Pela segunda vez consecutiva a italiana Prada encabeça a lista das marcas mais importantes do mundo segundo a Lyst. O crescimento comercial milionário, os números relativos às buscas e o engajamento nas redes sociais só corroboram com esse fato. Miuccia é o momento. Mas porque a Prada é tão hot? Desde que Miuccia assumiu a marca nos anos 70, a Prada se tornou referência de um luxo inquieto. A estética da marca é reconhecida por transformar itens considerados clássicos e dentro dos clichês antiquados de elegância em algo que soa quase estranho aos olhos. O tradicional pelas mãos de Miuccia se envereda por um caminho visual um pouco mais disruptivo, mas não tão dramático. A marca, afinal, não é reconhecida por escapismos mirabolantes, tampouco por seguir uma cartilha de tendências, mas sim pela personalidade. O chic da Prada é torto, cheio de singularidades e de expressão subjetiva.
A subversão estética da Prada não é tão evidente quanto a que vemos em marcas mais contemporâneas, como Acne Studios ou Vaquera, por exemplo. Aqui o statement é dado silenciosamente, mas é impossível ignorá-lo. Se está na passarela da Prada, melhor prestar atenção. A revolução visual da marca vem muito mais como um estado de espírito do que em formatos preestabelecidos de se fazer um circo pegar fogo. Conformismo não faz parte de sua natureza e é assim que sua moda se torna inquieta. Nos anos 80, no auge do movimento yuppie quando as mulheres no mercado de trabalho se vestiam de uma maneira muito formal e seus acessórios acompanhavam essa narrativa, Miuccia criou uma mochila feita em nylon (material até então estranho às marcas de luxo) que ia na contramão de todo esse visual mais clássico e engessado que a essência de Miuccia repudia com veemência. O mesmo material passou a ser usado em roupas nas coleções dos anos 90 e a Prada decretou um novo conceito de luxo que, segundo Miuccia, poderia ser abstrato. As estampas que fogem da obviedade, as cores que ninguém quer usar, os materiais que são impensáveis para uma marca de luxo. Tudo isso contribuiu para a formação do universo “ugly chic” constituído por Miuccia e que se entrelaça muito bem com as expressões de estilo que vemos hoje em gerações mais novas.
Singularidade em prol da criatividade, clássicos modernos, o twist que vem dos detalhes. No mercado de moda que acompanha esses movimentos comportamentais e visuais, a Prada tem o que é necessário para liderar. A marca se destaca por se distanciar. Enquanto o sexy lidera os contextos visuais de diversas coleções desde a temporada spring 22, a Prada traça o caminho inverso com seus comprimentos midi, suas regatas minimalistas, sua alfaiataria rigorosa e com várias outras distinções que não seguem qualquer relatório de tendência. E isso ocorre desde os primórdios do reinado de Miuccia. Ao gerenciar de maneira tão inteligente os paradoxos do que é considerado bom-gosto, ou do que é feio, transportando essas ideias para um lugar de subjetividade, a Prada constinua sendo relevante por sempre conseguir incitar a novidade, seja em um design, seja em um styling, seja em um ideal.
Mas não é só a estética que interage com movimentos sociais contemporâneos que fazem a Prada ser o que é. Ações de marketing direcionadas e inteligentes, coleções especiais, o flerte com as artes e parcerias certeiras colocam a marca cada vez mais em evidência:
– desde 2015 estabelecida em um antigo complexo industrial, a Fondazione Prada promove exposições de arte contemporânea e é uma das maiores instituições de arte privadas do mundo;
– a criação de 36 lojas pop-up em 2018 alavancou as vendas do grupo e colocou a marca de volta ao radar dos consumidores;
– coleções especiais são direcionadas a um público e a um momento específico, como a “Memories of Beauty” lançada no começo de 2023 e que celebra o ano-novo chinês e a “Parallel Harmonies” dedicada ao Ramadan, período do calendário islâmico onde os muçulmanos praticam uma purificação intensa através do jejum;
– no primeiro desfile pós-pandêmico que ocorreu na temporada spring 22, a marca realizou uma apresentação simultânea em Milão e Shangai representando um senso de comunidade e união, além, obviamente, de focar no exponencial crescimento do mercado de luxo na China que renasceu sobremaneira conforme as politicas de isolamento social foram sendo afrouxadas;
– sem ignorar o fenômeno mundial que é o K-pop, a Prada se associa a nomes influentes do gênero que mobilizam um engajamento de números astronômicos à marca.
Patrizio Bertelli, diretor executivo da marca e marido de Miuccia, fez uma declaração no passado que pode explicar o sucesso da Prada atualmente: “Estamos sempre empenhados em adequar o grupo à rápida evolução da sociedade e para interpretar o espírito das novas gerações sem perder de vista as nossas raízes”. E é justamente essa construção de futuro com pilares do passado que torna a Prada a maior marca da atualidade.
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