O beachwear é trazido para o contexto urbano em duas manifestações distintas e igualmente belas nas passarelas de Isabel Marant e Hermes. Na primeira, a conhecida estética boho chic da marca ganha contornos esportivos por meio das calças cargo, das parkas volumosas e dos macacões e shorts curtíssimos com fortes características utilitárias. A sensualidade despretensiosa de Marant se expõe através de leves vestidos em renda que reforçam seu DNA praiano cool e nas peças mais ajustadas e de textura metalizada que promovem um toque glam à coleção. Na sofisticada Hermés, a praia é trazida para a cidade de forma mais adulta e polida. Tops que remetem aos biquínis são combinados com saias mídi em couro texturizado, seguidos de ótimos conjuntos em linho, seda e algodão. Também se percebe uma nuance esportiva, mas de moda mais discreto e sofisticado. Sofisticação essa conseguida principalmente pela paleta de cores da coleção que transita entre vermelhos fechados, olivas, cinzas e brancos opacos.
Uma outra proposta do look de verão é apresentada nas coleções de Schiaparelli e McQueen. Estrutura, modernidade e exuberância são as palavras de ordem e não poderia ser diferente tendo em vista a própria trajetória das marcas. Na primeira, o surrealismo é trazido para as representações das lagostas desenhadas por Salvador Dalí tanto em texturas tridimensionais aplicadas em saias, blusas e acessórios, quanto em estampas superlativas que enaltecem um verão repleto de ostentação. As referências artísticas podem não ser tão evidentes na McQueen, mas a excentricidade aqui ganha vida pela estrutura, pelos metalizados e pela atmosfera que faz alusão a uma espécie de guerreira moderna através de designs que remetem a armaduras.
Na outra mão, temos a estética que enaltece a suavidade, uma ideia muito propagada nas outras semanas de moda. Surpreendentemente, a Louis Vuitton – que costuma trabalhar com camadas mais elaboradas, contextos experimentais e styling dramático – veio menos barulhenta, mas ainda assim contemporânea. Peças estruturadas e esportivas foram misturadas com outras mais fluídas e tradicionais criando um equilíbrio interessante entre o urbano e o bucólico. Na Zimmermann, que possui a delicadeza boho em seu DNA, a modernidade se fez presente em saias de couro, calças jeans amplas e alfaiataria desprendida, tudo em uma paleta mais opaca e com a adição de itens altamente românticos que levam a marca para um lugar mais atual.
Na Chanel, a estilista Virginie Viard estabelece seu compromisso com as roupas descomplicadas, porém extremamente chics. As texturas densas aplicadas em formas amplificadas e os looks finalizados com chinelos que lembram nossas amadas Havaianas criam essa atmosfera “easy chic” que é parte do DNA Chanel. Ótimos jeans, vestidos esvoaçantes, camisas listradas e a acessorização precisa completam a proposta.
O conceito de chic sem esforço ganha pitadas esportivas e modernas na coleção da Coperni, que adiciona detalhes insuitados como linhas diagonais, babados e peças com inspiração no universo da natação para reforçar a sua proposta do novo urbano. A Loewe, marca que também é conhecida por exuberâncias e experimentações, veio com uma coleção mais sossegada com ótimas peças em couro e calças de cintura altíssimas que desenham a silhueta de uma forma interessante. Com menos barulho e mais sofisticação também é a coleção de Victoria Beckham, que traz clássicos da alfaiataria em modelagens mais ajustadas, macacões de utilitarismo polido e bodys em tricô que ficam no meio termo entre a tradição e a inovação.
Seguindo a linha mais discreta também temos a Valentino, que continuou seu storytellin da coleção couture e trouxe vestidos lisos, camisas e calças jeans como uma reinvenção e atualização do luxo. O toque mágico fica por conta das peças inteiramente texturizadas e nas flores tridimensionais que formavam calças e vestidos.
Stella McCartney e Miu Miu têm muita coisa em comum nessa temporada. Aliás, a Miu Miu parece ter inspirado a estética de muitas marcas, já que suas narrativas visuais podem ser reconhecidas em algumas coleções apresentadas não só em Paris. A ousadia das calcinhas usadas como peça de composição principal do look, os delicados bordados aplicados em itens fluídos, o questionamento à estereotipização da feminilidade, a subjetividade do belo. Em ambas as coleções se nota essa anarquia estética, mas cada uma a sua maneira.
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