fall 2021 RTW | Sobrevivência

11.02.21 | Moda moda pra pensar Semanas de Moda


 

As apresentações da temporada fall 2021 RTW começaram e já conseguimos perceber um movimento importante que permeou a essência da maioria das coleções até este momento. Sabemos que estamos em um período delicado em diversos setores da sociedade a nível mundial. Questões ambientais sérias, ascensão de um conservadorismo nocivo e limitante, a iminência de conflitos relevantes, instabilidade econômica, violência e, obviamente, uma pandemia. São diversos cenários pouco otimistas que contribuem, também, para que a moda se ajuste a este visual que sugere a sobrevivência nos mais diversos níveis. Ao que tudo indica, o clima otimista que inúmeros designers propuseram na temporada spring 2021 apresentada no final do ano passado foi colocado em modo de espera, ao menos nessas primeiras apresentações. O visual é pós-apocalíptico. Construções e sobreposições extremas indicam a ideia de se usar tudo o que for preciso e de uma vez. A mensagem inicial pode ser de uma vida nômade, onde é necessário carregar consigo o que for essencial para sobreviver, mas se analisarmos a fundo, a ideia é de segurança – usar o que nos remete a um lugar de conforto para manter a sensação de pertencimento onde quer que você esteja. Para captar esse mood, veja as coleções da Lameire, Y/Project e Wooyoungmi. A sobrevivência explorada aqui também faz alusão aos games, como é o caso da Balenciaga, que inclusive lançou um jogo junto com a coleção. A ideia de um mundo dominado pela tecnologia que pode a qualquer momento controlar os passos da humanidade já foi explorada à exaustão pelo cinema e pela literatura e o cenário catastrófico de Matrix, Exterminador do Futuro, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451 e tantos outros também parece ter servido de referência para as coleções da Vetements, Eytys e Rhude. Já na Myar, o conceito é de ressignificação. Os casacos e os calçados que parecem ter sido feitos de última hora apenas com materiais que estavam ao alcance dão um clima pré-histórico ao visual, mas também levantam questões ambientais – reciclagem, upcycling, otimização para um consumo menor, segunda mão etc. Sobreviver também pode ser interpretado como se resguardar. O conforto das roupas típicas da permanência no lar entra neste movimento e pode ser visto nos shootings da Thakoon e da The Row, de clima seguro, familiar e intimista. De maneira concisa, essa atmosfera engloba roupas com características utilitárias, estampas camufladas, styling que cobre o corpo e sugere proteção, tecidos tecnológicos, mensagens fortes que desafiam ideais retrógrados, estética de gênero fluído e peças “para ficar em casa”. Obviamente a ideia de sobrevivência deste movimento é muito mais abstrata (assim esperamos). Esta concepção representa nossas batalhas e nossos modos de resistir de maneira subjetiva – seja enfrentando, seja se retraindo, não existe certo ou errado quando tratamos de sobrevivência.

 

 

O efeito BOTTEGA

21.01.21 | Get Inspired By Lifestyle Moda moda pra pensar



 

A tradicional casa italiana foi fundada nos anos 60 e quase que instantaneamente se tornou um sucesso de vendas com seus artigos em couro, especialmente por conta da técnica exclusiva de entrelaçamento do material denominada intrecciato. Verdade seja dita, a parte de acessórios sempre foi o carro-chefe da marca. As bolsas e calçados da Bottega são um dos artigos de luxo mais desejados do mundo e, sim, valem cada centavo. As técnicas de manufatura da casa, o primor do material e o design atemporal são alguns dos elementos que alçaram a marca a um patamar ocupado por poucos. Mas por mais que um nome esteja consolidado no mercado, especialmente como autoridade em um determinado produto ou matéria-prima, a necessidade de renovação mais cedo ou mais tarde bate à porta. A reinvenção da Bottega veio com a chegada do estilista britânico Daniel Lee. Com apenas 32 anos, o designer já passou por marcas como Balenciaga, Maison Margiela e sua mais recente atuação foi na Céline da era Phoebe Philo. Com uma bagagem tão importante, foi criada uma expectativa enorme em torno do seu trabalho, que veio acompanhada de um receio justificável de suas criações serem apenas extensões das marcas pelas quais o estilista passou. Mas o que se viu em sua coleção de estreia foi justamente uma identidade própria, pautada por uma elegância silenciosa e um design contemporâneo que surpreendentemente têm total relação com o legado da Bottega.

 


 

Da coleção fall 2018 para a temporada fall 2019, quando houve a estreia de Lee, a diferença é notável. Percebe-se a essência da Bottega, mas também notamos a mão do estilista. Essa harmonia entre a criação e a herança de uma marca não é tão fácil de acontecer e temos visto diversos nomes tradicionais do mercado se perdendo completamente em suas modernizações ou ficando sem um sentido nas suas novas abordagens. Lee trouxe uma narrativa consistente para a Bottega. Abriu a porta de novos tempos para a marca, mas com deferência a sua história. Suas criações têm grande apelo no mercado e passaram a ser expressivamente vistas no street style, além dos desfiles da Bottega hoje serem um dos mais aguardados do circuito. Claro que com o sucesso, vem o infame inspired. As criações de Lee, especialmente os calçados e as bolsas, servem (descaradamente, diga-se de passagem) de “inspiração” para inúmeras marcas ao redor do globo e se tornou fácil encontrar, por exemplo, as sandálias de tiras trançadas e almofadadas, os scarpins de tramas vazadas e os mules com uma imitação desafortunada do famoso intrecciato da marca. Independente disso, é um prazer assistir aos desfiles da Bottega sob o comando de Daniel Lee e perceber que o tradicional pode se juntar ao futuro com dignidade quando diversos fatores são observados. Entre os principais, está o respeito ao trabalho e à identidade criativa do estilista, concedendo liberdade para sua atuação e o entendimento do patrimônio imaterial de uma marca do porte da Bottega.

 

Reformulação extrema – Marcas que estão de olho no poder da Gen Z

02.12.20 | It girl moda pra pensar


 

Muito se tem falado sobre a Geração Z – aquela pós millennials nascida a partir de meados dos anos 90 até a última década – e sobre como é possível alcançá-los em termos de consumo. O que se sabe sobre este grupo é que, diferente da geração anterior, seu poder de adaptação frente às demandas de trabalho é muito maior, já que eles não acreditam em viver apenas de um tipo de profissão – o que se mostra uma vantagem inegável diante da crescente crise de emprego que assola o mundo pós-pandêmico. Além disso, eles encaram assuntos que as gerações anteriores consideram como Tabu de maneira muito natural e sua capacidade de inclusão, senso de equidade e empatia são muito mais aguçados. Como uma geração que nasceu sob forte influência da tecnologia, tudo acontece mais rápido; eles são ativos nas redes sociais e as usam para informação e disseminação de ideias geralmente ligados a dilemas e demandas sociais da atualidade. Eles também não acreditam em perfeição. São bem mais realistas em relação ao futuro, criam e consomem imagens que legitimam essa ideia de imperfeição, questionam e repudiam padrões conservadores e prezam pelo estilo próprio através de história, experiência, consciência ambiental, performance e conforto. Sabendo dessas informações, como é possível promover um apelo às demandas dos GenZers? Vimos nesta última temporada de desfiles que diversos nomes, inclusive alguns bem tradicionais, promoveram uma reformulação radical em suas linhas criativas com um intuito claro de alcançar a geração Z. Mas porque?

 

 

Sabendo das características desse novo consumidor, podemos pensar que o rejuvenescimento da imagem de algumas marcas pode ser mais sobre adaptação diante da mudança do poder econômico para gerações mais jovens. E a mudança é significativa, acredite. Com novos meios de se ganhar dinheiro, imagine quanto uma geração que nasceu conectada é capaz de produzir, sabendo desde sempre sobre a linguagem das redes e seu poder de influência. Não se engane, no final das contas, marcas são empresas e empresas precisam de lucro. Além do poder aquisitivo motivado por novas frentes de trabalho, representadas pelos conteúdos gerados através de redes sociais, temos também o poder de influência. A geração Z consome o que atinge os seus ideais e ninguém melhor do que um próprio GenZ para exercer influência entre os seus. Quando vemos a atriz Zendaya nas primeiras filas dos desfiles ou a cantora Billie Eilish com marcas importantes dos pés à cabeça nos tapetes vermelhos de grandes premiações, não é por acaso. Essas são duas das representantes mais expressivas da GenZ, das suas prerrogativas e da imagem que ela deseja consumir.

 

 

 

A combinação entre poder aquisitivo alto e grande capacidade de influência é imbatível e é justamente por essa junção que a GenZ vem recebendo as atenções de marcas tradicionais da indústria. E não pense que isso é ruim. Essa adaptação ainda conta com certas vantagens para a sociedade. Sendo essa uma geração ligada a problemas sociais, que busca enaltecer a diversidade e quer experiências ao invés do consumo vazio, grandes nomes do mercado se forçam a buscar soluções mais sustentáveis paras seus produtos, a abraçar corpos e mentes diversos para seus desfiles, campanhas, cargos etc., a produzir roupas corretas, que não tenham origem no trabalho escravo ou análogo à escravidão, por exemplo, que não sejam produzidas com matéria-prima que acirra o desmatamento e por aí vai. A adaptação ocorre em todas as áreas. É preciso seguir em frente e reconhecer a importância de gerações mais jovens em especial esta, que chega para desafiar velhos códigos, quebrar a barreira do “comum” e, claro, consumir o novo luxo – muito mais engajado e alinhado com as demandas contemporâneas da sociedade.

A alegria do vestir como guia para o visual pós-pandêmico

13.11.20 | Lifestyle Moda moda pra pensar


 

Estivemos isolados por muito tempo e, na verdade, os dias de confinamento social não só não foram totalmente suprimidos como ainda podem voltar a ser uma realidade em tempo integral, a exemplo do que aconteceu na Europa. Com tanto tempo em casa, o vestir se tornou algo muito atrelado à necessidade de conforto – físico e mental. Com exceção de alguma atenção para a parte de cima do corpo, com acessórios ou peças mais elaboradas e um talvez um mínimo de maquiagem para aparições um pouco mais cuidadosas nos dias de reuniões virtuais, a verdade é que o look do dia não fazia mais parte das nossas prioridades e se tornou simplesmente uma obrigação diária que não nos exigia muita reflexão frente a preocupações muito maiores que vieram com o advento da pandemia. No entanto, a vida inevitavelmente se adapta e volta ao normal, mesmo que esse normal não seja parecido com o que estávamos acostumados. Sair do acolhimento do lar em um momento tão delicado pode, sim, ser uma experiência um tanto quanto desafiadora e isso reflete na nossa comunicação visual, ou seja, nosso estado de espírito se manifesta, também, na forma como nos vestimos. As coleções da temporada spring 2021 mostram que o ato de se vestir não precisa se tornar mais um obstáculo e tampouco deve sacrificar o conforto.

 

 

 

 

É certo que diante de uma profusão de conjuntos de moletom usados de forma incansável, muitas pessoas querem voltar a se arrumar e temos movimentos nesse sentido também. Exageros, abundância e design efusivo para quem quer ser notado ao colocar os pés na rua e, na outra ponta, o conforto sofisticado para quem não abre mão do estilo mas ainda quer sentir a segurança que só um suéter de lã feito a mão é capaz de proporcionar. Essa mistura entre acolhimento e requinte formata o movimento da alegria de voltar a se vestir. Muitas marcas se utilizaram desse combo em suas novas coleções e vimos as peças que remetem ao visual confortável para se ficar em casa aliadas a outras mais nobres, construindo um novo estilo hi-low. As características principais desse movimento implicam em modelagens desprendidas, tecidos leves, porém distintos, styling sem grandes intervenções, mas com detalhes suficientes que demonstrem informação de moda, texturas simples misturadas com tramas mais elaboradas, o casual encontrando o refinamento.

 

 

 

 

Nos novos tempos, o ato de se vestir deve ser, acima de tudo, leve. A proposta aqui é vestir-se para se sentir bem, sem distinções entre o que é a roupa de sair e a de ficar em casa.

 

 

Por trás do estilo de KAMALA HARRIS

12.11.20 | Get Inspired By Lifestyle Moda moda pra pensar


 

Kamala Harris é advogada, tem um currículo invejável, possui uma vida pública ilibada e recentemente foi eleita vice-presidente dos Estados Unidos. A primeira vice-presidente mulher e negra na história do País. Mas os motivos para a admirarmos não param por aí. Observando as aparições e os discursos potentes de Harris, podemos perceber também que ela desafia os velhos códigos do que se espera de uma imagem formal. Quando olhamos as mulheres do universo da política e dos cargos públicos, nos deparamos com figuras engessadas, tradicionais ao extremo e sem muita graça. Imagens assim passam uma sensação de distância e é justamente isso que Harris parece querer mudar. Afinal, servidores públicos, como o próprio nome sugere, estão em seus cargos para servir aos interesses do povo, portanto, a ideia de uma imagem fria e inacessível não parece ser coerente com o trabalho.

 

 

 

Claro que certos códigos formais ainda são levados em conta nos momentos públicos. Afinal, estamos tratando de um dos cargos de maior importância do mundo. Mas para Harris, importante não significa inalcançável. A imagem da vice-presidente, com sua alfaiataria simples, peças de cunho mais casual, como jaquetas e calças jeans, parkas utilitárias, camisas amplas e um bom e velho Converse fechando a produção junto com um sorriso acolhedor, nos passa uma sensação confortável de alcance e de familiaridade. E, se as pessoas se identificam de alguma forma com uma figura pública, com uma marca, com uma empresa etc., as chances de sucesso e aprovação são maiores. Existe também o fato do governo anterior. Sem entrar no mérito de questões políticas, o republicano Donald Trump junto com a primeira-dama Melania não faziam questão de ser muito simpáticos. A imagem do casal Trump era gélida, desprovida de carisma e por vezes polêmica. Harris, por sua vez, sabe do poder de um visual bem contruído, afinal roupa é também comunicação. A aparência da vice-presidente eleita emana a mensagem de novos tempos. Tempos que se distanciam dos preceitos do governo anterior e servem ao interesse da maioria.

 

 

 

A figura de Harris com sua casualidade sofisticada tem o poder de causar aproximação entre o povo e a política e de estreitar esse laço que por muito tempo se manteve desigual e afastado. Vice-presidente de uma das maiores potências mundiais, sim, mas com os pés no chão.

 

SPRING 21 – A água é a inspiração principal da temporada

16.10.20 | Moda moda pra pensar Semanas de Moda Tendências


 

Quietude, liberdade, tranquilidade, renascimento, renovação e purificação. Com certeza estas são algumas das palavras que associamos às águas, especialmente a chuva e o mar. São sensações e sentimentos muito bem-vindos para o nosso atual momento e a moda, como captadora do espírito dos tempos, não poderia ter fornecido movimento mais certeiro que este. A água, seja através de suas lendas, cores, ecossistema, economia ou emoções serviu de referência para diversas coleções nesta temporada spring 2021 que sugerem, acima de tudo, renovação das nossas esperanças e renascimento através de momentos mais dolorosos. Tudo vai passar, mas nada será como antes é a mensagem principal do movimento, que traz consigo diversas microtendências que analisamos a seguir.

 


A quarentena e como mudamos nossa relação com os acessórios

29.07.20 | acessórios Get Inspired By moda pra pensar Styling


 

Podemos estar em um momento de uma pouco mais de flexibilidade do isolamento social, mas a verdade é que os meses de quarentena mudaram nossas vidas para sempre. O home office, que já era uma realidade em muitas empresas, passou a fazer parte da rotina das pessoas de modo muito mais amplo e com certeza será aderido como forma comum de trabalho por diversas empresas. Um dos pontos que podemos destacar com a vida profissional sendo tocada das nossas casas é a atenção para a parte de cima do corpo, seja através de roupas com mais detalhes, maquiagem e cabelo um pouco mais elaborados e, claro, acessórios. Nós que trabalhamos com moda e estilo sempre falamos a respeito do efeito transformador que os acessórios podem promover no look e agora, mais do que nunca, eles ganham o protagonismo do visual, especialmente quando queremos manter a casualidade das produções montadas para ficar em casa. Reuniões feitas através de uma tela de computador, tablet ou celular pedem que nos voltemos com maior cuidado para o colo e o rosto e mesmo nos dias que você estava de moletom e chinelo, temos certeza que ao menos um brinco ou um colar mais sofisticado fizeram parte da sua edição de look para aquele momento de trabalho. O que estamos propondo aqui é uma reflexão sobre como os acessórios são importantes e podem ser capazes de otimizar o seu armário. A verdade é que muitas vezes nem precisaríamos entupir nossos armários com roupas se soubéssemos de fato como usar os acessórios a nosso favor.

 

 

Colares e brincos ganham o protagonismo nesse momento justamente pelos motivos que elencamos acima. E certamente eles vão continuar a fazer parte da sua rotina de montagem de looks mesmo após a vida voltar ao normal. Acessórios são democráticos, além de tudo. Seja qual for seu estilo, você terá um acessório mais importante e imponente para chamar de seu. Bases compostas de peças muito simples também funcionam bem com acessórios mais robustos, que trazem um efeito fashionista ao visual. Nós esperamos que essa quarentena tenha servido, dentre outras coisas, para você repensar sua relação com seus acessórios e ressignificar o que esses itens podem representar no seu armário. Afinal, tudo que é usado para acrescentar, seja na relação com seu guarda-roupas (que a longo prazo pode significar uma nova relação com seu dinheiro), ou para seu autoconhecimento (saber o que funciona para seu visual, o que faz você se sentir bem, bonita e segura etc.) vale para termos uma relação mais saudável com a moda. Acessório não é futilidade! Faz parte da sua mensagem pessoal, da imagem que você transmite para o mundo e dos códigos que você quer passar adiante.