximas estações. É um serviço complexo, que requer bom olhar, sensibilidade, conhecimento de moda e informação sobre assuntos gerais, até para que possamos detectar o movimento e entender porque ele está acontecendo. Durante essa semana e a próxima nós vamos dar uma amostra de como funciona esse trabalho aqui no escritório e vamos fornecer um pequeno dossiê das microtendências que observamos durante esta última semana de moda. Vamos começar com o movimento BRANCO UTILITÁRIO. Quando pensamos em um visual composto apenas de peças brancas geralmente lembramos da alfaiataria de qualidade dos ternos femininos, do caimento impecável que sempre é requerido nos manuais mais antigos de como usar branco dos pés à cabeça e dos looks infalíveis e sofisticados de verão com peças amplas e fluídas. Quando tratamos de itens ligados ao movimento do utilitarismo – que anda tão em alta já há algum tempo mas principalmente agora neste momento pandêmico – é normal que nos venha a cabeça os tons ligados a estas roupas e acessórios que têm esse mood, como os cáquis, verde-oliva, terrosos, mostarda, acinzentados etc. Mas o que vimos nesta última temporada de desfiles é que o utilitário, geralmente de atmosfera mais densa por conta dos detalhes, ganha suavidade e uma dose minimalista com o branco. As roupas versáteis e que podem sofrer modificações através de bolsos, zíperes, botões, fitas, fivelas e que possuem essa aura aventureira e por vezes militarizada avançam alguns degraus na sofisticação com a adição do branco. Já falamos por diversas vezes aqui que as peças que promovem uma junção de performance e conforto ganharão cada vez mais atenção das marcas e dos consumidores por conta do nosso momento atual, portanto, esse movimento se mostra pertinente pelo design e essência, mas também bem-vindo pela beleza e pelo refinamento que o branco proporciona.

 

PFW spring 21 | As análises da segunda parte dos desfiles da semana de moda parisiense

07.10.20 | Moda Semanas de Moda


 

Na segunda parte das nossas análises dos desfiles da Paris Fashion Week, notamos que aconteceram movimentos um pouco mais experimentais do que na primeira leva de apresentações. O clima de celebração e o conforto ainda são aspectos essenciais das coleções que desfilaram na semana de moda de Paris, mas aqui ainda houve um aceno para a sensualidade através do ato de mostrar a pele, seja por recortes, comprimentos mais ousados ou transparência – ao contrário da maioria dos apresentações que propuseram justamente um visual mais protegido. O artesanal apresentado como luxo e os novos jeitos de se editar um visual composto por peças banais foram algumas das apostas das marcas também. Confira:

 

PFW spring 21 | A análise dos primeiros desfiles da semana de moda parisiense

02.10.20 | Semanas de Moda


 

A semana de moda mais importante do circuito tradicional começou, daquela forma que já esperávamos, mais tranquila que o de costume com baixas de nomes importantes, apresentações sem plateias e marcas mostrando suas coleções sem desfiles presenciais. Mesmo assim, a Paris Fashion Week é uma das nossas fontes mais ricas para criação de conteúdo e os poucos desfiles que tivemos até agora já nos dão uma boa direção sobre os rumos que a moda vai tomar. Fizemos um resumo do que já vimos das principais apresentações que aconteceram até agora para você acompanhar os movimentos futuros. Assim como ocorreu em Milão, roupas e acessórios que sugerem conforto, performance, tecnologia e sustentabilidade continuam em alta, bem como o espírito otimista que promove uma certa esperança em relação ao futuro. Tendências marcantes e passageiras e criações conceituais parecem estar fora de questão para o momento, que pede atemporalidade e menos consumo. Veja nossas análises e entenda melhor a atmosfera desta primeira leva de desfiles da semana de moda parisiense.